Perdão de Assis: 2 de agosto
- Apresentação
- O dia 2 de agosto
- Indulgência e Perdão de Assis: Promoção da Graça e Auxílio Pastoral
- O testemunho das Fontes Franciscanas
- Como São Francisco pediu e obteve a indulgência do perdão
- Novena a Nossa Senhora dos Anjos
- Orações
- Textos litúrgicos para a festa
- Porciúncula: berço da fraternidade
- A veracidade da Indulgência da Porciúncula
- A Virgem Maria na contemplação de Francisco e Clara
Apresentação
Oração a Nossa Senhora dos Anjos
Ó Nossa Senhora, dos Anjos, na pequena Igreja da Porciúncula,
São Francisco recebeu as vossas bênçãos generosas juntamente com sua Ordem. Ele depositara na vossa presença materna uma grande confiança e devoção, sendo atendido em seus pedidos. Continuai a dispensar os vossos favores sobre nós e sobre nossas necessidades particulares.
Nós vos suplicamos, dai-nos a graça da penitência e de Deus o perdão dos pecados, a correção de nossas más inclinações e fortalecimento nos momentos de fraqueza. Quantos recusam a salvação e preferem caminhar nas trevas do erro! Tudo é possível para aquele que crer, para aquele que se arrepender!
Vós, ó Mãe, manifestastes a São Francisco o grande desejo de reconciliar os pecadores com Jesus, que se entregou em uma cruz para nos salvar. Rogai por nós, agora e na hora de nossa morte. Por isso, com todos os anjos do céu, vos saudamos: Ave Maria …´
Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula
Anualmente, a Família Franciscana celebra, com gratidão e piedade, a festa de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula. A memória de Maria, invocada pelo título de Senhora dos Anjos, já seria motivo suficiente para reunir os irmãos e irmãs que têm profunda devoção à Senhora pobre eleita para ser a Mãe do Salvador. Mãe do Rei do Universo, Maria é a Rainha do Céu, servida e cantada pelos anjos. Mãe e Rainha, ela intercede pelos filhos e filhas de São Francisco para que se mantenham fiéis à missão de revelar ao mundo a predileção de Deus pelos pobres e pelos que desejam servir ao Senhor com todo o seu coração. Entretanto, além de festejar a memória mariana, a festa da Porciúncula se converte em oportunidade inigualável para o revigoramento da vocação franciscana. Para a família franciscana, a recordação da festa de Santa Maria dos Anjos remete ao vigor inicial da experiência que deu formas ao modo de vida evangélica proposto pelos primeiros companheiros e companheiras de Francisco de Assis. O itinerário de santidade percorrido por Francisco não pode ser contado sem que se mencione a pequena igreja dedicada à Santa Maria dos Anjos, localizada nas proximidades da cidade de Assis.
No início do chamado “processo de conversão”, Francisco assumiu um estilo de vida parecido com os peregrinos solitários, comuns na sua época. Vestido pobremente, buscava viver como esmoler e procurava garantir seu sustento a partir do trabalho com as próprias mãos. A ele se atribui a restauração de pequenas igrejas que se encontravam abandonadas, dentre as quais a igrejinha de São Damião, uma outra dedicada a São Pedro e a Porciúncula, dedicada à Mãe de Deus, a Senhora dos Anjos. Assim registra o biógrafo Tomás de Celano: “Depois que o santo de Deus trocou de hábito e acabou de reparar a mencionada igreja (São Damião), mudou-se para outro lugar próximo da cidade de Assis. Aí começou a reedificar outra igreja (São Pedro), abandonada e quase destruída, e desde que pôs mãos à obra não parou enquanto não terminou tudo. Dali passou a outro lugar, chamado Porciúncula, onde havia uma antiga igreja da Bem-aventurada Virgem Mãe de Deus, mas estava abandonada e nesse tempo não era cuidada por ninguém. Quando o santo de Deus a viu tão arruinada, entristeceu-se porque tinha grande devoção para com a Mãe de toda bondade, e passou a morar ali habitualmente” (Vita I, 21).
A Porciúncula e o Movimento Franciscano
A referida Porciúncula proporcionou o transformador encontro de Francisco com o Evangelho. O texto, registrado pelos sinóticos, que apresenta o mandato de Jesus e o modo dos discípulos irem em missão, calou fundo na alma sedenta do “Pobrezinho de Assis”. Mais uma vez, nos valemos do testemunho de Celano: “Mas, como em um dia foi lido nessa igreja o evangelho de como o Senhor enviou seus discípulos para pregar, o santo de Deus, aí presente, ouvindo bem as palavras do evangelho, depois da celebração da missa suplicou ao sacerdote que lhe explicasse o evangelho. Depois que ele lhe explicou tudo em ordem, ouvindo são Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a penitência, ficou logo exultante e disse: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração” (Vita I, 22).
A decisão de Francisco pelo Evangelho logo estimulou outras mentes e corações a trilhar o mesmo caminho. Em pouco tempo Francisco se encontrou rodeado de pessoas que desejavam, como ele, desposar a Senhora Dama Pobreza. A pequena igreja que havia sido restaurada passa, então, a ser o lugar de congregação dos que aderiam à proposta de vida apresentada por Francisco. Além de ser o local onde foram acolhidos os primeiros irmãos, também na Porciúncula a jovem Clara teve seus cabelos cortados e pôde iniciar o seu venturoso caminho penitencial: “Foi esse o lugar feliz e abençoado em que teve auspicioso início a família religiosa e excelentíssima Ordem das Senhoras Pobres e santas virgens, quase seis anos depois da conversão do bem-aventurado Francisco e por seu intermédio. Nela estabeleceu-se dona Clara, natural de Assis, como pedra preciosa e inabalável, alicerce para as outras pedras que haveriam de se sobrepor” (Vita I, 18). Não causaria estranhamento se a história registrasse a pequena igreja dedicada à Santa Maria dos Anjos como lugar onde Francisco acolheu o casal Luchesio e Buonadona e os instruiu a fim de que pudessem viver os compromissos com o Evangelho a partir do seu próprio lar. Esta modalidade de adesão à proposta de Jesus Cristo inaugurou o caminho trilhado pelos que, hoje, formam a Ordem Franciscana Secular.
Tendo sido o lugar do acolhimento dos irmãos da primeira hora; sendo o lugar dos primeiros passos do luminoso itinerário de Clara e também do propósito do casal Luchesio e Buonadona, a Porciúncula passou a ser identificada como a fonte do Movimento Franciscano. A propósito, a palavra movimento indica dinamismo, criatividade, chegadas, recomeços e partidas. Na história franciscana, a Porciúncula dá contornos a esta dimensão. Os famosos Capítulos que reuniam irmãos às centenas, depois, aos milhares, tinham lugar ali sob a proteção da “Mãe pobre do Filho pobre”. O próprio Francisco, tantas vezes, quis voltar à Santa Maria, como naquela vez, registrada pela legenda que relata que, junto com frei Leão, ele atravessa o caminho sob a neve, com fome com frio, na direção do local onde os irmãos haviam se instalado e, sem serem acolhidos e sendo tratados como malfeitores, tudo suportam por causa da paixão do Senhor e pelo desejo de assemelharem-se a Ele.

