Carta do Ministro Geral para o Natal de 2025
16/12/2025

A todos os Frades Menores da Ordem
Às Irmãs contemplativas da nossa Família
Às Irmãs da TOR e aos irmãos e irmãs ligados à nossa Ordem
Roma, 14 de dezembro de 2025
III Domingo do Advento – Gaudete
Caros Irmãos e Irmãs,
o Senhor vos dê a paz!
Neste Natal de 2025, enquanto chega ao término o Jubileu da Esperança que o Papa Leão XIV encerrará no dia 6 de janeiro de 2026, e enquanto nos aproximamos da memória do bem-aventurado Trânsito de Francisco na Porciúncula em 3 de outubro de 1226, desejo compartilhar convosco uma palavra de esperança que nasce da contemplação do mistério da encarnação, assim como Francisco o viveu e no-lo entregou.
O DESEJO DE FRANCISCO:
VER E TOCAR O EVANGELHO
O seu desejo maior era viver o Evangelho. E em Greccio quis «ver de algum modo com os olhos corporais os apuros e necessidades da infância do menino que nasceu em Belém, como foi reclinado no presépio e como, estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno»1. Quis ver como Jesus «nos foi dado e nasceu por nós no caminho»2, pobre e nu, assim como Francisco quis ir «nu ao encontro do Senhor»3.
Greccio e a memória sempre atual do Evangelho, vivido sine glossa com a Regra, inauguraram em 2023 a celebração do VIII Centenário franciscano. Esta memória inscreveu-se na carne de Francisco com os Estigmas e o abriu, por inspiração divina, à beleza daquele Cântico de louvor ao qual convidou todas as criaturas, para reconhecer o Altíssimo e bom Senhor, fonte de todo bem.
Neste Natal de 2025, iluminado pela esperança, o Centenário abre-se agora àquele da Páscoa de Francisco no seu encontro com a morte, cantada como irmã.
Neste caminho, Clara acompanhou os passos de Francisco com discrição e profundo amor: desde o tempo transcorrido pelo próprio Francisco em São Damião compondo o Cântico das criaturas e o “Audite, Poverelle” (“Ouvi, pobrezinhas”), até aquele extremo gesto de ternura com o qual Clara, com as suas irmãs, acolherá e beijará o corpo chagado de Francisco enquanto é conduzido à sepultura. Um gesto que abriga cuidadosamente não apenas seu corpo, mas também sua viva memória carismática.
Clara também, como Francisco, cantou o mistério do Menino nascido pobre. Nas suas Cartas a santa Inês de Praga convida a contemplar a pobreza de Jesus: «Preste atenção à pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra repousa numa manjedoura»4. Clara contempla Maria, «Virgem pobrezinha» que deu à luz o Filho de Deus carecendo daquelas coisas de que uma criança precisa ao nascer, e convida a seguir «os passos de Jesus Cristo pobre e humilde»5, a fazer-se «desprezível por Ele neste mundo» como Ele se fez desprezível por nós»6.
HABITAR A MEMÓRIA VIVA DOS ÚLTIMOS ANOS DE FRANCISCO
Os últimos anos da vida de Francisco recolhem o seu caminho e no-lo entregam como narração contemporânea, ainda capaz de inspirar-nos.
O Natal deste ano alcança-nos com a riqueza desta memória e com o convite a continuar com a nossa vida a narração daquilo que o Senhor fez em frade Francisco e continua a fazer em nós.
No dia 10 de janeiro de 2026, concluído o ciclo natalício, abriremos como Família franciscana o Centenário do bem-aventurado Trânsito de Francisco. Faremos isso juntos na Porciúncula, onde ele mesmo quis ir ao encontro da irmã morte, rodeado pelos seus irmãos, por frade Jacoba e por bandos de cotovias que acompanharam o seu último voo.
OS VOTOS DE NATAL:
UMA NARRAÇÃO DE GRAÇA
Os Votos de Natal que dirijo a todos vós, irmãos e irmãs caríssimos, são ainda, persistentemente, os da esperança.
Encontro um eco desses naquela narração única que é o Testamento de Francisco, escrito precisamente na iminência do seu encontro com a irmã morte. Este texto encerra, como tesouro precioso, a confissão de Francisco que reconhece a iniciativa de Deus presente nos momentos principais da sua vida: seja no encontro de misericórdia com os leprosos, como naquele com a Igreja; seja ao acolher o dom dos irmãos, como ao decidir-se pela saudação de paz e pela vida segundo o Evangelho.
Desejo a todos e a cada um que este Natal possa tornar-se também para nós narração daquilo que o Senhor fez por nós.
Permanecendo no caminho, sobretudo em companhia dos pequenos e dos pobres e de tantos homens e mulheres de boa vontade, podemos não apenas ver e contemplar o Senhor no mistério da sua carne presente entre nós, mas deixar que ele se inscreva na nossa carne e nos conforme e transforme n’Ele graças ao Espírito do Senhor.
Não é talvez esta a experiência de Francisco no Alverne com os estigmas, da qual também fizemos memória nestes anos?
DEIXAR QUE O NATAL
SE INSCREVA NA NOSSA CARNE
Que o Natal possa inscrever-se na nossa carne e não nos dar trégua no sentido de recordar-nos o centro ao qual sempre voltar: Jesus Cristo. N’Ele podemos estar como filhos diante do rosto do Pai, animados pelo Espírito! Fora deste centro, a memória do Poverello não permaneceria talvez incompreensível ou ao menos muito reduzida?
Votos de um bom Natal, que nos faça tocar e ver ainda a carne de Jesus, desde o mistério da sua encarnação até ao encontro com os outros, no anúncio inestancável do perdão e da paz.
Seja este Natal, ainda na memória de Francisco, homem de reconciliação e de esperança, um tempo em que cultivar a paz com gestos concretos, não nos cansando de rezar incessantemente por essa. Recordemo-nos em particular da Terra Santa, encruzilhada dramática e providencial dos caminhos de tantos homens, e juntamente da Ucrânia, do Leste do Congo, de Myanmar, do Haiti e de tantas outras terras atormentadas com conflitos.
Recebam, enquanto nos preparamos para inaugurar o centenário da Páscoa de Francisco, os meus votos fraternos de um feliz e santo Natal do Senhor, repleto da sua paz para todos e para o mundo!
Com a Bênção de São Francisco, saúdo-vos fraternalmente.
Vosso irmão e servo,
Fr. Massimo Fusarelli, OFM
Ministro Geral
Prot. 114831/MG-208-2025
1. Primeira de Celano, 84.
2. Ofício da Paixão do Senhor, Salmo [XV], 7.
3. Segunda de Celano, CLXII, 214, 6.
4. Quarta carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga, 19-21.
5. Terceira carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga, 4.
6. Segunda carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga, 19.
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