Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Perdão de Assis em Vila Velha: “O que ficou para trás, ficou! Lança-te para o que vem à frente!”

04/08/2025

Notícias

Vila Velha (ES) se transformou na cidade de Assis! Foi com esse entusiasmo que fiéis se uniram aos frades da Paróquia do Rosário e do Convento da Penha para a celebração do Perdão de Assis, a festa da reconciliação, recordação do berço do movimento franciscano. Na noite da última sexta-feira, 1º de agosto, milhares de pessoas se concentraram em frente à igrejinha de Nossa Senhora do Rosário, na Prainha,  considerada ponto inicial da história capixaba, que nesse dia concentrou os  fiéis para a  caminhada penitencial.

“Para nós franciscanos neste estado, assim como, para os franciscanos do mundo inteiro, a Festa da Porciúncula, nos remete ao início da Ordem, pois foi a partir da pequena igreja em Assis que Francisco e seus primeiros frades, se dispuseram a vencer os desafios de sair pelo mundo a anunciar o perdão, a paz e o bem! Hoje, cada um veio proclamar sua fé e buscar a misericórdia do Senhor, e assim, é agraciada com um dom precioso de Deus, dom que reanima, revigora, levanta e cura as feridas. Este dom é o próprio Deus”, animou Frei Vanderlei da Silva Neves, pároco da Paróquia do Rosário.

Ainda nos momentos iniciais da celebração, os penitentes foram convidados a realizar o acendimento das velas a partir da Luz do Senhor do Círio Pascal. Em seguida, todos reafirmaram um compromisso de amor: “Cristo, quero ser instrumento de tua paz e do teu infinito amor”. Desta forma, saíram em procissão luminosa cantando, meditando os mistérios dolorosos da redenção, juntamente com Frei Paulo César Ferreira e  Frei Jorge Lázaro de Souza conduziram o trajeto orante.

Na estrada de acesso ao Campinho, por diversos momentos ecoou o apelo pela paz, o silêncio pelas lembranças e o som da natureza, a qual São Francisco de Assis tratava com “irmã”. Nesse mesmo caminho, muitos também reforçaram no coração o desejo pela reconciliação, num “tripé” de situações: reconciliação com o irmão e com a Casa Comum; reconciliação com Deus; e reconciliação consigo mesmo.

As velas não apenas iluminaram a caminhada, como também encheram de brilho todo o Campinho. A medida em que chegavam, os “peregrinos de esperança” cantavam, recuperavam as forças e entravam no clima de recolhimento, de contrição.

O grupo de Teatro Santa Clara, encenou o acontecimento que originou a Indulgência da Porciúncula. “Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor”.

Durante a apresentação, o ator representando São Francisco de Assis se colocou ajoelhado diante do Crucifixo de São Damião, como narra a história. “O jovem Francisco encontrava-se numa crise espiritual, cheio de dúvidas e trevas. ‘Conduzido pelo Espírito’, entra na igrejinha de São Damião, onde se prostra, súplice, diante do Crucifixo. Tocado de modo extraordinário pela graça divina, encontra-se totalmente transformado. É então que a imagem de Cristo Crucificado lhe fala: ‘Francisco, vai e repara minha casa que está em ruína’.”

Na sequência, foi proclamado o Evangelho (Lucas 1,26-38) e a reflexão feita pelo Frei Gabriel Dellandrea, Guardião e Reitor do Convento. Ele esteve em Assis recentemente para uma experiência de peregrinação. Durante sua reflexão, o frade utilizou uma metáfora do “pão de queijo”, falando do sabor do alimento tipicamente mineiro, como algo saboroso que São Francisco também experimentou. “A partir dessa imagem que quero explicar um pouco a celebração de hoje: Francisco de Assis nunca comeu pão de queijo, mas experimentou algo muito mais saboroso: a misericórdia de Deus. E assim como eu faço com o pão de queijo, ele não se contenta de ter apenas para si. Quer que todos experimentem o sabor do perdão, a graça de se alimentar da esperança misericordiosa que vem de Deus”, disse.