Porciúncula, Testamento e Cântico do irmão sol
Espaço dos revigorantes recomeços, a Porciúncula foi também o lugar dos derradeiros momentos da vida do irmão de Assis. O corpo alquebrado, atormentado pela cegueira que avançava e pelas dores que se multiplicavam, era, paradoxalmente, o cárcere do espírito cada vez mais livre de Francisco de Assis. A liberdade, solidificada na robustez das suas convicções, proporcionou a Francisco a lucidez necessária para que fizesse registrar em palavras as balizas do itinerário de fidelidade ao Evangelho. Assim, nos seus últimos dias em Santa Maria, Francisco pediu fosse redigido seu “Testamento”. Neste escrito o Santo de Assis relembra o início do seu itinerário de penitência e identificação com o projeto de Jesus: “O Senhor assim deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: porque, como estava em pecados, parecia-me por demais amargo ver os leprosos. E o próprio Senhor me levou para o meio deles, e fiz misericórdia com eles. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo; e depois parei um pouco e saí do século”. Em seguida, ele reserva especial atenção ao dom mais precioso da sua proposta de vida, a fraternidade: “E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me ensinava o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que deveria viver segundo a forma do santo Evangelho”. O Testamento também fala do modo como os irmãos devem viver: “E os que vinham tomar a vida davam aos pobres tudo que podiam ter, e estavam contentes com uma única túnica, remendada por dentro e por fora, com o cíngulo e as calças, e não queríamos ter mais e éramos iletrados e súditos de todos”. O santo indica ainda a importância do trabalho manual para o sustento da vida e missão da fraternidade: “eu trabalhava com minhas mãos, e quero firmemente que todos os outros frades trabalhem em trabalho que convém à decência. Os que não sabem, aprendam, não pela cobiça de receber o preço do trabalho, mas pelo exemplo e para repelir a ociosidade”. Para indicar a relevância de suas palavras, Francisco distingue o Testamento da Regra e garante que este não substitui aquela, mas é dela uma recordação: “não digam os frades: Esta é outra Regra; porque esta é uma recordação, admoestação, exortação e meu testamento, que eu, Frei Francisco, pequenino, faço a vós, meus irmãos benditos, para isto: para que mais catolicamente observemos a Regra que prometemos ao Senhor”. E conclui: “todo aquele que observar estas coisas, no céu seja repleto da bênção do altíssimo Pai e na terra seja repleto da bênção do seu dileto Filho com o santíssimo Espírito Paráclito e todas as virtudes do céu e todos os santos”.
Um dos escritos mais famosos da história franciscana é o “Cântico do irmão sol”, aliás, neste ano jubilosamente se celebra os 800 anos da sua composição. Assim como o Testamento, este escrito nasceu a partir da síntese das experiências de finitude e dor, de liberdade e desprendimento, conversão e santidade, que identifica os últimos anos de vida de Francisco de Assis. Não foi escrito em Santa Maria; mas foi nos seus últimos meses de vida que, na Porciúncula, Francisco fez escrever as estrofes que deram a configuração final a esta notável obra: “Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam pelo teu amor e suportam enfermidade e tribulação; bem-aventurados os que as suportarem em paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados”. O acréscimo destas palavras não se deu porque as anteriormente escritas eram débeis e careciam de complementação; ao contrário, as letras escolhidas para louvar a Deus, o Senhor Irmão Sol, e todas as suas criaturas não formam apenas uma obra literária irretocável. Este canto é a expressão mais eloquente de um coração que, com todas as forças, quis, desejou e procurou a alegria do Evangelho. O “Cântico do irmão Sol” é a louvação mais vibrante de um ser totalmente realizado. Tendo alcançado o termo de sua existência na terra, Francisco se encanta e canta o amor infinito do Criador expresso no vigor de todas as criaturas.
O Cântico da reconciliação
A legenda franciscana registra o icônico momento em que, ao ouvir o “Cântico do irmão sol”, o prefeito e o bispo de Assis, divididos pelo ódio e pela incompreensão, se reconciliaram: “O bem-aventurado Francisco ficou com pena deles, principalmente porque nenhum religioso ou secular se intrometia para cuidar de sua paz e concórdia. E disse a seus companheiros: É uma grande vergonha para vós, servos de Deus, que o bispo e o prefeito se odeiem desse jeito e nenhuma pessoa entre no meio para cuidar de sua paz e concórdia. E sim fez um verso nas seus Louvores para aquela ocasião, este “Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam pelo teu amor e suportam enfermidade e tribulação; bem-aventurados os que as suportarem em paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados”. Depois chamou um de seus companheiros, dizendo-lhe: Vá dizer de minha parte ao prefeito que ele com os magnatas da cidade e outros, que pode levar consigo, venha ao palácio do bispo. E quando ele foi disse a outros dois companheiros seus: Ide também diante do bispo, do prefeito e dos outros que estão com eles e cantai o Cântico de Frei Sol. E confio no Senhor que há de humilhar os corações deles, vão fazer as pazes entre eles e voltaram à antiga amizade e bem-querer”. A empreitada sugerida por São Francisco logrou o pretendido êxito: “E assim com muita bondade e afeição o bispo e o prefeito se abraçaram e beijaram (…) e voltaram de tamanho escândalo para tanta concórdia” (cf. Compilação de Assis – 84).
No ano em que se celebra o Jubileu do “Cântico do irmão sol”, a festa da Porciúncula traz um instante apelo para que os companheiros e companheiras de Clara e Francisco sintam-se envergonhados por não se empenhar, como poderiam, pelo cuidado da paz e da concórdia diante de situações de conflitos e de degradação dos relacionamentos interpessoais. Nosso irmão, Francisco de Assis, hoje volta a nos enviar como menestréis a cantar a grandeza e a beleza do perdão e da reconciliação: louvado sejas, meu Senhor, por todas as criaturas; louvado sejas pelos que perdoam por seu amor; louvado sejas por aqueles que se esforçam para “que a morte os encontre vivos”.
Para o louvor de Cristo.
Paz e Bem.
Frei Paulo Pereira, Ministro provincial.
O dia 2 de agosto
No calendário litúrgico franciscano, o dia 2 de agosto é dedicado à celebração da Festa de Nossa Senhora dos Anjos, popularmente conhecida como “Porciúncula”. Na introdução do texto litúrgico do missal e da liturgia das horas, se diz o seguinte:
“O Seráfico Pai Francisco, por singular devoção à Santíssima Virgem, consagrou especial afeição à capela de Nossa Senhora dos Anjos ou da Porciúncula. Aí deu início à Ordem dos Frades Menores e preparou a fundação das Clarissas; e aí completou felizmente o curso de seus dias sobre a terra. Foi aí também que o Santo Pai alcançou a célebre Indulgência , que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas igrejas. Para celebrar tantos e tão grandes favores ali recebidos de Deus, instituiu-se também esta Festa Litúrgica, como aniversário da consagração da pequenina ermida”.
A propósito da Porciúncula, o Santo Padre se expressou recentemente nos seguintes termos: “O caminho espiritual de São Francisco teve início em São Damião, mas o verdadeiro lugar amado, o coração pulsante da Ordem, onde a fundou e onde, por fim, entregou sua vida a Deus, foi a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o cantinho junto à Mãe da Igreja; junto a Maria que, por sua fé tão firme e por seu viver tão inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações a chamarão bem-aventurada.”
A Porciúncula foi o berço da fraternidade Franciscana e nesta tão bela ermida o Santo de Assis viveu as maiores experiências de sua vida como frade menor, na Porciúncula teve início à Ordem dos Frades Menores e a ali preparou a fundação das Clarissas, neste lugar ele completou felizmente o curso de sua vida e missão sobre a terra. Foi aí, também, que o Santo de Assis alcançou a célebre Indulgência Plenária da Porciúncula que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas Igrejas. Era seu desejo poder celebrar tantos e tão grandes feitos ali recebidos do Senhor da misericórdia.
Por Frei Régis Daher, OFM
———————————————–
Cântico das Criaturas
“Este ano, o Perdão de Assis se entrelaça com um aniversário especial: o Centenário do Cântico das Criaturas”, recorda o Ministro geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Massimo Fusarelli. “São Francisco, por meio de seu Cântico, nos ensinou a contemplar a criação com novos olhos, reconhecendo a marca do Criador em cada ser. No Cântico, Francisco invoca o perdão e vai um passo além: louva o Criador e convida ao perdão mútuo por amor a Ele. É significativo que ele conclua justamente com o perdão, louvando a Deus por seu amor.” “Voltar ao essencial do Evangelho”, este é o Perdão na Porciúncula para frei Francesco Piloni, ministro provincial dos Frades Menores da Úmbria e Sardenha, efetivamente, “significa retornar à essência do Evangelho: a confiança ilimitada na misericórdia de Deus. Neste tempo de desalento e crises que se aceleram, é como se Francisco nos dissesse ainda hoje que nenhum de nós está excluído da ternura do Pai.”
Fonte: Vatican News
Indulgência e Perdão de Assis: Promoção da Graça e Auxílio Pastoral

No dia 2 de agosto de cada ano, por graça concedida por Deus através da Igreja e suplicada por nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis, todos os fiéis que visitarem uma igreja paroquial podem lucrar a INDULGÊNCIA PLENÁRIA DO PERDÃO DE ASSIS, desde que cumpram os requisitos ordinários ligados a esse significativo sinal da misericórdia divina.
Antes, porém, de falarmos especificamente sobre o Perdão de Assis, faz-se necessário recordar o significado das indulgências na doutrina da Igreja, a fim de que pastores e fiéis possam melhor celebrá-las e fomentá-las na comunidade eclesial.
As indulgências plenárias constituem um aspecto significativo da doutrina e da prática da Igreja Católica, profundamente ligadas ao sacramento da Penitência e à comunhão dos santos. Elas oferecem aos fiéis a remissão da pena temporal devida pelos pecados, cuja culpa já foi perdoada pelo sacramento da Penitência.
O sentido teológico das Indulgências
A doutrina das indulgências baseia-se no entendimento de que o pecado possui duas consequências: a culpa e a pena. O perdão da culpa e a restauração da comunhão com Deus são alcançados, ordinariamente, pelos sacramentos do Batismo e da Penitência, implicando também a remissão da pena eterna (a condenação). No entanto, mesmo após o perdão da culpa, permanece a pena temporal, isto é, a necessidade de purificação das consequências do pecado.
Não se pode esquecer: todo pecado causa uma desordem na alma e um apego desordenado às criaturas, o qual precisa ser purificado, seja nesta vida ou após a morte. Além disso, o mal causado pelo pecado não se limita à esfera pessoal, pois traz repercussões sociais, afetando o mundo e as pessoas ao nosso redor. Quando escolho ferir minha vocação ao amor e à santidade, também comprometo a resposta e a caminhada dos demais.
Uma imagem que ilustra bem essa doutrina é a de um belo vitral que encanta a todos que o contemplam. Alguém, porém, decide atirar uma pedra, danificando parte da obra. A decisão e o gesto foram individuais, mas o dano prejudicou a contemplação de todos. Arrependido de seu ato, o agressor pede perdão ao Dono do vitral, que, movido por bondade, o perdoa. Entretanto, o perdão da culpa não repara, por si só, o dano causado. Aquele que se arrependeu deve empregar os meios possíveis para restaurar a beleza do vitral. Sabendo que as ferramentas do Dono são as mais adequadas, recorre a Ele, não por obrigação, mas por desejar devolver a beleza da obra — não apenas para si, mas para todos. Seus esforços, unidos à graça recebida, tornam-se testemunho e contribuição para os demais, mostrando que é possível reparar os danos provocados e dos quais nos arrependemos.
A Igreja, como ministra da Redenção, dispensa e aplica com autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos. Esse “tesouro da Igreja”, de valor ilimitado e inesgotável, contempla as expiações e méritos oferecidos por Cristo para libertar a humanidade do pecado e gerar comunhão com o Pai. Inclui também o valor das orações e boas obras dos mártires e santos que, em união com Cristo, contribuíram para a salvação dos membros do Corpo Místico.
Por meio das indulgências, a Igreja, em virtude do poder de ligar e desligar concedido por Cristo, abre aos fiéis esse tesouro de méritos, obtendo do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas pelos pecados. O pecado grave separa o fiel da vida da graça, não porque Deus o castigue, mas porque ele escolheu afastar-se da santidade. Dotada por Cristo com a graça de perdoar em Seu nome, a Igreja é, no mundo, a presença viva de Seu amor, que se inclina sobre a fraqueza humana para acolher, no abraço de Sua misericórdia, aqueles que O buscam.
As indulgências são, portanto, um ato de graça de Deus, concedido pela oração da Igreja, permitindo que a reparação necessária ocorra sem o sofrimento que normalmente a acompanharia.
O sacramento da Penitência oferece ao pecador a possibilidade de conversão e de ser reinserido plenamente na vida da Igreja. Uma vez perdoado, o fiel recupera a comunhão com o Pai e com a comunidade, sobretudo pela participação na Eucaristia. No entanto, a Igreja ensina que o perdão gratuito de Deus deve levar a uma mudança de vida: romper progressivamente com o mal e renovar a própria existência. Assim, ao ato sacramental deve corresponder um ato existencial. Se a Penitência perdoa a culpa, a indulgência colabora na remissão da pena temporal, auxiliando o fiel em sua conversão com o auxílio da graça divina.
A importância Pastoral das Indulgências
Importa reafirmar: o fiel não está sozinho em seu caminho de conversão. Em Cristo e por Cristo, sua vida está unida, por um vínculo misterioso, à vida de todos os outros cristãos na unidade do Corpo Místico. Assim, as indulgências, concedidas por Cristo por meio da Igreja, não beneficiam apenas o indivíduo, mas tornam-se patrimônio espiritual de todos os membros da Igreja. A santidade de um contribui, com maior intensidade, para a salvação dos outros, do que o pecado de um pode prejudicar.
Há pessoas que deixam atrás de si um verdadeiro saldo de amor, sofrimento suportado, pureza e verdade, que sustenta os demais. Cada passo de conversão é também auxílio para outros em seu processo de conversão.
Pastoralmente, portanto, as indulgências não apenas auxiliam os cristãos, mas os incentivam à prática de obras de devoção, penitência e caridade. São um convite à conversão contínua e à busca da santidade. Reforçam a doutrina da comunhão dos santos, que nos une em caridade: os fiéis da terra, do purgatório e do céu podem interceder uns pelos outros. Nessa troca maravilhosa, a santidade de um beneficia os demais, possibilitando uma purificação mais eficaz ao pecador arrependido.
Dessa forma, as indulgências não são práticas mecânicas ou mágicas, mas expressões da graça que todos desejamos viver e testemunhar ao livremente escolhermos ser discípulos de Jesus Cristo.
Na prática pastoral, para evitar uma piedade intimista ou legalista, é necessário explicar o significado teológico e eclesial das indulgências. Importa também destacar que elas são apenas uma das diversas práticas cristãs propostas pela Igreja, como o terço, a leitura orante da Palavra, a visita ao cemitério com oração pelos falecidos, e outras obras de misericórdia.
Como Lucrar a Indulgência Plenária do Perdão de Assis
A Indulgência Plenária do Perdão de Assis pode ser obtida por todos os fiéis que visitem uma igreja paroquial — franciscana ou não — em qualquer lugar do mundo, entre o meio-dia do dia 1º de agosto e o final do dia 2 de agosto.
Originalmente concedida à Porciúncula (na Basílica de Santa Maria dos Anjos), essa indulgência foi estendida a todas as igrejas franciscanas e, posteriormente, a todas as igrejas paroquiais.
- As disposições para lucrá-la são:
- Confissão sacramental;
- Participação na sagrada Comunhão (preferencialmente na Missa);
- Oração pelas intenções do Papa (sugere-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria, mas qualquer oração é válida).
