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Ordem dos Frades Menores publica Documento Final do Encontro Internacional dos Irmãos Leigos

01/08/2025

Notícias

Entre os dias 28 de abril e 2 de maio deste ano, a Ordem dos Frades Menores realizou em Assis, na Itália, o Encontro Internacional dos Irmãos Leigos.

A necessidade da promoção desse momento foi manifestada durante o último Capítulo Geral. Após dois anos de preparação em todo o mundo, em nível de Conferência, representantes eleitos de cada Conferência se reuniram para discutir os temas Fraternidade e Minoria; Missões e Evangelização; Formação e Estudos.

O encontro, que contou com a presença do Ministro geral, Frei Massimo Fusarelli, e do Definitório Geral, foi aberto pelo Frei Joaquín Echeverry, Definidor geral. Outros frades também contribuíram com o desenvolvimento das abordagens propostas durante as atividades.

O resultado dos debates gerados durante o encontro internacional foi a elaboração de um documento final publicado nesta quinta-feira, 31 de julho, que está acompanhado por uma Carta do Ministro Geral.  Ele convida todos a lerem o documento “não como um simples texto a ser arquivado, mas como um estímulo ao debate fraterno” nas Províncias e Custódias.

Leia o documento final e a carta do Ministro geral abaixo

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Documento final do Encontro Internacional dos Irmãos leigos, 2025

Nós, participantes do Encontro internacional dos Irmãos leigos, realizado na Domus Pacis, Praça Porciúncula, Santa Maria dos Anjos, de 28 de abril a 2 de maio de 2025, nos reunimos como irmãos para refletir sobre nossa vocação e identidade como irmãos leigos da Ordem dos Frades Menores. Em espírito de fraternidade, compartilhamos experiências, aprofundamos nosso entendimento e confirmamos nosso chamado comum a viver o Evangelho. Das discussões emergiram três áreas-chave que moldam nossa vida e missão: Fraternidade e Minoridade, Missão e Evangelização, Formação e Estudos.

O fio condutor dos nossos encontros é a proposta de uma visão renovada da vocação franciscana, que supere a mera distinção entre frades leigos e frades sacerdotes para abraçar um modelo de unidade diferenciada. Os frades leigos e os frades ordenados compartilham a mesma missão: evangelizar, com palavras, obras, ações e com a presença. Assim como os dois pulmões trabalham juntos para fornecer ao corpo o oxigênio que lhe permite viver, assim os irmãos leigos e os irmãos ordenados dão vida à Ordem dos Frades Menores com igual dignidade. Este documento apresenta a nossa visão compartilhada, o trabalho que somos chamados a fazer e os caminhos concretos para fortalecer e apoiar a vocação dos irmãos leigos na vida da Ordem.

I. FRATERNIDADE E MINORIDADE

Esclarecer a identidade e a vocação do irmão leigo na tradição franciscana como uma das expressões autênticas do ser “irmão” em minoridade, humildade e fraternidade, ajudando todos os irmãos a valorizar seus papéis distintos, afirmando ao mesmo tempo a missão compartilhada, seja de um irmão leigo como de um irmão ordenado, e renovando a nossa comum vocação para viver juntos o Evangelho.

II. MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO

A missão e a evangelização de todos os frades implicam o criar oportunidades e o estar abertos para ir em direção aos leigos e sair da zona pessoal de conforto para se identificar com os leigos, especialmente com os pobres e os marginalizados e, com humildade e alegria, escutar as suas histórias, entrar nas suas vidas e evangelizar através da presença e da disponibilidade em responder às suas necessidades e desejos.

III. FORMAÇÃO E ESTUDOS

Fortalecer a formação na Ordem para que todos os frades compreendam e valorizem a vocação do irmão leigo, e promover a formação externa, para ajudar a Igreja e a sociedade em geral a reconhecer a importância do papel e do testemunho do irmão leigo na vida e na missão da fraternidade.

Para alcançar estes objetivos, recomendamos as seguintes propostas:

A. Estudos franciscanos compartilhados

Como critério geral da Ordem, todos os frades de profissão simples devem realizar juntos os estudos franciscanos, durante a formação para o ministério ao longo do ano e também nos programas de verão, em programas de estudo de uma semana ou em cursos on-line frequentados por várias Entidades. Isto será feito de maneira e com os meios adequados ao contexto das nossas Entidades em várias partes do mundo. Esta formação deve incluir a identidade franciscana, a vida fraterna, a vocação dos irmãos leigos e dos irmãos ordenados, a evangelização segundo a nova Ratio evangelizationis.

B. Acompanhamento personalizado dos irmãos leigos durante a formação inicial

Cada Entidade é encorajada a estabelecer um programa de acompanhamento para os irmãos leigos em formação inicial e também a incluir projetos para este fim na Ratio formationis et studiorum provincial.

C. Instrumento de avaliação das oportunidades para os irmãos leigos

Este instrumento deve ser usado como um diagnóstico, de duas maneiras. Em primeiro lugar, como uma auto-avaliação por parte do Ministro provincial e do seu Definitório, dos responsáveis pela formação inicial e pela formação permanente nas suas respectivas Entidades. Em segundo lugar, como módulo proposto aos Visitadores gerais para avaliar as oportunidades para os irmãos leigos das Entidades.

1. Descreva os papéis que os irmãos leigos desempenham na missão e evangelização de sua Entidade. Identificar papéis específicos, atividades, tarefas, habilidades ou profissões.

2. Descreva quais oportunidades de participação são oferecidas aos irmãos leigos pelo projeto da Entidade para a missão e a evangelização.