“Por isso, assim como um dia eu experimentei o pão de queijo da lanchonete do Convento, Francisco experimentou a misericórdia do Senhor. O perdão é, antes de tudo, uma abertura a querer ser perdoado. Num lugar onde Francisco de Assis costumava se retirar em oração, no processo de sua conversão, ele se colocava diante do Senhor com temor e tremor, como vemos na imagem aqui (atrás do frade). E ali, ele rezava: ‘Ó Deus, sede propício a mim, pecador’. Para poder obter a graça do perdão a pessoa deve ter fome de perdão, assim como eu tenho fome de pão de queijo. Mal sente o cheiro do perdão e já se anima: a misericórdia se aproxima, a misericórdia já me alimenta pelo seu cheiro. Para alcançar o perdão é preciso querer ser perdoado. É olhar para dentro de si mesmo e dizer: já não quero ser moldado pelas minhas vontades mesquinhas mas quero me entregar à grandeza do amor de Deus”, exortou Frei Gabriel.

Em seguida, completou: “E Francisco não só sente o cheiro da misericórdia: o Senhor o visita e, como afirma um de seus biógrafos, ‘uma indizível alegria e máxima suavidade’ pouco a pouco começaram a inundar o íntimo de seu coração. Começou também a sentir-se indigno e, tendo sufocado os maus pensamentos sentimentos e afugentado as trevas que, pelo temor do pecado, haviam crescido em seu coração, foi-lhe infundida a certeza do perdão de todos os pecados e mostrada a confiança de viver na graça. Em seguida, foi arrebatado em êxtase e totalmente absorvido por uma luz e, tendo aberto as portas do seu coração, viu claramente as coisas que haveriam de acontecer. Retirando-se finalmente aqueça suavidade e luz, renovado no espírito, ele parecia transformado em um outro homem”, detalhou o Guardião da Penha.

Frei Gabriel ainda destacou que São Francisco alcançou o “sabor” da misericórdia de Deus não apenas para si, mas para todos. “É como se o Senhor dissesse a São Francisco: ‘Francisco, o que ficou para trás, ficou! Lança-te para o que vem à frente!’. E, sem sombra de dúvidas, ele saiu transformado para anunciar o amor que o atingiu. E assim como eu faço com o pão de queijo que quero que os meus amigos, freis e familiares experimentem, Francisco faz com o perdão. Não retém para si mas, por meio do pedido que fez ao papa, alcançou o sabor da misericórdia de Deus não apenas para si, mas para todos que visitassem uma Igreja Franciscana como nós hoje. Ele pediu ao Papa que concedesse que todos que entrassem na Igreja que ele reconstruiu, que tem como nome Porciúncula, fossem perdoados dos pecados depois de se arrependerem dos mesmos. O Papa perguntou para ele: ‘Por quanto anos queres esta indulgência?’ Francisco, de pronto respondeu-lhe: ‘Pai Santo, não peço por anos, mas por almas’. E assim, na mesa do perdão que Francisco põe e Deus serve o prato principal, agora estamos aqui também nós. E vamos ser sinceros: mesmo que o pão de queijo seja bom, melhor e ainda mais nutritivo é o amor do Senhor que nos alcança nas nossas misérias e faz delas um ponto de encontro conosco para perdoar!”.

Por fim, o jovem frade conclamou o perdão para os fiéis. “Por isso, irmãos e irmãs, não podemos reter para nós apenas aquilo que experimentamos como algo bom. Através do Perdão nós iremos nos alimentar juntos de um alimento sem fim. Vamos nos alimentar do Perdão de Deus que nos deixa mais leves, diferente do pão de queijo que engorda. Vamos saciar a nossa fome de misericórdia levando conosco a alegria do perdão por todo lugar, enquanto que pão de queijo bom como esse é só aqui. E, sempre sobra, no cestinho, alguns pães de queijo que a aqueles a quem eu ofereci não comeram. Eu me alimento depois. A misericórdia, ofertada aos outros, é exagerada… Sempre vai ter para aquele que oferece. Portanto, o que hoje celebramos aqui não é só uma celebração bonita com vista para o Convento de noite. Celebramos a certeza que infundiu o coração de Francisco: ‘Francisco, o que ficou para trás, ficou! Lança-te para o que vem à frente!’. Perdoados, agora somos garçons do perdão: queremos levar a misericórdia saborosa que experimentamos a todos que conhecemos. E assim, encheremos esse mundo de paz e bem!”, finalizou.

Houve o ato penitencial e a renovação das promessas batismais. Logo depois, Frei Gabriel conduziu o momento do ato penitencial”, rezaram o Pai Nosso e em ação de graças, como experiência franciscana, foram chamados a lançar a mensagem de perdão e de reconciliação. Cerca de 90 crianças espalharam diversos balões em formato de coração, símbolo do amor, do compromisso de esperança.


Cristian Oliveira (ASCOM)