Papa jesuíta se volta aos franciscanos
19/05/2020
O Papa Francisco recentemente chocou os católicos na Itália quando nomeou o Pe. Marco Tasca, superior geral por dois mandatos dos franciscanos conventuais (“frades cinzas”), para liderar a Arquidiocese de Gênova, na Itália.
O papa fez a nomeação-surpresa no dia 6 de maio, apenas um mês antes do aniversário de 63 anos do arcebispo eleito.
Gênova é uma das dioceses de maior prestígio na Itália e até mesmo no mundo. Em sua história, ela foi dirigida por muitos séculos, de tempos em tempos, por um cardeal.
E os cinco últimos arcebispos da região norte da Itália receberam o barrete vermelho, remontando ao cardeal Giuseppe Siri.
Siri era o baluarte dos católicos tradicionalistas do país e era um perene candidato ao papado. Ele participou de quatro conclaves, desde o de 1958 que elegeu João XXIII até o de 20 anos mais tarde, que colocou João Paulo II no trono de Pedro.
O novo arcebispo de Gênova
A Arquidiocese de Gênova é famosa pelos seus padres e bispos, que foram muito moldados à imagem e semelhança de Siri. A lista é longa, e vários deles foram considerados candidatos ao cargo que Francisco decidiu dar a um homem chamado Frei Marco.
Ele substitui o cardeal Angelo Bagnasco, 77 anos, que foi ordenado ao sacerdócio por Siri em 1966 e recebeu o barrete vermelho de Bento XVI. O ex-papa também nomeou o presidente Bagnasco da Conferência Episcopal Italiana, onde ele poliu suas credenciais como um dos principais cardeais conservadores da Igreja.
Assim, os católicos de mentalidade mais tradicionalista da Itália ficaram indignados com o fato de Francisco escolher um “simples frade” que usa sandálias como o homem mais recente a calçar os sapatos de Siri.
No dia em que isso aconteceu, o teólogo Massimo Faggioli não resistiu em enviar este tuíte: “Ei, Siri, quem é o novo arcebispo de Gênova?”.
Isso deve ter sido sentido como sal nas feridas para aqueles que estão no campo de Siri-Bagnasco.
Eles tentaram dar de ombros diante da nomeação de Tasca e se consolar, pelo menos um pouco, aplaudindo o fato de que o novo arcebispo tem muitos anos de experiência no governo de uma jurisdição que é muito maior do que a arquidiocese que o espera ao longo da Riviera italiana.
Primeira nomeação episcopal do papa foi franciscana
Esse não é o primeiro frade de um dos três principais ramos da Família Franciscana que o Papa Francisco escolheu para um cargo de destaque.
De fato, a primeira pessoa que o papa jesuíta fez bispo após a sua eleição em março de 2013 foi o superior geral da Ordem dos Frades Menores – José Rodriguez Carballo.
Francisco o nomeou arcebispo-secretário da Congregação vaticana que lida com as ordens religiosas.
Em seguida, ele escolheu um franciscano capuchinho – o cardeal Sean O’Malley – como membro norte-americano do seu recém-criado Conselho de Cardeais, uma espécie de gabinete internacional projetado para ajudá-lo na sua tarefa de governança universal e, mais especificamente, para ajudá-lo a reformar o Vaticano.
O papa nomeou pelo menos três outros franciscanos italianos para cargos episcopais importante. O mais proeminente, talvez, é o arcebispo Pierbattista Pizzaballa, OFM. Francisco nomeou o ex-custódio da Terra Santa, de 55 anos, como o chefe de fato do Patriarcado Latino de Jerusalém em 2016.
Em março passado, o papa colocou outro frade cinza no comando de uma grande e importante diocese quando nomeou o bispo Gregory Hartmeyer, de 68 anos, como chefe da Arquidiocese de Atlanta, nos Estados Unidos.
Um franciscano entre os eleitores do papa
Francisco deu um barrete vermelho a apenas um franciscano que está atualmente entre os cardeais eleitores. Ele é um capuchinho de 60 anos chamado Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo) desde 2018.
Mas o papa nomeou outros franciscanos, como Marco Tasca e o arcebispo Celestino Aós Braco, de Santiago do Chile (outro capuchinho nomeado em 2019) em sedes tradicionalmente cardinalícias.
Os nomes de frades cinzas, capuchinhos e frades menores que o papa argentino nomeou como bispos ou promovidos a cargos de maior responsabilidade são muitos para citar aqui.
E é provável que ele não pare de olhar para os homens que foram formados na escola do grande santo cujo nome ele assumiu quando foi eleito bispo de Roma.
Há rumores de que o Papa Francisco está considerando seriamente um franciscano para assumir o lugar do cardeal tradicionalista Robert Sarah como prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Trata-se do bispo Vittorio Francesco Viola, OFM, de Tortona, uma sede sufragânea de Gênova. O liturgista de 54 anos ainda não era sequer bispo quando o papa o nomeou para a diocese.
Ele acabara de encerrar vários anos como diretor da Cáritas diocesana de Assis e estava lecionando no Pontifício Instituto Litúrgico (Santo Anselmo) em Roma.
Se Francisco eventualmente o nomear para substituir o cardeal Sarah, os tradicionalistas ficarão ainda mais irritados do que com a nomeação de Marco Tasca.
O Frei Vittorio Francesco está 100% comprometido com a reforma litúrgica que se seguiu ao Concílio Vaticano II. E, sob o seu comando, a Congregação provavelmente daria fim a quaisquer tentativas adicionais de minar essa reforma.
Imagem: Dom Vittorio Francesco Viola, OFM, de Tortona, com o Papa Francisco.
A reportagem é de Robert Mickens, publicada em La Croix International, 15-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto (http://www.ihu.unisinos.br)