Essas práticas podem ser realizadas alguns dias antes ou depois da visita à igreja (aproximadamente 20 dias).
É fundamental que essas disposições sejam compreendidas em sua dimensão teológica e espiritual, para que não se tornem meras regras cumpridas mecanicamente. Elas são caminhos de conversão, identificação com Cristo e transformação da vida à semelhança de Deus, sobretudo no amor, na misericórdia e na comunhão.
Não por acaso, as três condições exigidas para lucrar a indulgência relacionam-se diretamente com essas dimensões.
A Indulgência do Perdão de Assis, assim como outras formas de indulgência, é uma rica oportunidade, expressão da missão salvífica de Cristo e da maternidade espiritual da Igreja. É concedida aos fiéis para que avancem em sua conversão e vivam com fidelidade a vocação à santidade que todos recebemos no Batismo — vocação tão desejada e sonhada por São Francisco para todos os homens e mulheres.
Frei Rodrigo da Silva Santos
O testemunho das Fontes Franciscanas
Diversos textos, das assim chamadas “Fontes Franciscanas”, falam do sentido e do valor que este lugar passou a ter na vida de São Francisco, e posteriormente considerado “cabeça e mãe dos Frades Menores”.
Legenda Perusina, cap. 8
• “Vendo o bem-aventurado Francisco que o Senhor queria aumentar o número de seus frades, disse-lhes um dia: ‘Caríssimos irmãos e meus filhinhos, vejo que o Senhor quer fazer crescer a nossa família. Parece-me que seria prudente e próprio de religiosos irmos pedir ao Senhor Bispo ou aos cônegos de S. Rufino ou ao abade do mosteiro de São Bento uma igreja pequena e pobre onde os frades posssam recitar as horas e, ao lado, uma casa pequena e pobre, de barro e de vimes, onde os frades possam descansar e fazer o que lhes for necessário.O lugar que agora habitamos já não é conveniente e a casa é exígua demais para nos abrigar, visto que aprouve ao Senhor multiplicar-nos. Foi então apresentar ao bispo o seu pedido, que lhe respondeu assim: “Irmão, não tenho igreja para vos dar”. Dirigiu-se em seguida aos cônegos de S. Rufino. Estes deram-lhe a mesma resposta. Foi dali ao mosteiro de São Bento do Monte Subásio. Falou ao abade como fizera ao bispo e aos cônegos, relatando-lhe a resposta que deles obtivera. O abade compadecido, depois de se aconselhar com os seus monges, resolveu com eles, como foi da vontade de Deus, entregar ao bem-aventurado Francisco e seus frades a igreja de Santa Maria da Porciúncula, a mais pobre que eles possuiam. Para o bem-aventurado Francisco era tudo quanto de há muito desejava. …
Não cabia em si de contente, com o benefício recebido: porque a igreja era dedicada à Mãe de Cristo; porque era muito pobre; e também pelo nome que era conhecida. Era com efeito chamada de Porciúncula, presságio seguro de que viria a ser cabeça e mãe dos pobres frades menores. O nome de Porciúncula tinha sido dado a esta igreja por ter sido construída numa porção acanhada de terreno que de há muito assim era chamada”

T.Celano, Vida I, cap. 9,21
• “Depois que o santo de Deus trocou de hábito e acabou de reparar a Igreja de São Damião, mudou-se para outro lugar próximo da cidade de Assis, … chamado Porciúncula, onde havia uma antiga igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, mas estava abandonada e nesse tempo não era cuidada por ninguém. Quando o santo de Deus a viu tão arruinada, entristeceu-se porque tinha grande devoção para com a Mãe de toda bondade, e passou a morar ali habitualmente. No tempo em que a reformou, estava no terceiro ano de sua conversão”
Espelho da Perfeição, cap. 83
• “Embora o Seráfico Pai soubesse que o reino dos céus é estabelecido em todos os lugares da terra… sabia, no entanto, por experiência, que Santa Maria dos Anjos havia sido contemplada com bençãos especiais… Por isso recomendava sempre os frades: ‘Meus filhos, tende cuidado de jamais abandonar este lugar. Se vos expulsarem por uma porta, entrai pela outra. Este lugar é sagrado, morada de Cristo e da Virgem Maria, sua bendita Mãe. Aqui, quando éramos apenas um pequeno número, o bom Deus nos multiplicou. Aqui ele iluminou a alma destes pequeninos com a luz de sua sabedoria, abrasou a nossa alma com o fogo de seu amor”
Espelho da Perfeição, cap. 84
• “Neste tempo nasceu a Ordem dos Frades Menores, multidão de homens que, então, começou a seguir o exemplo do Seráfico Pai. Clara, esposa de Cristo, recebeu nesta igreja a tonsura, despojando-se das pompas do mundo para seguir a Cristo. Aqui, para Cristo, a Santa Virgem Maria gerou os frades e as Pobres Damas, e, por meio deles, deu Cristo ao mundo. Aqui, estrada larga do mundo antigo tornou-se estreita e a coragem dos que foram chamados tornou-se maior. Aqui foi composta a Regra, a santa pobreza foi reabilitada, a vaidade humilhada e a cruz alçada às alturas. Se algumas vezes o Seráfico Pai sentiu-se conturbado e aflito, neste lugar reanimou-se, o seu espírito recuperou a paz interior. Aqui desaparece toda a dúvida. Por fim, aqui se concede aos homens tudo que o pai pediu por eles”.
Como São Francisco pediu e obteve a indulgência do perdão

Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim:
Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.
Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.
O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”.
E imediatamente, Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, destacadamente respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”.
E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Como, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”.
E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas:”Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”
Novena a Nossa Senhora dos Anjos
INTRODUÇÃO
“Embora o Seráfico Pai soubesse que o reino dos céus é estabelecido em todos os lugares da terra… sabia, no entanto, por experiência, que Santa Maria dos Anjos havia sido contemplada com bênçãos especiais… Por isso recomendava sempre os frades: ‘Meus filhos, tende cuidado de jamais abandonar este lugar. Se vos expulsarem por uma porta, entrai pela outra. Este lugar é sagrado, morada de Cristo e da Virgem Maria, sua bendita Mãe. Aqui, quando éramos apenas um pequeno número, o bom Deus nos multiplicou. Aqui ele iluminou a alma destes pequeninos com a luz de sua sabedoria, abrasou a nossa alma com o fogo de seu amor” (Espelho da Perfeição, cap. 83).
“Neste tempo nasceu a Ordem dos Frades Menores, multidão de homens que, então, começou a seguir o exemplo do Seráfico Pai. Clara, esposa de Cristo, recebeu nesta igreja a tonsura, despojando-se das pompas do mundo para seguir a Cristo. Aqui, para Cristo, a Santa Virgem Maria gerou os frades e as Pobres Damas, e, por meio deles, deu Cristo ao mundo” (Espelho da Perfeição, cap. 84).
Ao iniciar a cada dia:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
* 1º DIA *
Ó Nossa Senhora dos Anjos, nós recorremos a vossa materna proteção, vós que sois a Mãe de Deus e a Mãe da Igreja. Diante de vosso Filho Salvador, intercedei por nós neste mundo. Aos pés da Cruz, vós recebestes a missão de ser a Mãe de todo gênero humano. Ensinai-nos a realizar a vontade do Pai, e defendei-nos de todos os males.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 2º DIA *
Ó Virgem Maria, professamos com a nossa fé, vossa santa e Imaculada Conceição. O Todo Poderoso vos preservou do pecado, desde o vosso nascimento, em previsão dos méritos de Jesus Cristo. Sabemos que o pecado destrói a comunidade humana e é a causa de todos os males: guerras, divisões, injustiças. Ó Virgem pura, dai-nos a pureza de coração, e a retidão em nossas intenções, a fim de que sejamos mais felizes aqui na terra e no céu.
