Indulgência e Perdão de Assis: Promoção da Graça e Auxílio Pastoral
01/08/2025

No dia 2 de agosto de cada ano, por graça concedida por Deus através da Igreja e suplicada por nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis, todos os fiéis que visitarem uma igreja paroquial podem lucrar a INDULGÊNCIA PLENÁRIA DO PERDÃO DE ASSIS, desde que cumpram os requisitos ordinários ligados a esse significativo sinal da misericórdia divina.
Antes, porém, de falarmos especificamente sobre o Perdão de Assis, faz-se necessário recordar o significado das indulgências na doutrina da Igreja, a fim de que pastores e fiéis possam melhor celebrá-las e fomentá-las na comunidade eclesial.
As indulgências plenárias constituem um aspecto significativo da doutrina e da prática da Igreja Católica, profundamente ligadas ao sacramento da Penitência e à comunhão dos santos. Elas oferecem aos fiéis a remissão da pena temporal devida pelos pecados, cuja culpa já foi perdoada pelo sacramento da Penitência.
O sentido teológico das Indulgências
A doutrina das indulgências baseia-se no entendimento de que o pecado possui duas consequências: a culpa e a pena. O perdão da culpa e a restauração da comunhão com Deus são alcançados, ordinariamente, pelos sacramentos do Batismo e da Penitência, implicando também a remissão da pena eterna (a condenação). No entanto, mesmo após o perdão da culpa, permanece a pena temporal, isto é, a necessidade de purificação das consequências do pecado.
Não se pode esquecer: todo pecado causa uma desordem na alma e um apego desordenado às criaturas, o qual precisa ser purificado, seja nesta vida ou após a morte. Além disso, o mal causado pelo pecado não se limita à esfera pessoal, pois traz repercussões sociais, afetando o mundo e as pessoas ao nosso redor. Quando escolho ferir minha vocação ao amor e à santidade, também comprometo a resposta e a caminhada dos demais.
Uma imagem que ilustra bem essa doutrina é a de um belo vitral que encanta a todos que o contemplam. Alguém, porém, decide atirar uma pedra, danificando parte da obra. A decisão e o gesto foram individuais, mas o dano prejudicou a contemplação de todos. Arrependido de seu ato, o agressor pede perdão ao Dono do vitral, que, movido por bondade, o perdoa. Entretanto, o perdão da culpa não repara, por si só, o dano causado. Aquele que se arrependeu deve empregar os meios possíveis para restaurar a beleza do vitral. Sabendo que as ferramentas do Dono são as mais adequadas, recorre a Ele, não por obrigação, mas por desejar devolver a beleza da obra — não apenas para si, mas para todos. Seus esforços, unidos à graça recebida, tornam-se testemunho e contribuição para os demais, mostrando que é possível reparar os danos provocados e dos quais nos arrependemos.
A Igreja, como ministra da Redenção, dispensa e aplica com autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos. Esse “tesouro da Igreja”, de valor ilimitado e inesgotável, contempla as expiações e méritos oferecidos por Cristo para libertar a humanidade do pecado e gerar comunhão com o Pai. Inclui também o valor das orações e boas obras dos mártires e santos que, em união com Cristo, contribuíram para a salvação dos membros do Corpo Místico.
Por meio das indulgências, a Igreja, em virtude do poder de ligar e desligar concedido por Cristo, abre aos fiéis esse tesouro de méritos, obtendo do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas pelos pecados. O pecado grave separa o fiel da vida da graça, não porque Deus o castigue, mas porque ele escolheu afastar-se da santidade. Dotada por Cristo com a graça de perdoar em Seu nome, a Igreja é, no mundo, a presença viva de Seu amor, que se inclina sobre a fraqueza humana para acolher, no abraço de Sua misericórdia, aqueles que O buscam.
As indulgências são, portanto, um ato de graça de Deus, concedido pela oração da Igreja, permitindo que a reparação necessária ocorra sem o sofrimento que normalmente a acompanharia.