3. Descreva o tipo de oportunidades oferecidas pela sua Entidade para preparar os irmãos leigos para a missão e a evangelização.

4. Identificar os tipos específicos de programas de aprendizado, instrução e formação para preparar os irmãos leigos para participar das atividades de missão e evangelização.

5. Descreva como os frades leigos e aqueles candidatos ao sacerdócio realizam juntos os estudos franciscanos. Se os frades leigos realizam os estudos franciscanos independentemente dos irmãos que são candidatos ao sacerdócio, explique o motivo.

6. Descreva o seu programa de acompanhamento dos irmãos leigos na formação inicial e permanente.

7. Há irmãos leigos nomeados guardiães, formadores ou definidores? Se não, descreva o motivo.

Pedimos ao Ministro geral e ao Definitório geral que incluam em suas comunicações a todas as Entidades a análise do Ministro geral e o presente Documento, e que forneçam os meios para que estas propostas sejam implementadas em todas as Entidades. Também pedimos que a análise e estas sugestões sejam levadas para os próximos Capítulos provinciais e custodiais e para o Capítulo geral de 2027 para a aprovação.

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Carta do Ministro geral

Aos Irmãos Ministros provinciais aos Custódios a todos os frades da Ordem

Roma, 31 de julho de 2025

Caríssimos irmãos,

O Senhor vos dê a paz!

É com grande alegria que vos transmito o documento final do encontro dos irmãos leigos, durante o qual vimos crescer uma reflexão profunda sobre a nossa identidade carismática, mas também um convite para redescobrir a intuição originária de Francisco: uma fraternidade evangélica na qual a diversidade das vocações é vivida como riqueza e não como problema.

Como bem sabeis, a primeira fraternitas franciscana não nasceu como uma estrutura organizada, mas como uma explosão de autenticidade evangélica. Quando Bernardo di Quintavalle e Pietro Cattani se uniram a Francisco, fizeram-no para partilhar uma vida radicalmente evangélica, em que o ser irmãos precedeu todas as distinções e funções.

A história nos mostra uma rápida e tumultuosa transformação daquela primeira experiência. A institucionalização, o monasticismo, a clericalização, as exigências da missão e do apostolado modificaram progressivamente esse núcleo originário. O irmão leigo tornou-se gradualmente uma figura “auxiliar”, definida mais pela função do que pela vocação.

No entanto, o fascínio dessa intuição originária nunca desapareceu. Ao longo dos séculos, apesar das transformações, algo da essência da fraternitas permaneceu como um apelo constante, uma memória inquieta que continua a interpelar a Ordem.

Desejo recuperar esta intuição originária através de três imagens potentes que falam ao nosso tempo, embora tão diferentes:

1. A Fraternidade como “ecossistema espiritual”, onde as diferentes vocações – irmãos leigos e sacerdotes – existem não em hierarquia, mas em complementaridade, cada uma com valor intrínseco e contribuição única para o equilíbrio do todo. Por esta razão, cada vocação tem um valor intrínseco, não derivado da função. Esta narrativa ecológica ressoa profundamente com a sensibilidade contemporânea à interconexão e interdependência.

2. A Fraternidade como “polifonia evangélica”, em que vozes diferentes, mantendo sua própria identidade, criam uma harmonia que transcende a soma das partes, cantando juntos a mesma melodia do Evangelho. Nessa polifonia cada voz mantém seu timbre específico e a beleza do todo vem da diversidade, não da uniformidade. Esta narrativa polifônica fala de uma cultura que valoriza a expressão autêntica e pessoal dentro de uma comunidade.

3. A Fraternidade como “espaço de fronteira”, “onde se encontram e dialogam diferentes experiências do seguimento cristão, gerando criatividade evangélica nas “terras contíguas” da Igreja e do mundo. O encontro entre diversidades gera criatividade evangélica e a identidade se constrói no diálogo, não na separação.

Estas imagens não são apenas sugestivas, mas têm implicações concretas para a nossa formação, vida fraterna e missão. Convidam-nos a superar a separação dos percursos formativos, a rever as estruturas decisórias para garantir a efetiva co-responsabilidade e a desenvolver modelos de presença evangelizadora que valorizem todas as vocações.

Tenho o prazer de informar que o Definitório geral, acolhendo um dos frutos do encontro, decidiu preparar um formulário especial para os Visitadores gerais, baseado no Instrumento que encontrais no final do Documento final. Isso representa um passo concreto que visa traduzir a reflexão em caminhos de renovação nas nossas fraternidades.

Convido-vos a ler este documento não como um simples texto a ser arquivado, mas como um estímulo ao confronto fraterno nas vossas Províncias e Custódias. O desafio para nós hoje não é simplesmente “reavaliar” a vocação do irmão leigo, mas redescobrir juntos aquele frescor originário que nos torna autênticos filhos de São Francisco.

Neste caminho de redescoberta, recordemos que os irmãos leigos não são “objeto” de atenção, mas protagonistas essenciais de uma renovação que diz respeito a todo o carisma franciscano. Só assim conseguiremos ser sinal de uma Igreja que é verdadeiramente “casa para todos”, testemunho tangível do amor de Deus que se derrama com generosidade sobre o mundo inteiro.

Abraço-vos fraternalmente no Senhor e desejo-vos todo o bem.

Vosso irmão,

Fr. Massimo Fusarelli, OFM

 Ministro geral

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Fonte: https://ofm.org/documento-finale-dell-incontro-dei-fratelli-laici.html