“É dever da ONU deter agressão no Iraque”
19/08/2014
O papa Francisco afirmou nesta segunda-feira que é “justo” deter os jihadistas islâmicos que estão atacando minorias religiosas no Iraque, mas que a solução não deve ser tomada por um só país e que é necessário um esforço internacional. “Nesses casos, em que há uma agressão injusta, posso dizer somente que é legítimo parar o agressor”, disse o pontífice a jornalistas a bordo de um avião, no retorno de sua viagem de cinco dias à Coreia do Sul. Durante uma hora, o papa respondeu as 15 questões dos 72 jornalistas que o acompanharam no voo.
“Eu destaco o verbo ‘parar’. Não estou dizendo ‘bombardeie’ ou ‘faça guerra’, mas ‘parem’ o agressor. Os meios pelos quais ele pode ser parado devem ser avaliados. Parar um agressor injusto é legítimo”, disse Francisco, salientando que essa decisão não deve ser tomada isoladamente. “Uma só nação não pode julgar como se detém uma agressão. Depois da II Guerra Mundial, isto é um dever das Nações Unidas”, afirmou o papa.
O Papa também abordou temas como a guerra em Gaza depois da oração pela paz; as relações com a China; suas próximas viagens; a causa de beatificação de Romero; e a sua vida e ‘férias’ em Santa Marta.
Ainda sobre o conflito no Iraque, o Papa disse que “estou disposto a ir ao Iraque”. Após o comunicado enviado a todas as nunciaturas, sua carta ao Secretário-Geral das Nações Unidas e a decisão de mandar um enviado pessoal, o Cardeal Filoni, “dissemos que, se fosse necessário, depois da viagem para a Coréia, eu poderia ir lá; era uma das possibilidades. Estou disposto! Neste momento não é o melhor, mas estou disposto a fazê-lo”, explicou.
Outro tema discutido foi a oração pela paz com Mahmoud Abbas e Shimon Peres. Perguntaram-lhe se foi um fracasso, e o Papa respondeu que “a oração pela paz não foi absolutamente nenhum fracasso. Estes dois homens são homens de paz, são homens que creem em Deus e que viveram muitas coisas ruins, muitas coisas ruins, e estão convencidos de que a única saída para os problemas é a da negociação, do diálogo, da paz”. Francisco afirmou que “Eu acho que a porta está aberta”. Assim, ele observou que “a paz é um dom de Deus, que merece o nosso trabalho, mas é um dom”.
Agora – disse – “a fumaça das bombas e das guerras não deixam ver essa porta, mas a porta ficou ali, aberta, desde aquele momento. Creio em Deus, creio no Senhor, essa porta está aberta, e peçamos para nos ajudar”.
Sobre as vítimas da guerra, o Papa afirmou que “hoje a bomba vai e mata o inocente e o culpado, a criança com a mulher, com a mãe, mata todos”. E por isso pediu para se parar de pensar um pouco no nível da crueldade, aonde fomos parar? Isso deveria assustar-nos. Por outro lado, observou que a “tortura é um pecado contra a humanidade” e convidou os presentes a realizar em seus ambientes uma reflexão sobre qual é hoje o nível de crueldade da humanidade, e o que eles pensam sobre a tortura”.
O Santo Padre também recordou na viagem de ida para a Coréia, quando o piloto pedia permissão para entrar no espaço aéreo chinês, que é uma coisa normal que sempre deve ser feita em cada país. Depois “rezei muito, por esse lindo povo chinês: um povo sábio”. “Que se quero ir à China?”, perguntou-se Francisco. “Mas, claro! Amanhã! Nós respeitamos o povo chinês. A Igreja somente pede a liberdade para o seu ministério, para o seu trabalho. Nenhuma outra condição. E recordou a carta que enviou aos chineses o Papa Bento XVI e que seria bom voltar a lê-la.
O Bispo de Roma falou sobre suas futuras viagens. Sobre Albânia explicou que há duas razões importantes para a sua visita a este país em setembro. “Em primeiro lugar, porque conseguiram fazer um governo de unidade nacional entre muçulmanos, ortodoxos, católicos, com um conselho inter-religioso que ajuda muito e que é equilibrado”. E a segunda razão: “Pensemos na história da Albânia, o único dos países comunistas que em sua Constituição tinha o ateísmo prático. Se você fosse à missa, era inconstitucional! e, depois, me dizia um dos ministros, que foram destruídas um número exato de 1820 igrejas ortodoxas e católicas. Naquele tempo muitas igrejas foram transformadas em cinemas, teatros, salões de festa”.
Para o próximo ano, Francisco também expressou seu desejo de ir para a Filadélfia, para o encontro das famílias, talvez as três cidades juntas: Filadélfia, Washington e Nova York”. Com relação a essa viagem, afirma que os mexicanos também querem que ele vá à Virgem de Guadalupe”, e poderia se aproveitar, mas não é certeza”. E, finalmente, para a Espanha. “Os reis me convidaram, o episcopado também me convidou, mas não decidimos, mas há uma chuva de convites da Espanha… Talvez seja possível, mas não está decidido. Na parte da manhã, poderíamos visitar Ávila e Alba de Tormes e retornar a Roma no início da tarde. Seria possível”.
Falando sobre a sua relação com Bento XVI, Francisco confirmou que “temos um relacionamento normal”. E acrescentou que acredita que “o Papa emérito continue sendo uma instituição, porque nossa vida se estende e em uma certa idade já não temos a capacidade de governar bem, porque o corpo está cansado… A saúde pode ser boa, mas perde-se a capacidade de levar adiante todos os problemas de um governo como o da Igreja”. E se ele sentisse que não consegue mais continuar, disse, “faria o mesmo”.
Durante o vôo papal, Francisco reconheceu que “a última vez que saiu de férias com a comunidade jesuíta, foi em 1975”. E explica “sempre tiro férias, mas na minha casa, mudo de ritmo: durmo mais, leio coisas que gosto, escuto música, rezo mais. E descanso assim”.
Sobre sua vida no Vaticano, o Santo Padre explicou que em Santa Marta tem “a vida normal de trabalho, de descanso”. Apesar de reconhecer que no princípio sim se sentia prisioneiro, agora não, “caíram alguns muros”. E colocou um exemplo: “o Papa não podia usar o elevador sozinho, rapidamente alguém vinha para acompanhá-lo. ‘Você, volte para o seu lugar, que eu desço sozinho!’. E essa história acabou. É assim… a normalidade, a normalidade”.
“Para mim, Romero é um homem de Deus”, disse o Papa quando questionado sobre a causa de beatificação de Oscar Arnulfo Romero, bispo de El Salvador assassinado em 1980. Deste modo, Francisco explicou que a causa estava bloqueada, dizia-se, pela prudência, na Congregação para a Doutrina da Fé. Agora está desbloqueada. Passou para a Congregação para os Santos e continua o caminho normal de um processo, depende de como se movimentem os postuladores”.
Renúncia – Na mesma conversa com jornalistas, Francisco afirmou que também renunciaria ao pontificado caso não pudesse continuar com sua missão, como fez Bento XVI. “Alguns teólogos talvez digam que não é certo, mas eu penso assim: e se sentisse que não poderia seguir adiante? Faria o mesmo. Ele abriu uma porta que é institucional, não excepcional”’, disse. O papa contou que ele e Bento XVI, que renunciou em fevereiro de 2013, se encontram com certa frequência. “Antes de viajar fui visitá-lo. Duas semanas antes, ele me enviou uma carta interessante, pedindo minha opinião”, explicou.