Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A fé que move multidões para a Penha

17/04/2023

Notícias

Vila Velha (ES) – São mais de quatro séculos de tradição e muita fé. Todo ano, os fiéis vêm de diferentes regiões do Estado do Espírito Santo e de outros Estados para subir a montanha da fé, no penhasco onde está a imagem de Nossa Senhora da Penha. O dia de céu azul, sol forte, convidou os devotos a saírem de suas casas para visitarem a Mãe das Alegrias.

Na verdade, o dia da Padroeira do Estado do Espírito Santo começa à meia-noite com a primeira Missa e, assim, durante toda a madrugada os devotos sobem e descem as escadarias para as missas na capela do Convento:  0h, 1h, 2h, 3h, 4h, 5h, 6h. Com o dia clareando, começam as celebrações no Campinho, como a Missa do Clero e dos Religiosos, sob a coordenação da Conferência dos Religiosos do Brasil e do Seminário Diocesano Nossa Senhora da Penha da Arquidiocese de Vitória, a Missa das Pastorais Sociais, além das Missas às 9 e meio-dia na capela.

A homenagem cultural e religiosa fica por conta da Romaria das Bandas de Congo, que começa a subir o Morro às 8 horas e são recebidas e abençoadas pelo guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck. Enquanto isso, em grupos chegavam os representantes das Pastorais Sociais para a sua Missa, que começou às 10 horas.

Mas os peregrinos não vêm só para as celebrações no Santuário da Graça e do Perdão. Para uma grande maioria, basta se encontrar com a Mãezinha da Penha. Não se pode esquecer que o Convento no alto do Morro também é um dos principais pontos turísticos de Vila Velha e, muitos aproveitam o feriado para conhecer o local. A partir do meio-dia, as atividades se concentram no Parque da Prainha, mas o povo continuou sua peregrinação ao Convento.

A família de Tainara Soares de Oliveira veio de Guarapari para pagar promessa.

A família de Tainara Soares de Oliveira veio de Guarapari, no litoral capixaba, para agradecer a Nossa Senhora da Penha por graça alcançada durante o nascimento de sua filha Roberta. “Durante a pandemia estava internada, com o psicológico da gente abalado, e muito preocupados porque estava passando do tempo de minha filha nascer. Então, minha mãe, Dona Naide, fez uma promessa a Nossa Senhora da Penha para que ela nascesse sem problemas. Deu tudo certo. Então, hoje viemos aos pés de Nossa Senhora agradecer”, contou Tainara, que voltou com a família ao Convento pela primeira vez depois da pandemia.

Angela (à direita) e Priscila: duas missas em agradecimento à Virgem da Penha

Natural de Belo Horizonte, mas morando em Vila Velha, a jornalista Angela do Bem veio com sua amiga Priscila Bittencourt para agradecer a Nossa Senhora pelas bênçãos em sua vida. E acabaram participando de duas Missas, às 7 e às 8h. “Vim agradecer porque são só bênçãos na minha vida. Nossa Senhora da Penha é graça na minha vida, diariamente, porque sou devota e procuro ter essa intimidade com ela. Então vim mais para agradecer do que pedir, porque quando eu agradeço, as bênçãos já chegam naturalmente na minha vida, na vida da minha família, na vida da minha amiga que veio comigo”, disse emocionada. Segundo ela, desde sábado estavam tentando, mas não conseguiram estacionar na região. “Perdemos a Romaria das Mulheres mas persistimos e estamos aqui hoje”, festejou.

Angela é apresentadora de um programa na Tv Capixaba e acha que a Festa da Penha “voltou com tudo”. “Eu vim no ano passado e se percebia que as pessoas ainda estavam com medo da pandemia. Muitos usavam máscaras. Neste ano, ao contrário, as pessoas estão começando a ver que não precisa ter esse medo todo. Pode-se levar uma vida normal com os cuidados necessários, especialmente lavando as mãos. Não podemos ficar escravos disso, porque Deus quer que a gente viva. É importante permanecer na fé”, acredita. Angela contou que sua alegria ficou maior ainda porque viu pela primeira vez as bandas de Congo. “Que coisa mais linda a apresentação das bandas do Congo. Não tinha visto ainda. Que bom essa abertura da Festa da Penha para esta cultura capixaba”, elogiou.

