Frei Roberto, com o coração de operário
20/10/2012
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – Com a Igreja de São Francisco de Assis da Vila Clementino lotada, Frei Roberto Ishara foi ordenado presbítero pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, Dom Tomé Ferreira da Silva, que lhe deu como missão ser sacerdote com coração de operário. O recém-nomeado bispo da Diocese de São José do Rio Preto presidiu a celebração, que começou às 15 horas no sábado (20/10), véspera do Dia das Missões, tendo como concelebrantes o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, e o pároco Frei Djalmo Fuck.
A família de Frei Roberto, na maioria de São Paulo, veio em peso para a celebração, especialmente seus irmãos Sidnei, Sandra, Marcelo e Claudinei, e seus pais Yuko Ishara e Nely Eiko Ishara. Além dos familiares, comunidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, assim como do bairro Mandaqui de São Paulo marcaram presença. Seus confrades em bom número, sacerdotes da região episcopal do Ipiranga, religiosos e religiosas, celebraram com ele este momento de graça.
Segundo Dom Tomé, lembrando São Gregório Magno, o sacerdócio que a Igreja conferiu a Frei Roberto só tem sua razão de ser na pessoa de Jesus Cristo Sacerdote e dizia que não faltam pessoas boas, que não faltam pessoas que desejam ouvir coisas boas, mas faltam pessoas que digam as coisas boas. “E para explicar esse pensamento, São Gregório comentava que Jesus não menciona nestes pensamentos o sacerdote, mas Jesus usa a expressão operários, porque deseja discípulos, deseja apóstolos, deseja sacerdotes que tenham coração de operário. E ter coração de operário é dar a vida por amor a Jesus Cristo no serviço ao povo de Deus. Ser sacerdote com o coração de operário é viver o sacerdócio na intimidade e na publicidade 24 horas por dia. Ser sacerdote com o coração de operário e não limitar ou não delimitar o nosso ofício sacerdotal aos limites estreitos de nossa agenda, quase sempre inspirada pelo horário comercial da sociedade”, ensinou o bispo.
Segundo Dom Tomé, o sacerdócio é graça de Deus. “O sacerdócio é presente de Deus confiado à Igreja para servir ao seu povo. Somos servidores do povo de Deus e servidores com Jesus Cristo, servidores com Nossa Senhora, a sua Mãe. Somo os últimos servos de todos, que a Seu exemplo não viemos para ser servidos, mas fomos constituídos para servir e para dar a nossa vida também como resgate para Deus”, explicou.
“Ora, querido Frei Roberto, quando o nosso coração e a nossa inteligência se afastam de Jesus Cristo Sacerdote, a tentação que nos ocorre é de fazer do sacerdócio ministerial um poder demasiadamente humano. O sacerdócio ministerial não é obra humana. É dom de Deus em Jesus Cristo Sacerdote, para nós que formamos o seu povo. E se vivemos o ministério sacerdotal como poder humano ou à semelhança de um modelo humano, estaremos fazendo tudo o que Jesus Cristo não fez e tudo o que Jesus Cristo não quis fazer. E não quer que também nós, seus ministros ordenados, o façamos ao longo da nossa vida”, admoestou Dom Tomé.
Para o bispo, quando o ministro ordenado torna-se inoportunamente incapaz de dar a sua vida pelo povo de Deus, ele torna-se um funcionário da Igreja. “Em vez de bem, ele começa a fazer mal ao povo de Deus”, lamentou.
O bispo pediu que rezemos por Frei Roberto. “Para que seja um sacerdote ao modo de Cristo Sacerdote, ele precisa da nossa oração, da nossa amizade, do nosso apoio”, enfatizou.
No final, lembrou o exemplo de São Francisco. “Frei Roberto, como franciscano, você tem em São Francisco de Assis, o fundador da sua Ordem religiosa, o modelo de vida sacerdotal. Ele não foi sacerdote, ministro ordenado da Igreja, mas ele foi sacerdote pelo seu batismo e soube viver essa realidade intensamente, talvez no grau máximo possível a uma pessoa. Que contemplando esse sacerdócio existencial de São Francisco de Assis, você possa motivar a vossa vida sacerdotal, doravante em São Paulo ou onde a sua Ordem religiosa precisar de seus préstimos e de seus trabalhos!”, desejou.