Por isso, com todos os anjos do céu vos saudamos; AVE-MARIA…
* 3º DIA *
Santa Maria, nós confessamos que vós sois a Mãe de Deus, a Mãe de Jesus, a Esposa predileta do Espírito Santo. Cremos na vossa maternidade Divina. Com toda generosidade, vós nos oferecestes o Salvador do mundo. Nos vossos braços Jesus é oferenda pura. Fazei ó Virgem Mãe, que jamais nos afastemos de vosso amado Filho, por mais difícil que seja a caminhada, mas estejamos prontos a levar a chama viva da fé e da felicidade em direção à Pátria definitiva, o céu.
Por isso, com todos os anjos do céu, vos saudamos: AVE- MARIA…
* 4º DIA *
“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra”. Toda a vossa vida, Maria, foi constituída em realizar a vontade de Deus, a responder a em chamado tão sublime, não somente com palavra, pois a vida inteira tornou-se uma só resposta de obediência. Em vós a fidelidade aos planos de do Pai chegou à perfeição. A Palavra de Deus contida na Bíblia, é luz, é vida, é salvação. Hoje, ó Virgem, Rainha dos Anjos, ensinai-nos a acolher com generosidade, a Palavra de vosso Filho em nossos corações, como vós a acolhestes no dia da Anunciação. Queremos também ser fiéis discípulos de Jesus Cristo.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 5º DIA *
Com toda a confiança, nós vos suplicamos, ó Virgem Mãe, amparai de uma maneira especial as nossas famílias. Fazei que elas tenham por modelo a Família de Nazaré, que apesar de conhecer as dificuldades, o trabalho de cada dia, a pobreza, permanecia unida no amor, na compreensão e na fé. Não deixais a divisão abalar os alicerces de nossos lares. Que em nossas mesas jamais falte o pão necessário, fruto do trabalho e do dom da Providência. Conduzi os esposos na unidade, as crianças e os jovens através de uma educação sólida e cristã.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 6º DIA *
Salve, ó Rainha dos Anjos! Salve, ó Rainha do Céu e da terra! Salve, ó Rainha nossa! Somos felizes por termos recebido do Pai uma Mãe cheia de graça, cheia de amor e disponibilidade, para nos dirigir e nos orientar. Toda a vossa vida se resumiu em servir, em acolher, em confortar aqueles que sofrem; enfim, em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo. Dai-nos a perseverança no caminho do bem e ensinai-nos a ser verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, agora e na hora da nossa morte.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 7º DIA *
Intercedei por nós, Santíssima Virgem. A Igreja inteira se prostra aos vossos pés, esperando o vosso auxílio. Defendei-a de todos os perigos e das forças malignas. Fortalecei o nosso Papa, o Vigário de Cristo, para conduzir na unidade o seu rebanho. Sede a nossa Rainha, o Auxílio dos Cristãos, a Consoladora do s Aflitos. Vós sois a nossa segurança, o nosso estímulo e o nosso exemplo. Fazei que o Evangelho seja anunciado até os confins da terra e que todos se disponham a aceitar a salvação trazida por vosso Filho.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 8º DIA *
Glória ao Pai, a Jesus Cristo e ao Espírito Santificador, que realizaram grandes maravilhas em Maria. Não houve nem haverá criatura tão santa, tão sublime e tão radiante como ela. Os Anjos e os Santos vos louvam, ó Maria, Mãe Amável. E nós também elevamos os nossos olhos para vós com profunda confiança filial. Sede para vossos filhos refúgio e amparo, a fim de que cumpramos a nossa missão, e um dia possamos chegar os céu.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
* 9º DIA *
Ó Nossa Senhora dos Anjos, na pequena Igreja da Porciúncula São Francisco recebeu as vossas bênçãos generosas, juntamente com sua Ordem. Ele, que depositava na vossa presença materna uma grande confiança e devoção, sendo atendido em seus pedidos. Continuai a dispensar os vossos favores sobre nós e sobre nossas necessidades particulares. Nós vos suplicamos, dai-nos a graça da penitência dos nossos pecados, a correção de nossas más inclinações e fortalecimento nos momentos de fraqueza. Quantos recusam a salvação e preferem caminhar nas trevas do erro. Tudo é possível para aquele que crê para aquele que se arrepende. Vós, ó Mãe, manifestastes a São Francisco o grande desejo de reconciliar os pecadores com Jesus, que se entregou em uma Cruz para nos salvar. Rogai por nós agora e na hora da nossa morte.
Por isso, com todos os Anjos do céu, vos saudamos: AVE-MARIA…
ORAÇÃO FINAL
– Para todos os dias –
Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que recorreram à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamaram o vosso socorro, fosse por vós desamparado. Animada, eu, pois, com igual confiança, a vós, Virgem entre todas singular, como a minha Mãe recorro, de vós me valho, e gemendo sob o peso, dos meus pecados, me prostro aos vossos pés. Não rejeiteis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-vos de as ouvir e de me alcançar o que vos rogo. Amém.
Em louvor de Cristo e de Sua Mãe, a Senhora dos Anjos!
Amém.
Orações
CREDO
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis.Creio em um só Senhor: Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não feito; consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas;que, por nós e por nossa salvação, desceu dos céus, e se encarnou, por obra do Espírito Santo, da virgem Maria, e se fez homem. Foi também crucificado, sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai. Virá outra vez com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim.Creio no Espírito Santo, o Senhor que dá vida, e procede do Pai e do Filho; que, com o Pai e o Filho, é juntamente adorado e glorificado; Ele, que falou pelos profetas.
Creio na Igreja una, santa, universal e apostólica. Confesso que há um só Batismo para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.
PAI NOSSO
Pai Nosso que estais no céu,
santificado seja o vosso nome,
vem a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
não nos deixei cair em tentação
mas livrai-nos do mal.
Amém
UMA ORAÇÃO NAS INTENÇÕES DO PAPA
No mês de agosto, o Papa pede:
Intenção Geral: Para que todos os que atravessam momentos de dificuldade interior e de provação, encontrem em Cristo a luz e o sustento que os levem a descobrir a felicidade autêntica.
Intenção Missionária: a fim de que a Igreja na China dê testemunho de uma coesão interna cada vez maior e possa manifestar a comunhão concreta e visível com o Sucessor de Pedro.
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DOS ANJOS
Ó Nossa Senhora dos Anjos, na pequena Igreja da Porciúncula,
São Francisco recebeu as vossas bênçãos generosas juntamente com sua Ordem.
Ele depositara na vossa presença materna uma grande confiança e devoção, sendo atendido em seus pedidos. Continuai a dispensar os vossos favores sobre nós e sobre nossas necessidades particulares.
Nós vos suplicamos, dai-nos a graça da penitência dos pecados, a correção de nossas más inclinações e fortalecimento nos momentos de fraqueza. Quantos recusam a salvação e preferem caminhar nas trevas do erro! Tudo é possível para aquele que crer, para aquele que se arrepender!
Vós, ó Mãe, manifestastes a São Francisco o grande desejo de reconciliar os pecadores com Jesus, que se entregou em uma cruz para nos salvar. Rogai por nós, agora e na hora de nossa morte. Por isso, com todos os anjos do céu, vos saudamos: Ave Maria …
ORAÇÃO A VIRGEM MARIA
Santa Virgem Maria,
entre as mulheres do mundo, não nasceu nenhuma semelhante a ti,
ó filha e serva do altíssimo e sumo Rei e Pai celeste,
mãe de nosso santíssimo Senhor Jesus Cristo,
esposa do Espírito Santo:
roga por nós, com São Miguel Arcanjo
e com todas as virtudes dos céus e com todos os santos,
junto a teu santíssimo e dileto Filho, Senhor e Mestre.
