A etiqueta de um banquete sem sabor
28/08/2015
Frei Gustavo Medella
O banquete está posto. Comidas e bebidas finas, pratos, copos, talheres e guardanapos de primeira, lugares marcados, os convivas à mesa. Todo mundo vestido a rigor, cabelos bem penteados, joias caras e perfumes importados. Impecável! No entanto, em vez de apreciarem a excelente culinária ou as companhias das quais desfrutam, os convidados se ocupam em ficar reparando possíveis deslizes que um ou outro pudesse cometer em relação às regras de etiqueta. Por este motivo, apesar da aparente euforia, o clima que predomina é o de tensão, pois naquela disputa tácita ninguém deseja ser classificado como “brega”, sem classe, mal educado. As regras que deveriam servir para tornar mais agradável e harmonioso o convívio à mesa acabam aprisionando os comensais, tirando-lhes a espontaneidade e a satisfação de estarem juntos.
Estes convidados pouco livres podem ser a representação dos fariseus do tempo de Jesus (Cf. Mc 7,1-4) e servem de alerta para nós, católicos da atualidade. Corremos o risco de nos isolar num legalismo estéril, colocando, entre Jesus Cristo e as pessoas, barreiras quase intransponíveis de normas e preceitos a serem rigorosamente cumpridos. É a famosa “alfândega pastoral” sobre a qual o Papa Francisco reiteradamente nos chama a atenção.
Em vez destas preocupações externas, o que Deus espera de nós é uma atenção amorosa e dedicada ao coração das pessoas, pois ali é o lugar onde ocorrem as verdadeiras mudanças, a autêntica conversão. Em vez de julgar, acolher; no lugar de apontar o dedo, abraçar. Aí se encontra o campo aberto para uma Igreja serva e samaritana, “Igreja hospital de campanha”, diante de tantos feridos que vêm ao nosso encontro. São corações cheios de mágoa, ódio, desencanto e tristeza, de onde podem emanar grandes males (Mc 7,21-22), mas que anseiam em ser transformados.
No banquete da vida, vamos nos ater no sabor da existência, na convivência com aqueles a quem Deus chama, sem conferir às regras o status de algemas que nos aprisionam e nos distanciam das maravilhas que o Senhor nos oferece.