Alcaí, Claudineia, Raismen e Yago vieram conhecer o Convento

Angela participou ontem da Remaria. “Fomos abençoados pelo Frei Pedro Engel”, disse. “Ele já remava comigo na praia. Ele ia todo bonitinho de bermuda e camisa de manga comprida para remar, mas agora está se poupando por causa de um ferimento no braço”, contou. Tanto Angela como Priscila são jornalistas e hoje trabalham com mídias sociais também. “Faz um mês que estou na Comunicação da Paróquia Bom Pastor”, contou Priscila.

O feriado estadual também traz muitos turistas para o Convento. A família Galvão, Alçair e Claudinéia, que são da Igreja Luterana, e o jovem casal Raismen Galvão e Yago Leonam, vieram do Pará para um casamento em Vila Velha e aproveitaram para conhecer o maior o símbolo turístico do Espírito Santo.

CONGUISTAS ANIMAM FESTA DA PENHA

O dia da Padroeira apenas tinha começado e os tambores já estavam rufando no portão de entrada do Convento da Penha. Mais de 20 bandas de Congo do Estado do Espírito Santo vieram de longe ou de perto para subir o monte sagrado e homenagear a Mãe da Penha.

O congo é uma manifestação cultural e musical tipicamente capixaba. E não poderia faltar na Festa de Nossa Senhora da Penha. Da Banda de Congo participam homens, mulheres e crianças, utilizando uma série de instrumentos, estandartes e indumentárias. Elas têm seu ritmo marcado por tambores e a casaca.

As centenas de participantes foram recebidas aos pés do Convento pelo guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck, que rezou com eles, deu a bênção e os aspergiu.

“Bem-vindos ao Convento da Penha neste dia tão especial em que nós celebramos a padroeira do Estado do Espírito Santo. Temos a alegria de receber aqui no Campinho mais de 20 bandas de Congo de todo o nosso Estado e região metropolitana. O Congo é a expressão da cultura e do povo capixaba. A Festa da Penha também quer ser expressão dessa cultura e resgatar a religiosidade àquilo que de mais precioso tem no coração do capixaba, que é sobretudo a música, o batuque, a dança. Que Deus abençoe a todos! Vocês são bem-vindos entre nós. Nossa Senhora está em festa ao receber vocês aqui no Convento da Penha neste dia tão especial e abençoado para todos nós”, celebrou o guardião.

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MISSA DAS PASTORAIS SOCIAIS

O Pe. Kelder José Figueira Brandão, coordenador do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, presidiu a Celebração Eucarística das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Vitória nesta segunda-feira, 17 de abril, às 10 horas, na Festa de Nossa Senhora da Penha.

“A devoção a Nossa Senhora da Penha é uma dimensão importante de nossa fé que devemos cultivar com muito amor e zelo, aqui em solo capixaba. A nossa devida reverência à Mãe de Deus fortalece a espiritualidade maternal do cuidado, do afeto, da empatia, da solidariedade e do respeito à vida em toda a sua diversidade”, disse.

Segundo ele, é essa mesma espiritualidade que enche de coragem o Espírito de quem ergue os braços e a voz para enfrentar as instituições públicas e os políticos que, ao invés de cumprirem com suas responsabilidades legais e morais, cuidando da vida e da dignidade principalmente dos empobrecidos, “criam leis e promovem ações que humilham e excluem ainda mais os pobres e as minorias sociais, como a lei infame de que têm nojo dos pobres, que impede os catadores de materiais recicláveis circularem com seus carrinhos em regiões do município de Vila Velha”.

“Após proibir a circulação dos catadores, a ação da prefeitura de Vila Velha se voltou contra os pescadores artesanais. Em pleno Oitavário de Nossa Senhora da Penha, as barracas e bancas, de onde os pescadores artesanais retiravam seu sustento, foram destruídos na penumbra da noite. E quem serão os próximos?”, questionou.

