A dor e a delícia de ser gota e semente
11/07/2014
Em tempo de crise nas águas, de excesso de chuvas no Sul e falta de chuva em São Paulo, de risco no abastecimento da maior cidade brasileira, a Primeira Leitura e o Salmo deste 15º Domingo do Tempo Comum adquirem sentido especial. A água da chuva nunca vem em vão… Cada gota do precioso líquido caído do céu cumpre seu desígnio de fecundar o chão, de dar força à semente, de retribuir o verde às folhas. A Palavra de Deus, diz o profeta Isaías, é como esta “chuva criadeira” – para usar a expressão da poetisa Cora Coralina – que abre caminhos para a semente germinar, que dá a ela força para romper a escuridão e a secura do subterrâneo.
Assim pode e deve agir a Palavra no coração humano: como água generosa e gratuita que penetra profundo e faz a vida germinar. E quem sente no coração a presença fecunda da Palavra não demora muito para notar que a chuva descrita pelo profeta pode ser ilustração da vida de cada ser humano que se apaixona por Cristo, Palavra encarnada do Pai. Mesmo pequena, passageira e precária, qual minúscula gota, cada existência humana tem o precioso dom de trazer vida, de levar adiante a história, de doar-se em gestos, escolhas e atitudes que transformem o mundo para melhor. Em companhia de Jesus, mesmo frágeis e falíveis, minúsculos e inconsistentes, somos convidados a provar – agora parafraseando Caetano Veloso – da dor e da delícia de sermos gota e semente.
Frei Gustavo Medella