Destaques de Frei Moser nesta semana do Sínodo
13/10/2015
FREI ANTÔNIO MOSER
Depois de uma semana de Sínodo já podemos ressaltar alguns pontos.
Primeiro: Sob todos os pontos de vista se percebe um espírito fraterno simplesmente extraordinário. O que observei em outro “eco” anterior, vai se confirmando cada dia mais. É impressionante como Cardeais e bispos se misturam com os 22 assessores. Parecem velhos conhecidos. Isso não só na hora do café, como também nos círculos compostos por cerca de 20 pessoas cada um. Nós simples experts tomamos a palavra quando e como queremos. Fazemos moções, que naturalmente são debatidas. O mesmo clima se percebe também nas reuniões dos que estão encarregados das sínteses. Este é o meu caso. Muita tranquilidade, muita liberdade. Os que já participaram de outros Sínodos dizem que nunca houve clima tão democrático. E não se pode esquecer que aqui estão presentes representantes das mais diversas culturas e situações sócio-políticas. Até de Casaquistão há um bispo. E como é sabido os ritos orientais não são apresentam apenas originalidades litúrgicas: trazem consigo concepções muito diferentes. Aliás, para mim é muito significativa a frase de que a luz vem do Oriente. De lá vieram as grandes figuras bíblicas e mesmo personagens que marcaram a história recente. Basta pensar em Teresa de Calcutá e Gandhi.
Neste mesmo contexto é preciso ressaltar a figura do Papa. Está sempre presente nas “Congregações” gerais. Chega e sai discretamente. Quando toma a palavra no início de alguma sessão é simples, direto e preciso. Assim: não vamos mudar o espírito do texto básico, mas enriquecê-lo. Ponto. Mas o que mais impressionou no outro dia foi que ao subir os três lances de escada, quem ia na minha frente, no meio de todo mundo: o Francisco. Nada de guarda-costas. De vez em quando, a gente vê ele falando com alguém nem sempre pessoa de destaque, com a maior sem cerimônia.
Segunda observação, sobre o quadro que vai se delineando. O escândalo do Monsenhor, simplesmente não foi comentado. Foi desligado e justamente da Doutrina da fé, e ponto. Também vai se estabelecendo um acordo: trabalhar primeiro os fundamentos, no sentido do levantamento das principais questões; em seguida o discernimento; só depois as conclusões pastorais. Ou seja: claro que aos poucos nas muitas, embora curtas intervenções de 3 minutos, se percebe a presença “daqueles problemas” tão badalados. Percebe-se uma unanimidade em relação à “ideologia de gênero” como uma ameaça não só à família, mas à própria sociedade. Claro que ninguém é cem por cento masculino ou feminino, mas a maneira como a ideologia funciona é de fato arrasadora. Não há o que defender. Se é verdade que em cada heresia há algo de verdadeiro, também é verdade que há heresias que simplesmente não abrem nenhum espaço para a verdade de que Deus nos criou macho e fêmea, próximos, mas distintos.
Outro tema esperado é o da recepção dos sacramentos: Aos poucos vai ficando claro que há uma vontade geral de acolhida aos que se identificam com a Igreja e que se encontram em uniões estáveis. Mas o assunto só vai ser melhor delineado na terceira parte. Só houve um bispo que abriu o verbo contra o moralismo, sustentando que o povo já formou sua consciência e que nem sabe pecar. Até parece que leu meu livro sobre o pecado: para pecar é preciso ser muito inteligente. Até o Papa riu da linguagem leve mas contundente do bispo, que conseguiu fazer uma colocação profunda sem ofender ninguém.
No tocante à homoafetividade. Olhe que já houve mais de uma centena de intervenções em plenário, mas por enquanto o assunto não foi abordado explicitamente. Penso que virá dos grupos e já tenho duas intervenções preparadas sobre isto: uma sobre a necessidade de não “enquadrar” as pessoas, pois quer sejam homo, quer hetero, são originais. E é claro que novamente se deve distinguir entre tendência, atos, comportamentos, adesão à uma ética, e naturalmente também não confundir pessoa com movimentos de cunho ideológicos. O problema não se encontra sobretudo nas pessoas, mas nas bandeiras. Uma segunda intervenção que vou fazer no grupo é sobre a reprodução assistida. Parece que não há muita consciência das implicações que isto traz em termos de compreensão da vida. Por ora foram feitas apenas pequenas alusões.
A pergunta que se coloca é esta: tanto trabalho para tão poucas conclusões? Pois aqui está a marca deste Sínodo, que não veio para colocar mais peso nos ombros de ninguém mas para convidar a todos a seguirem o caminho da vida.