Bendigamos o Senhor Deus vivo e verdadeiro (Ts 1,9);
Rendamos-lhe sempre louvor, glória, honra e bênção (Ap 4,9) e todos os bens.
Amém. Amém. Assim seja. Assim seja.
Textos litúrgicos para a festa
O Seráfico Pai Francisco, por singular devoção à Santíssima Virgem, consagrou especial afeição à capela de Nossa Senhora dos Anjos ou da Porciúncula. Aí deu início à Ordem dos Frades Menores e preparou a fundação das Clarissas: e aí completou felizmente o curso de seus dias sobre a terra. Foi também aí que o Santo Pai alcançou a célebre Indulgência, que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas igrejas. Para celebrar tantos e tão grandes favores ali recebidos de Deus, instituiu-se também esta Festa litúrgica, como aniversário da consagração da pequenina ermida.
São propostas três leituras para onde é celebrada como Solenidade; celebrada como Festa, escolhe-se a primeira ou a segunda leitura.
PRIMEIRA LEITURA
Eclo 24,1-4.16-22.31
“Quem obedece à Sabedoria não terá de que se envergonhar”.
Leitura do Livro do Eclesiástico.
A sabedoria faz seu próprio elogio e se ufana no meio de seu povo; abre a boca na assembleia do Altíssimo e se ufana diante de seu poder; é exaltada no meio do seu povo, e admirada na assembleia santa; entre a multidão dos eleitos, recebe louvores, e bênçãos entre os abençoados de Deus.
Estendi os ramos como terebinto, e meus ramos são ramos majestosos e belos. Como videira, brotei sarmentos encantados e minhas flores deram frutos de glória e riqueza.
Sou a mãe do belo amor e do temor, do conhecimento e da santa esperança. Em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança de vida e da força.
Vinde até mim, vós que me desejais e saciai-vos com meus frutos! Pensar em mim é mais doce que o mel, e possuir-me é mais do que favo de mel. A memória do meu nome durará por toda a série dos séculos. Quem come de mim, terá ainda fome e quem bebe de mim, terá ainda sede. Quem me obedece não terá de que se envergonhar, e os que trabalham comigo não pecarão. Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.
– Palavra do Senhor.
SALMO DE MEDITAÇÃO
Sl 33,1.5-7.9-10.18-19
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo.
– Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu *
e de todos os temores me livrou.
– Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido *
e o Senhor o libertou de toda angústia.
– Provai e vede quão suave é o Senhor! *
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio.
– Respeitai o Senhor Deus, seus santos todos, *
porque nada faltará aos que o temem.
– Clamam os justos e o Senhor bondoso escuta *
e de todas as angústias os liberta.
– Do coração atribulado ele está perto *
e conforta os de espírito abatido.
SEGUNDA LEITURA
Gl 4,3-7
“Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher”.
Leitura da carta de São Paulo Apóstolo aos Gálatas.
Irmãos, assim também nós, quando menores, estávamos escravizados na servidão dos elementos do mundo. Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e submetido a uma Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção. E, como prova de serdes filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: “Abba, Pai!” De maneira que já não és escravo mas Filho, e, se filho, herdeiro por Deus.
– Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Aleluia . ..,. Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo, e bendito o fruto de teu ventre. Aleluia.
EVANGELHO
Lc 1,26-33
“Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho”.
Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas.
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. E entrando, disse-lhe o anjo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho e lhe darás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu Pai, e Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”.
– Palavra da Salvação.
Porciúncula: berço da fraternidade

Lugar fontal para a nossa mística. Santa Maria dos Anjos: berço da fraternidade! Aqui começou a vida e o amor mútuo. Um santuário mariano-franciscano, lugar – santo, dos mais freqüentado em todo o mundo. É um espaço para rezar, refletir, purificar, encher-se de graça e iniciar novamente o caminho.
Se Assis é a “capital do espírito”, Porciúncula é um lugar necessário a toda humana criatura de nosso tempo: uma etapa, uma luz sobre o caminho. Ali emana um único fascínio: a mensagem pulsante do Evangelho, alegria, serenidade, simplicidade, fidelidade, pobreza…Foi edificada no século X, no ano de 1045. Pertencia aos monges beneditinos do monte Subásio que ali alimentavam uma “pequena porção” de santuário. O que é o santuário? É um lugar sagrado onde a presença de Deus se manifesta. O mistério presente da divindade é que determina o lugar do culto.
Santuário é lugar e não museu arqueológico a mostrar e conservar memórias e glórias mumificadas do passado. Ali os acontecimentos passados são vivos e presentes: ali viveu Francisco, ali passou Clara, ali morreu o Poverello. Francisco e Clara continuam a ser mais vivos que nunca e a sua escolha de Amor é que marca definitivamente o lugar. Ali a Fraternidade se faz encontro,cresce,contagia e se comunica. (Cfr 1 Cel 106)
Em 1210 Francisco pede ao bispo de Assis e depois aos Cônegos de São Rufino alguma igrejinha para cuidar. A resposta é negativa. Vai então ao abade do mosteiro de São Bento, Dom Teobaldo. Este, com o consenso da comunidade monacal, concede a Francisco e a seu primeiros companheiros a Porciúncula para o simples uso e moradia. Só pedem uma condição: se a religião constituída por Francisco crescer, a Porciúncula seja a casa-mãe.
Dom recebido Dom dividido. A casa fundada sobre o sólido alicerce da Pobreza ganha um sinal: por graça e gratidão ao bem feito pelos beneditinos, há o gesto da retribuição: cada ano os frades mandavam aos monges um cesto cheio de peixes. Os monges agradeciam com um vaso cheio de óleo. LTC 56; LP 8.
Porciúncula:
• experiência primitiva de Fraternidade
• lugar reconstituído com o trabalho manual
• próximo aos bosques
• próximo aos leprosários
• pequenas celas para a moradia
• primeiro encontro com o Evangelho (Mt 10,5-15)
• ali o encontro do rumo definitivo na vida (1 Cel 21;LM 2,8;Lm 1,9;1 Cel 44)
• os primeiros companheiros Bernardo e Pedro vêm morar ali
• Bernardo, Pedro, Egídio e Francisco partem dali para a primeira missão
• a fraternidade cresce e encontra seu espaço
• é o santuário da missão ( 1 Cel 22;LM 3,1: LTC 25: Lm3,7;Fior13)
• No dia 19 de março de 1211/1112, chega a Porciúncula, a nobre jovem Clara de Faverone.
• Em julho de 1216, Francisco consegue do Papa Honório III a Indulgência ou o Perdão da Porciúncula.
• É um lugar muito elogiado. (1 Cel 106; LP 8-12:LM 2,8)
• Lugar dos Capítulos. Ali se realizou o famoso Capitulo das Esteiras – 1221. (LTC 57-59; AP 18,37-39; LP 114, Fior 18)
• Clara vai à Porciúncula visitar Francisco. Comem juntos num luminoso banquete espiritual. (Fior 15)• A irmã Jacoba de Settesoli, amiga de Francisco, chega pouco antes de sua morte, trazendo doce conforto.
(EP112;LP101;Cel 37-39)
• A irmã morte visita Francisco ( 2 Cel 214-217; LM 14,3-6;LTC 68;LP 64)
Ensinamentos da Porciúncula
• momento culminante da mudança radical de Francisco
• não teve dúvidas que o Senhor tinha suas exigências
• acolher o Evangelho, escutar o outro (a),percorrer o caminho proposto
• lugar de penitência e serviço
• ensina que todos devemos ser criativos (as) para fazer renascer a simplicidade primitiva.
• santuário da missão: enviar, regressar, fortalecer e orar.
