A lição de fraternidade dos noviços
05/01/2013
Moacir Beggo
Rodeio (SC) – Rezar, trabalhar e estudar são tarefas rotineiras no projeto de formação do tempo de Noviciado. Mas o desenvolvimento da vida em fraternidade durante esse ano de provação é sempre o grande desafio para um Mestre de Noviços. Frei Samuel Ferreira de Lima, que neste ano é mestre pela quarta vez, não escondia a alegria de ver um grupo fraterno e coeso fazendo a Primeira Profissão na Ordem dos Frades Menores no último dia 3 de janeiro.
Essa característica do grupo se manifestou logo nos primeiros meses de 2012, quando os cinco postulantes angolanos chegaram ao Noviciado de Rodeio com dois meses de atraso devido a problemas na documentação para ingressar no país. “Houve uma facilidade de integração e ajuda mútua muito grande, mesmo eles sendo de culturas diferentes”, conta Frei Samuel, revelando que o interesse por essa aproximação se manifestou antes através da internet.
Segundo o Mestre dos Noviços, em pouco tempo, já não existia mais o “grupo de angolanos”, mas a turma de noviços de 2012. “Isso fez com que o grupo crescesse muito. Desde o início era evidente esse grande desejo de crescer, de buscar, de deixar ser conduzido. O grupo sempre tinha muita disposição a tudo o que era proposto a ele”, constatou.
Ainda segundo Frei Samuel, essa turma de noviços esbanjou em criatividade e iniciativa. “Foi um ano muito intenso e eles participaram ativamente de muitos eventos, como, por exemplo, o Novinter, que é um encontro de noviços de todas as congregações da região, a semana missionária para a ordenação presbiteral de Frei Alberto Eckel. Em tudo, eles se empenharam e foram muito criativos”, garantiu, resumindo numa frase: “Ficou claro a evolução, o crescimento da turma e o desejo de buscar uma vida mais radical. Eu vejo nos jovens que vêm hoje para a vida religiosa mais consciência, mais senso crítico, mais vontade de ser autênticos. Eu sempre falo para eles não perderem isso. Continuarem sonhando, lutando e buscando. A Província do futuro depende desses jovens frades”. No grupo dos brasileiros deste ano, havia dois noviços mineiros, da Fundação Franciscana Nossa Senhora de Fátima, mas que fizeram as etapas de formação juntos com os da Província. Eles farão a Primeira Profissão neste domingo, às 10 horas, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Uberlândia (MG).
Um novo desafio neste ano
Quem imagina encontrar um Mestre de Noviços duro e carrancudo vai se surpreender ao conhecer Frei Samuel. Sempre atencioso, sorridente, Frei Samuel chega ao final de mais um ano com a sensação de dever cumprido e sem estresse acumulado durante a etapa. “Não deixo os problemas crescerem. Sempre sou muito franco com eles: ‘isso não está certo; isso não está bom’! Se vejo que o problema é individual, eu converso pessoalmente com o noviço; se é comum, discutimos o problema em grupo. Mas é importante dizer que eles também deram esta abertura. Então é mais fácil conduzir, quando se deixa ser conduzido”, confessou.
Neste ano, Frei Samuel inicia a etapa de Noviciado no próximo dia 12, quando serão acolhidos três grupos bem distintos de jovens: os da Província da Imaculada, sete angolanos da Fundação Imaculada Mãe de Deus e seis das Custódias Franciscanas de Garça e Mato Grosso. “Então, o primeiro trabalho deste ano será o de integração, para eles se conhecerem melhor”, programa-se o Mestre, lembrando que os cinco angolanos ainda continuam em Rodeio até o dia 28 de janeiro e viajam no dia 30 de janeiro para Luanda, onde farão a Primeira Profissão em março. “Eles vão fazer um pouco essa ponte de passagem de um grupo para o outro. Estou adiantando algumas matérias com eles e depois se integrarão ao grupo deste ano, uma vez que não estavam no início do ano aqui”, adiantou.
Frei Roger se emociona
Um dos noviços que mais se emocionou durante a profissão no dia 3 foi Frei Roger Strapazzon, que é catarinense de Blumenau. Ele conteve o choro por duas vezes ao recitar a fórmula da profissão quando o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel segurava suas mãos.
Para ele, foi um momento muito importante na sua vida, mas tem consciência do que disse o Ministro Provincial: ‘devemos nos empenhar na vida para atingir vitórias, mas conscientes de que estas vitórias serão sempre parciais’. Nesse sentido, Frei Samuel trabalhou bastante com a gente: a nossa vida é o dia a dia. É um recomeço. Todo dia é tempo de fazer penitência. Não vamos receber por aquilo que fizermos, mas por aquilo que estamos tentando buscar. Então, temos que estar sempre buscando, correndo”, observou.
Para ele, o ano de noviciado superou as expectativas. “Tudo é diferente do que a gente imagina. É uma descoberta e a construção é feita aos poucos. Aqui, o desafio é: como perceber, nos pequenos gestos, a manifestação de Deus? A gente pensa numa formação acadêmica, mas a vida religiosa não é acadêmica, é uma luta constante, uma busca constante e não há fórmulas para isso. Na rotina, no dia a dia, Deus se manifesta e vai nos aperfeiçoando”, completou.