Papa anima os jovens da Bósnia
06/06/2015
Cidade do Vaticano – O último compromisso público do Papa em Sarajevo sábado (06/06) foi no Centro esportivo para jovens da diocese, dedicado a João Paulo II. O Centro ainda não está pronto; faz parte de um complexo que começou a ser construído em 2006, após a guerra. Trata-se de um espaço aberto onde jovens de todas as etnias e religiões socializam, praticam atividades de esporte e voluntariado, e formação pastoral e religiosa para católicos.
Ao descer do papamóvel, Francisco foi acolhido pelo Reitor com algumas crianças e foi acompanhado ao elevador e ao segundo andar. Ali foi inaugurada uma placa em homenagem a São João Paulo II. Cerca de 800 jovens assistiram a este ato solene.
Como presente ao Centro, Francisco levou de Roma uma estátua (71 cm de altura) moderna, de bronze, com a imagem de São João Paulo II já idoso, nos últimos anos de seu Pontificado. A obra foi doada à Santa Sé pelo Bispo de Chiavari, Dom Alberto Tanasini, e pela comunidade diocesana, em 1998, e agora foi presenteada pelo Papa Francisco aos jovens bósnios.
Os testemunhos
Após a saudação do bispo Dom Marko Semren, encarregado da pastoral juvenil, foi a vez de dois jovens do Centro darem seu testemunho ao Pontífice.
O primeiro, Darko Majstorovic, tem 24 anos, é professor de educação física e é croata católico. Em seu caminho de busca de si mesmo, da paz e dos benefícios que esta poderia acarretar, Darko ingressou na Associação de estudantes católicos Emaús, tornando-se uma parte ativa também do Centro juvenil João Paulo II. Ali encontrou a paz que tanto procurava.
“A vida comum de respeito recíproco pelas diversidades fez cair e dissolver a onda de medo que me perseguia. Crescer na fém ajudar os outros, saber se precisavam de ajuda sem lhes perguntar seu nome são valores que aprendi neste Centro”, disse. Darko, que hoje é o presidente da Associação, terminou com o auspício de que a visita do Papa seja um encorajamento a não temer as diferenças, pois “tolerância e conciliação são o caminho certo para um amanhã melhor”.
A jovem Nadežda Mojsilović, sérvia-ortodoxa, é a coordenadora do trabalho com os jovens no programa ‘Caminhemos juntos’, parceria do templo ortodoxo de S. Vasilij Ostroški, no leste de Sarajevo, com o Centro católico de pastoral juvenil João Paulo II.
“O projeto – disse Nadežda – reúne jovens de coração aberto aos outros, convencidos de que esta variedade é a riqueza do povo deste país. Guiados pelas virtudes comuns, nos esforçamos em ser modelo para os jovens daqui e de fora. Espero que depois deste nosso encontro com o Sr., líder da Igreja católica, possamos difundir a forte certeza de que a paz é a mais alta de nossas aspirações e que preservar nossas almas é um imperativo para que o amor e a confiança reinem entre nós e permaneçam nos séculos dos séculos”, completou.
ÍNTEGRA DO DISCURSO
Queridos jovens!
Desejei intensamente este encontro convosco, jovens da Bósnia-Herzegovina e dos países vizinhos. A cada um dirijo a minha afetuosa saudação. Estando aqui neste «Centro» dedicado a São João Paulo II, não posso esquecer tudo o que ele fez pelos jovens, encontrando-os e encorajando-os em todas as partes do mundo. À sua intercessão confio cada um de vós, bem como todas as iniciativas que a Igreja Católica empreendeu na vossa terra para testemunhar a sua proximidade e a sua confiança nos jovens. Todos nós caminhamos juntos!
Conheço as dúvidas e as esperanças que trazeis no coração. Recordaram-no-las o Bispo D. Marko Semren e os vossos representantes, Darko e Nadežda. Em particular, compartilho os votos de que sejam asseguradas, às novas gerações, reais perspectivas de um futuro dignificante no país, evitando assim o triste fenômeno do êxodo. A propósito, as instituições são chamadas a pôr em prática estratégias oportunas e corajosas para favorecer os jovens na realização das suas legítimas aspirações; deste modo, serão capazes de contribuir efetivamente para a edificação e o crescimento do país. A Igreja, por sua vez, pode dar a sua contribuição com projetos pastorais adequados, centrados na formação da consciência cívica e moral da juventude, ajudando-a, assim, a ser protagonista da vida social. Este compromisso da Igreja já é realidade, especialmente através do valioso trabalho das escolas católicas, justamente abertas não só aos estudantes católicos mas também aos das restantes confissões cristãs e de outras religiões. No entanto, a Igreja deve sentir-se chamada a ousar cada vez mais, partindo do Evangelho e impelida pelo Espírito Santo que transforma as pessoas, a sociedade e a própria Igreja.