Terminada a homilia teve início o rito de ordenação . Frei Roberto foi revestido das vestes litúrgicas por Frei Walter de Carvalho Júnior e Frei Euclydes Pezzamiglio, seus confrades na Fraternidade da Vila Clementino. O Sr. Seiichi e Dona Regina Shimatai, tios e padrinhos de Batismo de Frei Roberto, trouxeram a estola e a casula. Já como presbítero, Frei João recebeu o cálice e patena de Dom Tomé e, pela primeira vez, ele exerceu o seu ministério, concelebrando com o bispo e os presbíteros.
O Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel falou em nome da Província da Imaculada que todos estavam muito felizes, louvando e agradecendo a Deus por esta graça que ele concedeu a Frei Roberto. “São Francisco nos diz: ‘considerai a vossa dignidade irmãos sacerdotes e sede santos como o Senhor é santo’. Que você, Frei Roberto, possa exercer esse ministério sacerdotal na santidade de Deus”, disse, agradecendo aos pais, que “nos deram um irmão necessário, que nós chamamos simplesmente de confrade”.
Frei Fidêncio agradeceu a todos da Paróquia da Vila Clementino pela preparação do Tríduo e da ordenação, mas fez uma homenagem especial a Dom Tomé, que vai tomar posse no dia 16 de novembro na Diocese de São José do Rio Preto. “Dom Tomé, em primeiro lugar, agradeço por ter presidido esta celebração, ordenando assim para a Igreja de Deus este nosso confrade. Em segundo lugar, caríssimo Dom Tomé, no próximo dia 16 de novembro, o sr. estará celebrando a Eucaristia em São José do Rio Preto e, nesta Eucaristia, estará assumindo oficialmente o pastoreio daquela Diocese. Há poucos dias, nós recebemos a sua carta de gratidão e convite para esta celebração e, nesta carta, o sr. se expressa com o poema de Carlos Drummond de Andrade, que aqui quero ler um trecho:
‘Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri…
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul…
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza’…
Dom Tomé, nós, desta fraternidade, e nós, povo de Deus desta comunidade paroquial, queremos nesta hora expressar a nossa gratidão pela sua presença de pastor amigo, ajudando-nos a ser comunhão na grande Arquidiocese de São Paulo. Ao mesmo tempo lhe desejamos um bom pastoreio na Diocese de São José do Rio Preto. Que o sr. possa ser presença constante do ‘cheiro de passarinho quando canta… do colo de Deus… e estrela de Deus’, para aquela Igreja que o próprio Senhor lhe confiou!”, completou.
Frei Roberto, sempre sorridente, carinhoso e acenando para as pessoas, às vezes até quebrando com singeleza o rito, brincou que tinha preparado um agradecimento de 40 minutos, mas resolveu diminuir o tempo e que falaria apenas 35 minutos, arrancando risos dos fiéis. Não chegou a falar esse tempo, mas não deixou de citar os nomes de todas as pessoas que ele conheceu e que tiveram participação neste momento especial de sua vida, a começar pelo bispo, passando pela Província, seus confrades, familiares, religiosos e religiosas, Paróquia, funcionários e amigos que trabalham nos hospitais da região paroquial, onde faz a sua Pastoral da Saúde. No final, fez um apelo: “Eu peço orações a todos, para que, com auxílio da graça, possa buscar constantemente, três coisas: o zelo eucarístico à semelhança de São Francisco e Santa Clara; o exercício do ministério à semelhança de São João Maria Vianey; e o permanecer de pé aos pés da Cruz sempre ao lado de Maria Santíssima”.
Frei Roberto vai celebrar neste domingo, dia 21, às 9 horas, a sua Primeira Missa na mesma igreja, tendo como pregador Frei Paulo César Ferreira da Silva.