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Frei Estêvão na abertura do Capítulo: “Assim não podemos continuar!”

06/11/2012

Notícias

Por Moacir Beggo

Agudos (SP) – Ao iniciar a Celebração Eucarística que abriu o Capítulo Provincial ordinário desta Província, na manhã desta terça-feira (6/11), o Vigário Provincial Frei Estêvão Ottenbreit contou que o Papa João XXIII pediu para que se abrissem todas as portas e janelas da Igreja para que o sopro do Espírito Santo a renovasse durante aquele acontecimento histórico. E foi com todas as portas e janelas abertas da capela do Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), que o presidente da celebração pediu também esse Espírito renovador para a Província Franciscana da Imaculada Conceição, que estará em Capítulo até o próximo dia 12 de novembro.

O Capítulo 2012 tem como lema “Para onde nos conduz o Espírito?” e conta com a participação de 103 frades capitulares. Por isso, a liturgia foi própria para o dia, como a Primeira Leitura, da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 22-27) e o Evangelho (Jo 20, 19-23).

O gemido

Trazendo para a realidade do Capítulo, Frei Estêvão lembrou que São Paulo destacou três coisas importantes aos romanos. “De fato, no início deste Capítulo Provincial, não é nenhum segredo que o pensamento de São Paulo acerta em cheio: estamos gemendo, como em dores de parto. Com certeza, Frei Fidêncio, Frei José Francisco, a Comissão Preparatória, e outros mais estão sentindo esta dor, este sofrimento que tudo isto causa. Creio que este longo processo de participar da Fraternidade Provincial preparando este Capítulo evidenciou para todos, senão para muitos, esta dor, este sofrimento, este gemido, como dores de parto, de que nos fala São Paulo”, observou o Vigário Provincial.

Frei Estêvão presidiu a celebração Eucarística que abriu o Capítulo

Segundo o celebrante, chegou o momento de abrir os olhos, de ter coragem e constatar o que já sabemos: “Assim não podemos continuar!”, disse, emendando: “Temos que parar, temos que rever a nossa caminhada, temos que nos direcionar novamente para aquilo que é essencial dentro daquele impulso que o Concílio Vaticano II nos recomendou há 50 anos. Algo precisa mudar. E digo mudar não por capricho de alguns, que, de repente, tiveram a ideia de que dessa forma não poderia  continuar, mas é literalmente um anseio, um profundo desejo de toda a Ordem”, constatou.

Segundo Frei Estêvão, a Ordem Franciscana, nestes últimos anos, realmente tomou consciência de que precisa de um “Moratorium”, ou seja, de uma parada para analisar e se redirecionar. “Esse processo chamou de redimensionamento. Felizmente, podemos dizer que este nosso gemido, este nosso sofrimento que carregamos, a exemplo daquilo que São Paulo diz aos Romanos, não é em vista de grandes problemas morais, grandes problemas organizacionais e financeiros, mas unicamente porque estamos cada vez mais nos convencendo de que, para viver com autenticidade a nossa vocação, a nossa missão, nós precisamos parar e nos reorientar”, disse, lembrando a grande temática do Capítulo iniciado nesta terça.

Frei Estêvão ilustrou esse sofrimento, que virá à tona neste Capítulo, falando da diminuição do número de frades na Ordem. “Se há 50 anos a Ordem tinha 27 mil frades, hoje tem a metade. Cinquenta anos atrás a nossa Província tinha 750 frades, hoje tem a metade. E não creio que, hoje, a Fraternidade Provincial esteja fazendo menos do que há 50 anos. Pelo contrário, não só está fazendo mais, porém os desafios atuais são muito mais exigentes e maiores. E sem querer entrar na discussão de quem vem primeiro, se o ovo ou a galinha, sabemos que a diminuição de número – embora a nossa santidade não dependa do número -, sobrecarrega muito ou, por outros motivos, pode nos levar a uma falta de elã e, principalmente, a uma falta de autenticidade na nossa vida”, disse.

A esperança

Se esse “gemido” causa sofrimento, São Paulo não quer, com esta constatação, de modo algum, provocar desânimo, desistência, mas, pelo contrário, ele quer nos convidar a confiar ainda mais e, principalmente, a buscar na esperança um novo caminho, uma outra solução. “O Cardeal argentino Perônio (Dom Eduardo), quando era prefeito da Sagrada Congregação dos Religiosos,  fez uma belíssima reflexão sobre a importância  dos Capítulos que os religiosos realizam. E me lembro de uma frase que me marcou profundamente, quando ele disse que o Capítulo para os religiosos é sempre uma passagem do Senhor”, contou.

“Creio que também este Capítulo que ora nós iniciamos, antes de tudo, quer ser e deverá ser uma passagem do Senhor. Mas Jesus não vem para ficar e se acomodar à nossa situação. Queremos que Jesus venha, esteja conosco, mas sabemos que Ele vem, passa, vai adiante, chama ao seguimento e, na caminhada com ele, certamente, quer renovar o nosso elã e o nosso vigor”.