Também a vós, jovens, cabe um papel decisivo na resposta aos desafios do nosso tempo, que são certamente desafios materiais, mas antes ainda dizem respeito à visão do homem. De fato, juntamente com os problemas econômicos, com a dificuldade de encontrar trabalho e a consequente incerteza relativamente ao futuro, nota-se a crise dos valores morais e a perda do sentido da vida. Diante desta situação crítica, alguém poderia ceder à tentação da fuga, da evasão, fechando-se numa postura de isolamento egoísta, refugiando-se no álcool, na droga, nas ideologias que pregam o ódio e a violência. Trata-se de realidades que conheço bem, porque, infelizmente, estão presentes também na cidade de Buenos Aires, donde provenho. Por isso, encorajo a não vos deixardes abater pelas dificuldades, mas a fazer surgir sem medo a força que deriva do vosso ser pessoas e cristãos, do vosso ser sementes de uma sociedade mais justa, fraterna, acolhedora e pacífica. Unidos a Cristo, vós, jovens, sois a força da Igreja e da sociedade. Se vos deixardes plasmar por Ele, se vos abrirdes ao diálogo com Ele na oração, através da leitura e meditação do Evangelho, tornar-vos-eis profetas e testemunhas de esperança!
Sois chamados a esta missão: salvar a esperança, para a qual vos impele a vossa própria realidade de pessoas abertas à vida; a esperança que tendes de superar a situação atual, de preparar para o futuro um clima social e humano mais digno do que o presente; a esperança de viver num mundo mais fraterno, mais justo e pacífico, mais sincero, mais à medida do homem. Desejo-vos que tenhais uma consciência cada vez maior de serdes filhos desta terra, que vos gerou e pede para ser amada e ajudada a reedificar-se, a crescer espiritual e socialmente, graças também à contribuição indispensável das vossas ideias e do vosso trabalho. Para vencer qualquer vestígio de pessimismo, é preciso a coragem de gastar-se, com alegria e dedicação, na construção de uma sociedade acolhedora, respeitosa de todas as diferenças, orientada para a civilização do amor. Deste estilo de vida tendes uma grande testemunha muito próxima de vós: o Beato Ivan Merz. São João Paulo II proclamou-o Beato em Banja Luka. Que ele seja sempre o vosso protetor e o vosso exemplo!
A fé cristã ensina-nos que somos chamados a um destino eterno, chamados a ser filhos de Deus e irmãos em Cristo (cf. 1 Jo 3, 1), a ser criadores de fraternidade por amor a Cristo. Alegro-me pelo empenho no diálogo ecumênico e interrreligioso abraçado por vós, jovens católicos e ortodoxos, com o envolvimento também do mundo juvenil muçulmano. Em tão importante atividade, desempenha um papel significativo este «Centro Juvenil São João Paulo II», com iniciativas de conhecimento mútuo e de solidariedade, para favorecer a convivência pacífica entre as diferentes pertenças étnicas e religiosas. Encorajo-vos a perseverar confiantemente nesta obra, comprometendo-vos nos projetos comuns, com gestos concretos de proximidade e ajuda aos mais pobres e necessitados.
Queridos jovens, a vossa presença jubilosa, a vossa sede de verdade e de altos ideais são sinais de esperança! A juventude não é passividade, mas esforço tenaz por alcançar metas importantes, mesmo que isso custe; não é fechar os olhos às dificuldades, mas recusar os comprometimentos e a mediocridade; não é evasão ou fuga, mas compromisso de solidariedade com todos, particularmente com os mais frágeis. A Igreja conta e quer contar convosco, que sois generosos e capazes dos melhores impulsos e dos mais nobres sacrifícios. Por isso os vossos Pastores, e eu com eles, pedimos que não vos isoleis, mas permaneçais unidos entre vós, para gozar a beleza da fraternidade e ser mais eficazes na vossa ação.
Pelo modo como vos amais e comprometeis, todos podem ver que sois cristãos: os jovens cristãos da Bósnia-Herzegovina! Sem medo; sem fugir da realidade; abertos a Cristo e aos irmãos. Sois parte viva do grande povo que é a Igreja: o povo universal, em que todas as nações e as culturas podem receber a bênção de Deus e encontrar o caminho da paz. Neste povo, cada um de vós é chamado a dar a vida por Deus e pelos irmãos, seguindo a Cristo pela estrada que Ele vos indicar; antes, que vos indica! Já hoje, agora mesmo, o Senhor chama-vos: quereis responder-Lhe? Não tenhais medo. Não estamos sozinhos! Estamos sempre com o Pai celeste, com Jesus nosso Irmão e Senhor, com o Espírito Santo; e temos a Igreja e Maria por mãe. Que Nossa Senhora vos proteja e conceda sempre a alegria e a coragem de testemunhar o Evangelho.
A todos vos abençoo e peço, por favor, que rezeis por mim.
ENCONTRO COM OS JOVENS
Centro Diocesano Juvenil João Paulo II
Sábado, 6 de Junho de 2015
Fonte: Rádio Vaticano