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Entrevista com Frei Jeâ Paulo Andrade

01/07/2013

Entrevistas

Por Moacir Beggo

“O lugar do padre é com o povo. Se se perde essa dimensão, perde-se o sentido do ministério abraçado”. Em sintonia com o Papa Francisco, que disse que o presbítero tem que ter o “cheiro das ovelhas”, Frei Jeâ será ordenado presbítero no dia 6 de julho deste ano, em Imbuia (SC), por Dom José Balestieri, bispo emérito da Diocese de Rio do Sul. Sua ordenação acontecerá às 18h30 na Paróquia Santo Antônio de Imbuia e, no dia seguinte, 7 de julho, Frei Jeâ celebrará a Primeira Missa às 10 horas na Capela Santa Cruz, de Campo das Flores, no mesmo município onde nasceu.

 Acompanhe a entrevista

Comunicações – Fale um pouco de sua família e sobre seu discernimento vocacional.
Frei Jeâ – Nasci no dia 21 de julho de 1986. Tenho duas irmãs, Jane e Tatiane. Sou o terceiro, o caçula. Meus pais, Amilton e Zelir, residem em Imbuia, lugar onde dei os primeiros passos na escola da vida e da fé. Eles, além de marido e mulher, são primos de 2º grau; quando se casaram, além do exame de consanguinidade, minha mãe fez uma promessa que, se os filhos nascessem saudáveis, daria o nome de um santo para cada um deles. O meu segundo nome é uma referência a São Paulo. Minhas irmãs têm como segundo nome Terezinha e Aparecida. Minha família sempre foi muito religiosa; meus avós foram lideranças na comunidade. Acolhiam os freis que vinham de longe, muitas vezes a cavalo, para celebração da Missa e dos sacramentos. Meus pais também sempre estiveram envolvidos com os trabalhos comunitários. Acho que tudo isso contribuiu para que eu começasse a fazer um discernimento vocacional. Frei Moacir Longo me acompanhou e me encaminhou para o Seminário de Ituporanga. Entrei com 13 anos, em 2000, para fazer a oitava série; fui da última turma a concluir o Ensino Fundamental em Ituporanga antes de se tornar Aspirantado. Sempre fui muito decidido a responder positivamente ao chamado de Deus que já sentia desde criança.

Comunicações – O que representa para você chegar à ordenação presbiteral depois de tantos anos de estudo?
Frei Jeâ – Analisando hoje, vejo que tudo aconteceu de forma muito natural. Contabilizo 13 anos de formação. Metade da minha vida eu passei no convento, não consigo me imaginar fora dessa realidade. Tenho certeza que a ordenação presbiteral não é um mérito pessoal, mas graça de Deus. Exige estudo e oração, não representa um título, mas um serviço concreto à Igreja e ao Povo Deus. Meu lema de ordenação é justamente nessa linha, tomar a cruz e seguir e servir o Cristo pobre e crucificado, do modo que eu sou, com minhas virtudes e cruzes.

Comunicações – Você concorda com o Papa quando diz que o presbítero tem que ter o “cheiro das ovelhas”?
Frei Jeâ – Excelente a expressão para falar sobre o ministério sacerdotal. Frade eu sou por opção, para conversão de vida, para fazer penitência, para viver os votos em fraternidade. Mas, se além de frade sou presbítero, tenho obrigação de estar com as ovelhas. Difícil imaginar um padre de gabinete. O lugar do padre é com o povo. Se se perde essa dimensão, perde-se o sentido do ministério que abraçou. É preciso um discernimento muito grande para assumir esse serviço. Espero cuidar bem das ovelhas confiadas a mim.

Comunicações – Quais os desafios que um jovem presbítero tem neste momento da Igreja?
Frei Jeâ – Muitos. Parece que a Igreja atual vive numa multiplicidade de “igrejas”, onde cada uma se reveste de identidade e verdade próprias e absolutas. Uma “tradicionalista”, outra “liberal”, “carismática” etc. É preciso reconhecer que somos uma só Igreja buscando realizar o projeto evangélico de Cristo. O Reino de Deus, do amor e da misericórdia deve estar acima de qualquer ideologia. Acho que um jovem presbítero deve estar consciente desses desafios e ser um ponto de referência e não de divisão. Aliás, misericórdia é uma palavra bem adequada ao se tratar de temas importantes para a sociedade atual que respingam diretamente na ação eclesial e pastoral.

Comunicações – Fale um pouco sobre como é o religioso Frei Jeâ?
Frei Jeâ – Em geral falo pouco. Como religioso me sinto bastante realizado. Gosto muito do que faço. Acredito que a vida em fraternidade é um exercício de autoconhecimento. Estou aprendendo muito sobre mim depois da primeira transferência. Não sou um frade perfeito, entendo meus limites, convivo bem com eles, mas procuro melhorar sempre.

Comunicações – Como você acolheu a sua transferência para Concórdia?
Frei Jeâ – Bem. Era o que me imaginava fazendo depois da formação. A fraternidade e o povo me acolheram muito bem. A paróquia é enorme, são 63 comunidades, mais da metade delas de capelas do interior. Vejo duas realidades bastante distintas nessa paróquia: as capelas do interior, onde nossa presença quase se resume à celebração mensal, e outra realidade dos bairros e do centro, muito urbana e com muitas pastorais. As pessoas acham estranho um frade jovem por aqui. Quando cheguei, com frequência, ouvia: “Mas ele já é frei?”, “Mas pode ser frei assim novo?”, “Será que o frei não vem celebrar?”. Temos muito trabalho e tenho a constante preocupação de estar em comunhão com projeto fraterno e paroquial.

Comunicações – O que diria para um jovem que deseja ingressar na vida religiosa?
Frei Jeâ – Eu lembraria uma frase dita pelo Papa Francisco logo no início de seu ministério: “Quero uma Igreja pobre e para os pobres”. Esse é o projeto evangélico de Cristo. É também a inspiração de São Francisco. A motivação para a vida religiosa não deve ser a busca por reconhecimento ou status social, mas sempre o Evangelho.

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