Segundo o presidente da celebração, retomando a Carta de São Paulo, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo ou vivendo, mas esperamos o que não vemos. “Esperamos porque há muita coisa por fazer, muita coisa podemos ainda modificar e podemos nos tornar mais autênticos e mais correspondentes à vocação, à missão, que nos foi confiada”.

O auxílio do Espírito Santo

Para Frei Estêvão, a máxima de São Francisco – “Que os irmãos nunca percam o Espírito do Senhor e sempre possuam o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar” – deverá ser a grande máxima também nestes dias enquanto estamos juntos. “Não se trata, nesses dias de Capítulo, de buscar o que nós queremos, mas unicamente deve nos importar o que devemos fazer devido à nossa vocação e missão e, principalmente, o que podemos fazer”.

O aniversariante Frei Almir fez a Primeira Leitura

Com o auxílio do Espírito Santo, Frei Estêvão foi enfático: nada de medos!. “O Espírito nos foi prometido, o Espírito vai nos acompanhar, o Espírito quer nos ajudar. Portanto, joguem fora todos os medos! Ninguém precisa armar-se e defender-se. O grande imperativo da Ordem, portanto, é redimensionar no sentido de buscar autenticidade, credibilidade, para a nossa vocação e missão”.

A graça de Deus

Já no final de sua homilia, Frei Estêvão citou o Ministro Geral, Frei José Rodríguez Carballo, lembrando que esta crise e sofrimento por que passa a Ordem Franciscana não deve ser vista como uma desgraça, mas deve ser acolhida como uma graça da parte de Deus, que nos convoca a nos renovar, que nos convoca a sermos mais autênticos, que nos convoca a sermos mais credíveis.

Do Evangelho, Frei Estêvão destacou dois momentos para os frades refletirem durante os próximos dias. “Pedimos a presença do Ressuscitado e, principalmente, como Ele se apresentou aos discípulos no Evangelho que acabamos de ouvir, desejando e dando-nos a sua paz. Paz, não no sentido de que ninguém discute; paz, não no sentido de que ninguém possa discordar do outro; paz, não sentido de uma calmaria falsa, mas paz em que todos grupos se unem realmente para cumprir aquilo que um dia prometemos. É muito interessante que, meus caros irmãos, Jesus deseja a paz aos seus discípulos mostrando as suas chagas. E mostrando as suas chagas, Ele certamente nos quer dizer o que é a garantia da paz, o que precisamos, sempre de novo, para construir a paz. Mostrando as suas chagas, Ele doou a sua vida e, neste mesmo sentido, Ele quer enviar os seus discípulos em missão para fazermos o mesmo”, disse.

No segundo momento, Frei Estêvão destacou que o Ressuscitado sopra sobre eles e transmite o Espírito Santo. “Como gostaríamos ou como queremos realmente nestes dias que o Ressuscitado não apenas esteja presente no meio nós, mas que Ele realmente sopre sobre cada um de nós e sobre todos nós juntos. Jesus diz que a presença do Espírito está ligada ao perdão dos pecados”.

Frei Estêvão confessou que ouviu uma frase em um de seus primeiros retiros no início de sua vida religiosa e o marcou profundamente. Segundo ele, o pregador lhe disse que pecamos mais naquilo que voluntariamente prometemos. “Não são, primeiramente, os nossos pecados, as imperfeições e limitações que proveem da nossa natureza humana, mas nosso grande pecado, na incidência e na gravidade, é justamente não cumprir o que voluntariamente um dia prometemos”, frisou.

E finalizou: “Por isso precisamos nos reunir para nos redimensionar e, assim, acredito que esse Capítulo que ora iniciamos é uma grande convocação. Uma grande chance, uma grande graça, como diz o Ministro Geral, para reconquistar aquilo que prometemos um dia e, quem sabe, negligenciamos ao longo de nossa vida. E além de convocação, o Capítulo também quer nos colocar, certamente, diante do grande imperativo: desapropriar-se. Nós todos sabemos que o caminho da autenticidade franciscana, seguir o Cristo a exemplo de Francisco, só conhece este imperativo: desapropriar-se. Sempre de novo, sempre de novo!. Desapropriar-se para que realmente o Espírito possa nos conduzir para onde Ele quiser!”

O primeiro dia

Terminada a Celebração Eucarística em honra ao Espírito Santo, a parte da manhã foi dedicada à distribuição dos serviços e tarefas práticas. À tarde, os trabalhos prosseguiram com a apresentação do relatório do Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, fruto da visita que ele realizou a todas as fraternidades franciscanas da Província da Imaculada durante o ano.

O Capítulo é uma reunião que ocorre desde os tempos de São Francisco de Assis, bem no início da Ordem Franciscana. Trata-se de um momento de revisão da vida e do trabalho dos frades e também tem o objetivo de definir os passos e estratégias para o próximo triênio (2013-2015), incluindo as transferências e remanejamento dos frades.

A Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil está presente nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e na Missão de Angola e tem trabalhos em paróquias, escolas, meios de comunicação e também na formação dos futuros franciscanos.