Em Retiro, Anselm Grün ensina como curar as feridas
09/09/2014
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – A visita ao Brasil do monge beneditino e um dos maiores escritores de espiritualidade contemporânea, o alemão Anselm Grün terminou com um retiro no domingo, 7 de setembro, no Espaço Anhanguera, uma casa de encontros dos Jesuítas a 25 km de São Paulo. Como em todos os eventos que teve no Brasil, Grün encontrou mais um auditório lotado. Foi o único retiro desta viagem e o monge falou durante toda a manhã como curar as nossas feridas, um prolongamento do tema que abordou ainda no sábado no Auditório da Fapcom, quando falou das imagens negativas que as pessoas têm de Deus.
Frei Volney Berkenbrock, que fez a tradução do alemão, presidiu a celebração eucarística ao meio-dia, tendo como concelebrante Anselm Grün. Depois do almoço, o escritor não parou e recebeu a todos os participantes para uma sessão de autógrafos e bênçãos. Disposto, mesmo depois do dia cheio, ele seguiu direto para o Aeroporto, onde viajou às 19 horas para a Alemanha.
Segundo o monge da Abadia de Münsterschwarzach, na Alemanha, não existe vida sem feridas, sem sofrimento. “Quando olhamos nossas feridas, o importante é que não fiquemos acusando outras pessoas, nossos pais, por exemplo, por nossas feridas”, disse o autor de mais de 100 livros publicados pela Editora Vozes. O último lançamento é exatamente o tema de suas palestras: “Reconciliar-se com Deus, curando as feridas da alma”.
Grün enumerou uma série de situações onde há ferimentos e dor. Por exemplo, nas relações familiares, quando uma mãe não tem um bom relacionamento com seu esposo e acaba tomando a filha como sua pessoa de confiança. A filha, que tem um bom relacionamento com o pai, experimenta uma situação de estranhamento quando ouve da mãe coisas ruins sobre o seu pai”.
“Nós também temos as raízes envenenadas dessas experiências de ferimentos e elas precisam ser purificadas. A questão é como conseguimos sanar nossas feridas?”, perguntou Anselm.
Para o escritor, somente quando nos defrontamos com as feridas e as olhamos podemos descobrir os caminhos para a cura. “É preciso reconhecer que temos essas feridas e pedir para que Deus as cure”, disse. Para isso, um caminho é buscar um espaço interno que todos nós temos, um espaço interior de silêncio no qual Deus habita em mim. “Cada de um nós gostaria muito de ir para esse espaço interior. Mas para percorrer esse caminho e chegar lá é preciso passar e se confrontar com nossas verdades e com nossos ferimentos. Um caminho concreto pelo qual a gente consegue fazer isso é o caminho da oração”, ensinou.
Na oração e no encontro com Jesus, a cura acontece. “Essas curas acontecem sempre em encontros com Jesus. Encontrar-se com Jesus é curar as próprias feridas. Um espaço importante da cura é o da celebração eucarística. Então é importante levar essas imagens de feridas para a celebração e perceber que, na comunhão, acontece o encontro com Cristo”, acrescentou.
Segundo Grün, na busca por Deus, podemos seguir o caminho terapêutico da devoção. “Todos sabem o que é devoção: é ser tomado por algo que me diz respeito profundamente”.
Anselm Grün lembrou que na nossa tradição cristã existe a devoção às Cinco Chagas de Jesus. “Essa piedade é uma forma de se conseguir curar as próprias feridas, porque nas cinco chagas de Jesus conseguimos reconhecer os nossos próprios ferimentos”, disse, explicando o significado de cada chaga:
Mãos: Jesus pregado na cruz. Do mesmo modo nos sentimos presos; Pés: Não aceitação de si mesmos; e Coração: Dificuldade de amar e ser amado.
Anselm, então, fez a seguinte oração:
“Eu coloco todos os ferimentos diante de Deus.
As feridas pelas quais eu me sinto aprisionado;
as feridas de quando alguém não me estendeu a mão;
todos os meus ferimentos quando eu me senti ridicularizado.
Apresento todas as feridas causadas por violência;
as feridas causadas por palavras;
as feridas por minhas fraquezas diante dos outros;
Nas minhas mãos coloco diante de Deus tudo o que não conheço de mim mesmo, todas as situações caóticas da minha própria vida.
Também as coisas inconscientes e que podem vir à tona.
Agora, imagino o amor de Jesus que escorre para dentro de minhas chagas,
como a água que busca o ponto mais profundo.
Imagino o amor de Jesus entrando no ponto mais profundo da minha vida.
E nada há em mim que não possa ser transpassado pelo amor de Jesus.
Sou inteiramente perpassado pelo amor de Jesus.
No amor de Jesus está a solução. Ali eu sou salvo.
Estou completamente são.
Mesmo quando as feridas deixam marcas e que muitas vezes ainda causam dor.
Mas essas minhas feridas vão sempre me fazer lembrar do amor de Jesus.
Com o amor de Jesus, essas minhas feridas não doem mais”.
Na celebração eucarística, Grün voltou a rezar durante o ofertório:
“Apresentamos diante de Deus o cálice do sofrimento.
Confiamos que Deus vai transformar esse cálice de sofrimento em cálice de redenção.
O cálice da tristeza, da perda de um ente querido, da pessoa que não conseguimos ser, de não sermos perfeitos como gostaríamos.
Confiamos que Deus vai transforma o cálice de sofrimento em cálice de consolo.
Apresentamos diante de Deus o cálice de amor misturado em dúvidas, ciúmes e inveja.
Confiamos que Deus vai transformar nosso amor misturado em amor puro”.
Durante o retiro, Grün também fez uma reflexão com gestos sobre o sinal da cruz. “A cruz significa a realização do amor. Não devemos ter uma visão negativa da cruz, a cruz é o sinal do abraço”, explicou.