Segundo o padre, as mesmas discriminações e criminalizações acontecem em outros municípios da Grande Vitória. “Corroborando à falta de humanidade das autoridades púbicas, acompanhamos diariamente as ações e as narrativas belicosas sobre a Segurança Pública no Espírito Santo, que só servem para alimentar o medo e o preconceito contra as pessoas que moram nas periferias. A periferia pede PAZ E PÃO e o Estado, em vez de lhe dar restaurante popular, cozinhas solidárias e bancos de alimentos, lhe dá balas e armas”, denunciou.

E foi mais longe: “Os recentes ataques às escolas e creches com assassinato a sangue frio de professores e alunos, inclusive em nosso Estado, e criancinhas sendo mortas a machadas não é obra do acaso ou um sinal dos tempos, mas é fruto do ódio, do culto às armas e à morte e do desrespeito à vida, tecida a muitas mãos, nos últimos anos em nosso país, inclusive pelas mais altas autoridades políticas e grandes celebridades”, lamentou.

“Não é investindo no armamento pesado da polícia, vendendo armas para policiais aposentados ou permitindo que o medo tome conta da população e do ambiente escolar, que vamos impedir a onda crescente de violência e ódio nas escolas, mas é debatendo coletivamente, ouvindo todos os segmentos sociais, principalmente os profissionais da educação, os movimentos sociais e os diversos coletivos que interagem com as juventudes, que poderemos vislumbrar um tempo diferente em nosso Estado”, indicou.

Segundo ele, cuidar do povo empobrecido é dever dos governantes. “A liturgia da Festa de Nossa Senhora da Penha se dá em torno do cuidado que Deus tem com o seu povo, principalmente com os pobres”, completou.

MISSA DOS RELIGIOSOS

Os ministros ordenados, religiosos, as religiosas, seminaristas e diáconos têm um momento especial para se reunirem diante da Virgem da Penha. Neste dia da Padroeira, Pe. Rafael Lima Coelho, da Paróquia Santa Terezinha, presidiu a Santa Missa.

Falando sobre o Ano Vocacional que a Igreja do Brasil celebra e que levou à Festa da Penha escolher o tema “Com Maria, chamados a servir”, Pe. Rafael disse que é preciso voltarmos a algo que se perdeu na dimensão eclesial: a cultura vocacional. “Hoje, parece que perdemos um pouco isso. Hoje até rezamos pelas vocações sacerdotais e religiosas, mas nas casas e nas famílias dos outros porque já predeterminamos o que nossos filhos e filhas devem ser”, disse.

“Meu irmão e minha irmã, vivemos um tempo difícil, um tempo que carece de referenciais, um tempo que até visualizamos os sinais do sagrado no meio de nós, mas que já não ajudam fazer uma leitura da santidade de Deus. E muitas das vezes são apenas símbolos porque perdemos a cultura religiosa, estamos perdendo a cultura vocacional”, lamentou.

“É preciso que, ao olharmos para Nossa Senhora da Penha, reconheçamos que a vida pode significar muito mais do que aquilo que já realizamos. Por isso, vocação significa chamado. O verbo vocare em latim, chamamento, exige de todos nós uma resposta concreta. Hoje nós somos chamados a dar a nossa resposta”, pediu.

ROMARIA DOS CICLISTAS

Em mais uma demonstração de fé em Nossa Senhora da Penha, três mil ciclistas realizaram a última Romaria da Festa da Penha 2023. A Romaria dos Ciclistas partiu da Praça Sebastião Cibien, em Cobilândia, e seguiu pela Av. João Francisco Gonçalves; Av. Carlos Lindemberg; Av. Jerônimo Monteiro; Av. Champagnat; Rua Antônio Ataíde; até chegar na Prainha. Foram 8 km pedalando atrás do carro com a imagem de Nossa Senhora da Penha.

A manhã de devoção à Virgem da Penha foi intensa e seguirá até fecharem os portões da entrada principal. Na Prainha, contudo, depois da Missa de Encerramento, Elba Ramalho e Pe. Anderson Gomes prestam a última homenagem a Nossa Senhora.


Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo