Grito dos Excluídos espera reunir milhares de pessoas neste sábado
07/09/2024
Neste sábado, 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, milhares de pessoas irão se reunir, em diferentes localidades do país, para participar do Grito dos Excluídos e Excluídas, que está completando 30 anos de história. Neste ano as falas e atenção estarão voltadas para o tema e lema: “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”.
Essa iniciativa da Igreja Católica nasceu em 1994, durante a 2ª Semana Social Brasileira da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com o objetivo de dar voz à população que sofre com as desigualdades sociais, além de ser um espaço pacífico e democrático de articulação popular por direitos e de clamor permanente de “Vidas em primeiro lugar”, bem como de denúncia das desigualdades históricas.
A jornalista Ana Valim, do coletivo de comunicação do Grito dos Excluídos e Excluídas, participa da organização do evento desde a primeira edição. No começo ela atuava na Romaria dos Trabalhadores da Pastoral Operária, que depois foi vinculada ao “Grito”, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP).
“O Grito, nesses 30 anos, se constituiu em um espaço de resistência, denúncia e anúncio, que foi se espalhando, progressivamente, para todo o Brasil. Os lemas são expressões disso, passando pela conjuntura política, econômica e social do país, ora denunciando o sistema capitalista opressor que destrói, degrada e mata, a destruição do meio ambiente, a violência contra os pobres, as mulheres, o povo negro, a população LGBTQIA+, crianças e juventudes as periferias, as comunidades tradicionais, indígenas, ribeirinhas, trabalhadores do campo e da cidade”, destacou.
De acordo com a jornalista, o ato democrático, em contraponto ao grito da Independência, chama a população a descer das arquibancadas dos desfiles cívico-militares e entrar no jogo e participar ativamente dos rumos do país. “O anúncio do Grito é a construção de um novo projeto de sociedade, onde todas as formas de vida estejam em primeiro lugar. Esse projeto só se concretizará com a conscientização e organização popular, sobretudo dos setores excluídos”, concluiu.
Em São Paulo (SP), a concentração começou às 8h, na Praça da Sé, região central, com a distribuição de café da manhã. Os pronunciamentos começaram às 9h, e contaram com a presença de frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, como Frei Marx Rodrigues dos Reis, Coordenador da Frente de Solidariedade para com os Empobrecidos e Animador do Serviço de JPIC (Justiça, Paz e Integridade da Criação). A expectativa dos organizadores é de que 5 mil pessoas participem do evento.
“O 30º Grito dos Excluídos é um ato de resistência, um clamor por dignidade e igualdade. Nosso foco é um grupo que há muito tempo clama por atenção e apoio: as pessoas em situação de rua, que enfrentam uma luta diária pela sobrevivência, desprovidas de acesso adequado a saúde, educação e trabalho. Elas são vítimas de violência, preconceito e negligência. É nossa responsabilidade, como sociedade, reconhecer a dignidade inerente a cada um desses indivíduos e agir para garantir que tenham acesso a uma vida digna!” afirmou o frade.
Frei Marx acredita que o “Grito” pode ser uma boa oportunidade para a efetivação de ação concreta. “Sejamos a mudança que queremos ver, garantindo que a dignidade, o respeito e os direitos de todos sejam uma realidade. A luta é de todos nós, e só com a união e a perseverança conseguiremos construir uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva”, salientou.
De acordo com o frade, é junto dos excluídos e marginalizados que a Igreja pretende levar ao país o Reino de Deus. “Faz-se a pergunta: Quem se importa com os pequeninos? Os franciscanos se importam e devem se importar sempre, porque é junto aos pobres e humilhados que está a nossa forma de vida. Fizemos voto de pobreza e estar ao lado desses filhos e filhas de Deus significa que estamos ao lado no nosso carisma, pois São Francisco de Assis viveu sobre a situação de rua e violência”.
Relacionado o sentido da presença franciscana no ato, Frei Marx ainda lembrou que o evento na Praça da Sé, contou com um número expressivo de pessoas em situação de rua, ambiente no qual a fome se estabeleceu. Ele salientou: “Quem se importa com esses filhos e filhas de Deus? Nós, franciscanos, nos importamos. E quem não se importa? Os geradores de desigualdades sociais, as pessoas que desconstroem a democracia e os direitos dos cidadãos. Nosso projeto de evangelização é junto àqueles que não têm voz. Nesse dia, aqueles que choram, juntam-se a Igreja e transformam suas lágrimas em resistência, em grito profético e anunciam que o nosso Deus está a favor dos pequeninos”, finalizou.
Adriana Rabelo