O sacramento da Penitência oferece ao pecador a possibilidade de conversão e de ser reinserido plenamente na vida da Igreja. Uma vez perdoado, o fiel recupera a comunhão com o Pai e com a comunidade, sobretudo pela participação na Eucaristia. No entanto, a Igreja ensina que o perdão gratuito de Deus deve levar a uma mudança de vida: romper progressivamente com o mal e renovar a própria existência. Assim, ao ato sacramental deve corresponder um ato existencial. Se a Penitência perdoa a culpa, a indulgência colabora na remissão da pena temporal, auxiliando o fiel em sua conversão com o auxílio da graça divina.
A importância Pastoral das Indulgências
Importa reafirmar: o fiel não está sozinho em seu caminho de conversão. Em Cristo e por Cristo, sua vida está unida, por um vínculo misterioso, à vida de todos os outros cristãos na unidade do Corpo Místico. Assim, as indulgências, concedidas por Cristo por meio da Igreja, não beneficiam apenas o indivíduo, mas tornam-se patrimônio espiritual de todos os membros da Igreja. A santidade de um contribui, com maior intensidade, para a salvação dos outros, do que o pecado de um pode prejudicar.
Há pessoas que deixam atrás de si um verdadeiro saldo de amor, sofrimento suportado, pureza e verdade, que sustenta os demais. Cada passo de conversão é também auxílio para outros em seu processo de conversão.
Pastoralmente, portanto, as indulgências não apenas auxiliam os cristãos, mas os incentivam à prática de obras de devoção, penitência e caridade. São um convite à conversão contínua e à busca da santidade. Reforçam a doutrina da comunhão dos santos, que nos une em caridade: os fiéis da terra, do purgatório e do céu podem interceder uns pelos outros. Nessa troca maravilhosa, a santidade de um beneficia os demais, possibilitando uma purificação mais eficaz ao pecador arrependido.
Dessa forma, as indulgências não são práticas mecânicas ou mágicas, mas expressões da graça que todos desejamos viver e testemunhar ao livremente escolhermos ser discípulos de Jesus Cristo.
Na prática pastoral, para evitar uma piedade intimista ou legalista, é necessário explicar o significado teológico e eclesial das indulgências. Importa também destacar que elas são apenas uma das diversas práticas cristãs propostas pela Igreja, como o terço, a leitura orante da Palavra, a visita ao cemitério com oração pelos falecidos, e outras obras de misericórdia.
Como Lucrar a Indulgência Plenária do Perdão de Assis
A Indulgência Plenária do Perdão de Assis pode ser obtida por todos os fiéis que visitem uma igreja paroquial — franciscana ou não — em qualquer lugar do mundo, entre o meio-dia do dia 1º de agosto e o final do dia 2 de agosto.
Originalmente concedida à Porciúncula (na Basílica de Santa Maria dos Anjos), essa indulgência foi estendida a todas as igrejas franciscanas e, posteriormente, a todas as igrejas paroquiais.
- As disposições para lucrá-la são:
- Confissão sacramental;
- Participação na sagrada Comunhão (preferencialmente na Missa);
- Oração pelas intenções do Papa (sugere-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria, mas qualquer oração é válida).
Essas práticas podem ser realizadas alguns dias antes ou depois da visita à igreja (aproximadamente 20 dias).
É fundamental que essas disposições sejam compreendidas em sua dimensão teológica e espiritual, para que não se tornem meras regras cumpridas mecanicamente. Elas são caminhos de conversão, identificação com Cristo e transformação da vida à semelhança de Deus, sobretudo no amor, na misericórdia e na comunhão.
Não por acaso, as três condições exigidas para lucrar a indulgência relacionam-se diretamente com essas dimensões.
A Indulgência do Perdão de Assis, assim como outras formas de indulgência, é uma rica oportunidade, expressão da missão salvífica de Cristo e da maternidade espiritual da Igreja. É concedida aos fiéis para que avancem em sua conversão e vivam com fidelidade a vocação à santidade que todos recebemos no Batismo — vocação tão desejada e sonhada por São Francisco para todos os homens e mulheres.
Frei Rodrigo da Silva Santos


