Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Perdão de Assis em Vila Velha: “reconciliados, somos enviados a gerar reconciliação e paz”

05/08/2024

Notícias

A Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário, na Prainha em Vila Velha (ES), se transformou na Porciúncula e acolheu centenas de fiéis para a grande festa franciscana de Santa Maria dos Anjos. A celebração do Perdão de Assis foi realizada nesta sexta-feira (2), data que recorda as origens do movimento franciscano no mundo. “Para nós franciscanos de hoje, do Estado do Espírito Santo, assim como para os franciscanos do mundo inteiro, a Festa da Porciúncula nos remete ao berço da Ordem, pois foi a partir da pequena igreja em Assis que São Francisco e seus primeiros frades se dispuseram a vencer os desafios de sair pelo mundo a anunciar o perdão, a paz e o bem! Depois também veio Santa Clara de Assis. Que a motivação que te fez vir a esta celebração seja revigorada, a partir dos valores evangélicos e franciscanos”, animou Frei Vanderlei da Silva Neves, pároco da Paróquia do Rosário.

Na programação estava prevista uma procissão luminosa da Igreja do Rosário até o Campinho do Convento, onde continuaria a celebração e a concessão da Indulgência Plenária, no entanto, a Irmã Chuva (água) “Que é mui útil e humilde. E preciosa e casta” – como recorda o Cântico do Irmão Sol –, impossibilitou a caminhada, mas nem o frio desanimou os penitentes.

O evento teve início com cânticos franciscanos entoados pelas crianças e adolescentes da paróquia e pelo Frei Paulo Cesar Ferreira da Silva, vigário do Convento da Penha. Logo após o acendimento do Círio Pascal e das velas, os fiéis foram levados a meditar a oração pela paz, atribuída a São Francisco e firmaram um compromisso: ser no mundo um instrumento da paz de Deus. “Fazei-me, Senhor, instrumento da paz, da Vossa paz! A paz é cordialidade. Quando nós e a sociedade conseguimos transformar as relações existentes de discriminação e de dominação, em relações de inclusão e de participação equitativa, em uma rede de relações entre cidadãos livres que se cuidam reciprocamente e se tratam com cordialidade e de forma igualitária e fraterna, sonhamos juntos para alcançarmos o possível: a paz cotidiana, que propicia uma intensa alegria de viver. Podemos, juntos, criar condições adequadas que permitam emergir e garantir a paz, a paz de Deus, a paz de Cristo Ressuscitado”, enfatizou Frei Paulo durante a meditação da oração da paz.

No segundo momento, houve uma encenação da Impressão das Chagas de São Francisco, com vários “Franciscos e Claras” crianças. O ato marcou a celebração dos 800 anos em que o Santo de Assis teve impressas em seu corpo as chagas do Serafim Alado. “Quando, em 1224, São Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão”. O teatro foi realizado pelo Grupo Teatral Santa Clara, com participação das crianças da catequese e perseverança do Santuário Divino Espírito Santo.

Na sequência, foi proclamado o Evangelho (Lucas 1,46-55) e a reflexão feita pelo Frei Robson de Castro Guimarães, que destacou: “Foi nesta igrejinha que São Francisco, pensando com amargura nos anos e pecados do passado, sentiu a alegria do Espírito Santo e a certeza de que estava totalmente perdoado. Por isso, pediu ao senhor Papa que todos os que entrassem nesta igrejinha, como devotos peregrinos e penitentes, participassem desta graça do perdão. Quando sentires o peso do pecado e do conflito interior, acredita que a misericórdia do Pai, o abraço de Cristo e a ternura do Espírito são mais fortes e mais belos que todos os pecados do mundo”.

O frade contextualizou os fiéis sobre o sentido da celebração do Perdão de Assis: “Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim: Uma noite, do ano do Senhor de 1216, São Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e São Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. São Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor. Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de São Francisco foi imediata: ‘Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, vierem a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas’. O Senhor lhe disse: ‘Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho, portanto, o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)’”, recordou o frade.

Em seguida, continuou: “E imediatamente, São Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusa e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: ‘Por quanto anos queres esta indulgência?’. São Francisco, destacadamente respondeu-lhe: ‘Pai santo, não peço por anos, mas por almas’. E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, São Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: ‘Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!’”, logo depois Frei Robson completou: “Com este santo desejo de São Francisco, manifestado nestas santas palavras, peçamos ao Senhor nosso Deus que permita-nos a cada irmão e irmã que sobe a Montanha Sagrada, que se torna nesta noite para nós a Porciúncula, a graça de rezar, meditar e buscar a indulgência plenária junto a esta fraternidade franciscana e encontrar para si ou para os seus parentes e amigos defuntos o perdão de Deus”, afirmou Frei Robson.

Ainda na partilha da Palavra, o frade elencou os desejos de São Francisco ao pedir a salvação das almas. “Entrar na Porciúncula, com São Francisco de Assis, nesta noite, é nascer de novo, pelo Espírito do Senhor, porque foi nesta igrejinha, que o jovem São Francisco, procurando descobrir a vontade do Senhor a seu respeito, escutou o Evangelho, pediu ao sacerdote que lhe explicasse e, exultando de alegria, exclamou: ‘Isto mesmo eu quero, isto peço, isto anseio poder realizar com todo o coração’. E, passando da vida eremítica, dedicou-se ao anúncio itinerante da Palavra de Deus entre o povo. Foi nesta igrejinha que São Francisco, embora sabendo que o Reino de Deus se encontra por todos os lugares da terra, e que a graça do Senhor pode ser dada em todos os lugares, foi saboreando aqui uma especial presença e graça do Deus da sua aventura evangélica e missionária. Por isso, repetia: ‘Meus filhos, tende cuidado em nunca abandonar este lugar. Se dele vos expulsarem por uma porta, entrai logo por outra, porque este lugar é verdadeiramente santo; é a casa de Cristo e da Virgem sua Mãe’”, disse.

Por fim, o frade do Convento da Penha pediu a todos um compromisso de abrir os braços e acolher cada pessoa como irmão e irmã, porque naquela igrejinha, “São Francisco, zeloso pelo seu privilégio de ser pobre, responde a um irmão: ‘Se não vês outra maneira de prover às necessidades dos irmãos, vai ao altar da Virgem e despoja-o dos seus ornamentos. Acredita, a Senhora há-de comprazer-se mais em ver despojado o seu altar para podermos observar o Evangelho do seu Filho, do que ver adornado o altar e desprezado a Ele’”, concluiu.

Antes da bênção, Frei Alessandro Dias do Nascimento conduziu a renovação das promessas batismais e a confirmação da fé. O frade também absolveu os fiéis de seus pecados, no entanto, orientou que, para receber a Indulgência Plenária, os fiéis precisavam também procurar a confissão sacramental individual. Ao final, os devotos foram aspergidos com água benta, enquanto cantavam:

Amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou.

Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu.

Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria.

E ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz!

Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria.

E ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz!

O povo foi convidado a espalhar a alegria desta notícia: “Reconciliados, somos enviados a gerar reconciliação!”


Cristian Oliveira