• capítulo: momento privilegiado de encontro.
Frei Vitório Mazzuco
A veracidade da Indulgência da Porciúncula
Carta do Bispo Teobaldo de Assis
Aqui se propõe o texto completo do documento traduzido a partir da recente edição paleográfica feita sob os cuidados de Stefano Brufani a partir do original, onde ainda se conserva pendente o selo de cera; documento esse conservado no arquivo público do Estado de Perugia, Corporações religiosas supressas, São Francisco ao Prado, pergaminho 56 (1310, agosto, 10), descoberto em 1964 por Roberto Abbondanza. Segue o documento:
“Irmão Teobaldo, por graça de Deus, Bispo de Assis, aos fiéis cristãos que lerem esta carta, saúde no Salvador de todos.
Por causa de alguns faladores que, impelidos pela inveja, ou talvez pela ignorância, impugnam desaforadamente a indulgência de Santa Maria dos Anjos, situada perto de Assis, somos obrigados a fazer esta comunicação a todos os fiéis cristãos. Através da presente carta, queremos comunicar o modo e a forma desse benefício e como o bem-aventurado Francisco, enquanto estava vivo, o impetrou ao senhor papa Honório.
Morando, o bem-aventurado Francisco, junto à Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, o Senhor, durante a noite, lhe revelou que se dirigisse ao sumo Pontífice, o senhor Honório, que temporariamente se encontrava em Perugia. A finalidade era impetrar-lhe a indulgência para a mesma igreja de Santa Maria da Porciúncula, há pouco restaurada por ele mesmo. Francisco, levantando-se, de manhã, chamou frei Masseo de Marignano, companheiro seu, com o qual morava, e se apresentou diante do mencionado senhor Honório, e disse:
– Santo Padre, há pouco acabei de restaurar para o senhor uma igreja dedicada à Virgem Mãe de Cristo. Suplico à vossa Santidade que a enriqueçais com uma indulgência, mas, sem a necessidade de nenhuma oferta em dinheiro.
O Papa respondeu-lhe:
– Não convém fazer uma coisa dessas. Pois, quem pede uma indulgência precisa que a mereça dando uma mão. Mas, diz-me para quantos anos você a quer, e quanta indulgência lhe deva conceder.
São Francisco replicou-lhe:
– Santo Padre, sua santidade queira-me dar não anos, mas, almas.
E o senhor Papa respondeu:
– De que modo quer almas?
E o bem-aventurado Francisco declarou:
– Santo Padre, se aprouver à sua santidade, quero que todos quantos se achegarem a essa igreja, confessados e arrependidos e, como convém, absolvidos pelo sacerdote, se tornem libertados da pena e da culpa, no céu e na terra, desde o dia do Batismo até o dia e a hora de sua entrada na mencionada igreja.
O santo Padre acrescentou:
– Isso que pede, Francisco, é muito. E não é costume da Cúria romana conceder semelhante indulgência.
Então, o bem-aventurado Francisco respondeu:
– Senhor, não estou pedindo isto a partir de mim, mas, a partir daquele que me mandou, o Senhor Jesus Cristo.
Diante desse argumento, o senhor Papa concluiu imediatamente, dizendo por três vezes:
– Agrada-me que tenhas essa indulgência.
Os senhores Cardeais presentes, porém, intervieram:
– Vê, se o senhor der essa indulgência, estará destruindo a indulgência do além mar, bem como, virá destruída e considerada nula aquela dos Apóstolos Pedro e Paulo.
O senhor Papa respondeu:
– Agora já a damos e a concedemos; não podemos e nem convém que se destrua o que foi feito. Mas, a modificaremos, de modo que fique limitada apenas para um dia.
Então, chamou São Francisco e disse-lhe:
– Portanto, de hoje em diante, concedemos que, qualquer um que for e entrar na mencionada igreja, bem confessado e contrito, será absolvido da pena e da culpa; e queremos que isso valha todos os anos por somente um dia, das primeiras vésperas até o dia seguinte.
O bem-aventurado Francisco, de cabeça inclinada, começou a retirar-se do palácio. O senhor Papa, então, como o visse saindo, chamou-o dizendo-lhe:
– Ó, simplesinho, aonde vai? Que documento leva desta indulgência?
Respondeu Francisco:
– A mim basta sua palavra. Se for obra de Deus, Deus mesmo deverá manifestá-la. Não quero nenhum outro documento desse privilégio senão este: que a carta seja a bem-aventurada Virgem Maria, o notário Jesus Cristo e os anjos as testemunhas.
Depois disso, Francisco, deixando Perugia, retornou a Assis. No caminho repousou um pouco, juntamente com seu companheiro, num lugar chamado Colle, onde havia um hospital de leprosos, e lá passou a noite. De manhã, acordado e feita a oração, chamou o companheiro e disse-lhe:
– Frei Masseo, digo-lhe, da parte de Deus, que a indulgência a mim concedida através do sumo pontífice está confirmada pelo céu.
Tudo isso foi contado por frei Marino, sobrinho do mencionado frei Masseo, que frequentemente o ouviu da boca do tio. Esse frei Marino, ultimamente, perto do ano de 1307, repleto de dias e de santidade, repousou no Senhor.
Depois da morte do bem-aventurado Francisco, frei Leão, um dos seus companheiros, homem de vida integralíssima, passou adiante esse fato, assim como o havia recebido da boca de São Francisco; e assim, também, frei Benedito de Arezzo, um dos companheiros de São Francisco, e frei Rainério de Arezzo contaram, tanto para os frades como para os seculares, muitas coisas referentes a essa indulgência, como as tinham ouvido do mencionado frei Masseo. Muitos desses ainda estão vivos e confirmam todas essas notícias.
Não pretendemos, pois, escrever com que solenidade essa indulgência foi tornada pública, durante a consagração da mesma igreja efetuada por sete Bispos. Vamos tão somente referir aquilo que Pedro Zalfani, presente à cerimônia, falou diante do Ministro frei Ângelo, diante de frei Bonifácio, frei Guido, frei Bartolo de Perugia, e outros frades do lugar da Porciúncula. Contou ele que esteve presente à consagração da mencionada igreja no dia 2 de Agosto, e ouviu o bem-aventurado Francisco que pregava diante daqueles Bispos segurando na mão um documento, e dizia:
– Quero mandar-vos todos para o céu. Anuncio-vos a indulgência que recebi da boca do sumo pontífice: todos vós que hoje vindes e todos aqueles que virão cada ano, neste dia, com um coração bom e contrito, obterão a indulgência de todos os seus pecados.
Fizemos essas considerações acerca da indulgência por causa daqueles que a ignoram. Assim não podem mais usar como desculpa a ignorância. E, acima de tudo, o fazemos por causa dos invejosos e faladores. Estes, em alguns lugares, procuram destruir, suprimir e condenar aquilo que, toda a Itália, a França, a Espanha e outras províncias, tanto de cá como de lá dos montes, ou melhor, o próprio Deus, em reverência à sua santíssima Mãe (pois, como se sabe, a indulgência é dela), quase todos os dias, vem revelando, engrandecendo, glorificando e espalhando com frequentes e manifestos milagres.
Como ousarão invalidar, com suas funestas persuasões, aquilo que já há tanto tempo, diante da Cúria romana, permaneceu com toda sua validade? Pois, também em nosso tempo, o próprio senhor Papa Bonifácio VIII enviou para essa igrejinha seus magníficos embaixadores para que, por sua vez, no dia da indulgência, nos pregassem com toda a solenidade. Às vezes, enviou até Cardeais. Vindos pessoalmente para celebrar a indulgência e, na esperança de receber o perdão, a aprovaram como verdadeira e certa com sua própria presença.
Diante do testemunho de todas essas coisas, e na fé mais certa, assinalamos a presente carta com nosso selo.
Dada em Assis, na festa de São Lourenço, no ano do Senhor de 1310”.
A Virgem Maria na contemplação de Francisco e Clara

INTRODUÇÃO
• Toda pessoa tem uma dimensão contemplativa: aceitação da vida, ação que nos transforma para a vida. Deus é o agente de nossa dimensão contemplativa.
• Nascemos humanos: “humano” é ser que desperta para a presença de Deus; sintonia para enxergar a razão de todas as coisas e sentir a relação com os seres.
• “Acender a luz dos olhos e do coração”; o despertar, dentro e ao redor de cada um, para o tempo, o meio, a vida, as pessoas que cada dia nos encontram e nos transformam.
• Essa transformação vai nos unindo a Deus que, respeitando nossa individualidade, vai nos transformando em Cristo.
• O último passo da contemplação: Deus nos torna colaboradores seus no anúncio desta transformação e realização, comunicando à cada pessoa esta nova vida recebida.
• Todos esses passos aconteceram na vida de Maria, “a Virgem feita Igreja”.
• Francisco e Clara, pela contemplação de Maria, refizeram este caminho em suas vidas.
PEQUENOS E FRACOS COMO MARIA
• Deus resolveu começar tudo com uma mulher, jovem, solteira, pobre, noiva de um carpinteiro, moradora de um vilarejo tão miserável que nem constava dos mapas de Israel. Uma criatura para a qual nenhum poderoso iria olhar.
• O Deus da Bíblia trabalha, com predileção, justamente com o pobre, o pequeno, o fraco, o desprezado. Seu Filho seria o filho desta mulher, uma mulher pobre numa aldeia no fim do mundo. Os auxiliares imediatos de seu filho seriam pescadores por quem ninguém daria nada.
• É fundamental entendermos esse sentido de ser virgem: não pertencer a ninguém, não contar nada como elemento constituinte do povo, não ser nada. É disso que Deus precisa para começar a fazer um contemplativo, porque é dessa massa que Ele faz um Cristo.
• Essa pobreza, esse “nada” da Mãe de Jesus é importante na contemplação de Francisco e Clara, que exatamente aí fundamentaram toda sua vida de recolhimento e ação. Ser pobre de tudo para ser rico de Deus, como Maria, era o grande sonho de Francisco e Clara e a realização de sua alegria.
UNIDOS AO ESPÍRITO COMO MARIA
• Essa virgem de Nazaré era mais uma figura do Povo, paralela daquela menina enjeitada, símbolo de Jerusalém, que alguém tinha jogado no lixo da cidade e estava para ser devorada pelos corvos se Deus não a recolhesse, como disse o profeta Ezequiel (Ez 16, 1-15). É Maria, símbolo da Esposa bíblica que é o miserável povo de Israel, que Deus convidou para ser Mãe unindo-se ao seu próprio Espírito.
• A história dessa enjeitada que virou rainha é a história de cada um dos contemplativos: o Espírito de Deus age como um vento irresistível, construindo Maria dentro de cada um. Maria do silêncio, que sabia “conferir as coisas em seu coração” (Lc 2,52): é a visão contemplativa que abrange o mundo.
• Francisco e Clara contemplam Maria em integração perfeita com a Santíssima Trindade: filha, mãe e esposa. Antífona do Ofício da paixão: “Santa Virgem Maria, não há mulher nascida no mundo semelhante a vós, filha e serva do altíssimo Rei e Pai celestial, Mãe de nosso santíssimo Senhor Jesus Cristo, esposa do Espírito Santo”.
• Contemplação toda pelos olhos e extremamente concreta, objetiva. A Maria que Francisco e Clara conhecem não tem nada de teorias e não se perde no mundo dos conceitos: é um espelho prático em que enxergam a atuação do Espírito de Deus. Assumem as atitudes de Maria frente a Deus, e como ela, concebe, gera e dá a luz à Palavra de Deus, dando-lhe vida e forma.
• Porque a devoção de Francisco e Clara para com Maria foi justamente essa: aprender a acolher o Cristo para dá-lo à luz do mundo, com eles e em sua casa, Maria se tornou Mãe de toda a família franciscana.
MÃE DA HUMANIDADE COMO MARIA
• Maria gerou o corpo de Jesus de Nazaré e gera o espírito de cada um dos filhos de Deus até ficarem parecidos com o Primogênito de Deus. É através dela que cada um e todos juntos consituem o Cristo Místico, em seu Corpo, a Igreja.
• Maria mostra como se humaniza Deus e se diviniza o homem. Nela, a humanidade acolheu Deus e nela Deus é humanidade. Aquele pequenino envolto em fraldas, aquela criança com as feições de Maria, que com ela aprendeu a falar e a andar é Deus feito homem, transformação da história dos homens.
• Francisco e Clara contemplavam em Maria o mistério da encarnação, sem separar Jesus de sua Mãe. Porque, sem essa mulher, o Cristo seria um maravilhoso salvador sem bases históricas (humanidade), pois é nela que se encontram a divindade e a humanidade.
• Clara se comove porque “tão grande e glorioso Senhor quis descer ao seio da Virgem” (1Ct IP, 19). Francisco transborda de reconhecimento pela mulher que tornou possível a descida de Deus e da qual “recebeu verdadeiramente, em seu seio, o corpo da nossa frágil humanidade” (C.Fiéis 1,4).
NA MISSÃO DE DEUS COM MARIA
• A contemplação da vida de Maria parece ter alimentado toda a vida evangélica de Francisco e Clara: ela foi a primeira criatura humana a acolher o Reino de Deus. Essa é a base de toda a missão, pois Maria ensina tanto a acolher o Reino de Jesus como a fazê-lo nascer no coração de cada um.
• Francisco recordava Nossa Senhora como uma missionária percorrendo estradas com Jesus e os apóstolos. Ele a via pobre como Jesus, mas também como senhora e rainha como seu Filho sera rei e senhor. Maria, nossa irmã, representou toda a humanidade acolhendo a Redenção.
• Francisco e Clara plantaram entre seus filhos e filhas a convicção do Reino no coração dos desprotegidos, justamente por serem tão unidos à Mãe do Povo de Deus. Foi Maria quem os ensinou a partir do vazio da pobreza, unir-se a Deus no mais perfeito amor e ser “mães” de cada um dos pequenos seguidores de Jesus, ricos do seu sonho do Reino da Boa Nova. Esse sonho é possível a todos, porque na verdade o Reino de Deus começa no coração de cada um.
CONCLUSÃO – PARA REFLETIR E MEDITAR
• Da contemplação de Maria, Francisco e Clara descobriram um caminho, um modo de ser e de viver. Minha vida de oração/contemplação está me conduzindo por um caminho de comunhão mais verdadeira com Deus, com as pessoas e com as criaturas?
• A oração/contemplação conduz necessariamente à conversão, ao seguimento e à configuração com Cristo. Ele está vivendo em mim? Sou capaz de descobrí-lo, serví-lo e amá-lo nas pessoas e situações todas da vida.
• Minha vida é um “espelho” que reflete a vida e a presença do amor de Deus? Como está meu testemunho de Cristo?
Frei Regis Daher, OFM

“O Seráfico Pai Francisco, por singular devoção à Santíssima Virgem, consagrou especial afeição à capela de Nossa Senhora dos Anjos ou da Porciúncula. Aí deu início à Ordem dos Frades Menores e preparou a fundação das Clarissas; e aí completou felizmente o curso de seus dias sobre a terra. Foi aí também que o Santo Pai alcançou a célebre Indulgência , que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas igrejas. Para celebrar tantos e tão grandes favores ali recebidos de Deus, instituiu-se também esta Festa Litúrgica, como aniversário da consagração da pequenina ermida”.