Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Francisco é um grande santuário de Deus”, diz Frei Gilberto

27/09/2023

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“Francisco de Assis e o Cristo no presépio em Greccio” foi o tema do segundo dia (26/9) da Semana Franciscana 2023, que está sendo realizada no formato on-line. Frei Gilberto da Silva, que se doutorou em franciscanismo no ano passado, e é professor do Instituto Teológico Franciscano (ITF) e mestre do tempo de Teologia na Província Franciscana da Imaculada Conceição, foi o convidado desta noite, que teve como mediador Frei João Fernandes Reinert, doutor em Teologia pela PUC-Rio e pároco da Paróquia Santa Clara de Assis, em Imbariê (RJ).

Frei Sandro Roberto da Costa, reitor do ITF, na sua apresentação, lembrou que esta Semana acontece perto das festividades de São Francisco de Assis e no ano dos Jubileus Franciscanos dos 800 anos da Regra Bulada e do Natal de Greccio. Ele destacou que esta Semana é promovida pela Editora Vozes, Instituto Teológico Franciscano (ITF), Província Franciscana da Imaculada Conceição, Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB), a Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF) e Universidade São Francisco.

“São Francisco sempre inspira novas pessoas, novos carismas e ao mesmo tempo é muito pertinente o tema pela dimensão cristológica. Falar do presépio é falar da encarnação. E diante do mundo atual de tantos Cristos desencarnados, tantas cristologias desencarnadas, Frei Gilberto vai nos provocar a pensar o franciscanismo e também o cristianismo a partir de uma dimensão encarnada”, disse Frei João.

Frei Gilberto saudou a todos e lembrou que é importante notar que, a partir daquela noite em Greccio, o presépio deixa de ser uma representação somente artística e passa a ser uma representação de relações. “Ali em Greccio se reúne um grupo de pessoas para celebrar o Natal do Senhor. Então, essa é uma originalidade. A Igreja já celebrava o Natal do Senhor com sua liturgia. E Francisco diz: ‘Eu quero de novo viver o Natal do Senhor’. Então, ali, naquele momento, acontece algumas coisas que nós vamos dizer originais de São Francisco de Assis”, situou Frei Gilberto.

“Falar de Cristo é sempre falar de uma dimensão daquele que veio e que está presente e de uma dimensão escatológica. Claro que hoje vamos falar mais da questão histórica do Cristo Encarnado”, explicou.

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Greccio, de Piero Casentini

Frei Gilberto abriu sua reflexão com a pintura de Piero Casentini, sobre Greccio. “O boi, o burro e Francisco com o Menino no colo e que tem os olhos fixos no Menino jesus. Aí Francisco está de dalmática porque o texto de Tomás Celano (85-87) está escrito que Francisco era um levita, estava vestido para o serviço. Mais importante do que a veste é o Menino que está no seu braço. Olhos fixos no menino”, ressaltou.

Frei Gilberto também mostrou o afresco da igreja do Noviciado de Rodeio, feito pelo artista Lorenz Johannes Heilmair, e que tem Maria e o Menino Jesus no centro. “A espiritualidade franciscana vai trabalhar com todos esses elementos. Nós vemos ao lado São Francisco sendo chagado pelo próprio Cristo. O Cristo da Encarnação, da história, da Redenção, da salvação e o Cristo que se faz pão, entre nós se faz alimento. Olhamos esse esplendor de símbolos e cores. Ao olharmos tudo isso vamos nos deixar ser surpreendidos por aquilo que Deus fez e está fazendo em nos”, disse Frei Gilberto.

Segundo o frade, essa Encarnação de Cristo, esse amor de Deus pela humanidade começa nas periferias. “Talvez seja para nós, Igreja Católica, um sinal de conversão. Encontrar novamente Cristo nas periferias. Cristo está nas periferias existenciais. Greccio é um lugar perdido no meio do nada. Belém não é muito diferente”, lembrou Frei Gilberto.

Segundo o frade, a espiritualidade de Frei Francisco é relacional. Para São Francisco, Deus não está fora do mundo, mas se mistura na história da humanidade. “Francisco vai vivendo essa experiência com Deus e dando respostas”, observou o frade. “Ao longo da sua história, percebemos que Francisco vai dizendo: ‘Eu quero ver a Deus, eu quero viver com Deus’. Francisco de Assis conhece Deus-Cristo pela Palavra”.

CRISTO POBRE

Uma característica de Francisco é seguir o Cristo pobre. Que Cristo é esse que se encarna? “Para Francisco não vai ter outra realidade. Ele se coloca diante da cruz, na capela de São Damião, e vai dizer que uma voz fala com ele e diz: ‘Vai, Francisco, e restaura a minha Igreja’. E Francisco sai pedindo pedra literalmente, pedindo aquilo que é necessário para reparar a igreja física, mas dentro de Francisco está sendo construído um grande santuário. Francisco é um grande santuário de Deus. Esse santuário que está sendo construído dentro dele é o que ele quer que seja construído em todos os lugares e em todos os seres humanos. E esse santuário se dá pela experiência do Cristo Pobre. O Cristo que morreu crucificado, sem nada. É o Cristo que é simples, obediente ao pai. Ao olharmos o Cristo de São Damião, ele é o Cristo histórico apaixonado pelo ser humano, servo, sofredor, mesmo sem culpa alguma, morre para a salvação. Morre por amor à humanidade”, indicou o frade.

Segundo Frei Gilberto, os autores franciscanos vão falar que Cristo se encarnou por amor: “E por amor ele vai viver, vai libertar as pessoas, vai propagar o Reino de Deus por amor e vai construir o Reino de Deus por amor. Ele quer que por amor, eu e você, cheguemos no Reino de Amor. Então, os autores franciscanos não enfatizam o pecado, a ascese corporal, mas o Cristo que se encarna por amor””.

Que imagem São Francisco vai ter se olharmos para a cruz de São Damião, perguntou o frade. “É o Cristo nu. Ele não possui nada. O poder que ele recebe do Pai é o serviço. O serviço e amor à humanidade. É o Menino que nasce pobre, é colocado nu entre as palhas e o feno, e vai morrer pobre. Ele ressuscita por esse amor do Pai, por essa ação maravilhosa que o Pai faz. Então, é uma ressurreição de amor, de vida. Olhando para a cruz, vamos ver essa imagem. Nada, Cristo complemente vazio, com suas dores, mas na cruz ele se doa, nos faz viver”, explicou.

Então, Frei Gilberto se concentrou nas três dimensões para entender o Cristo: o Cristo do Presépio, o Cristo da Encarnação e o Cristo que se fez alimento, que está conosco e o Cristo da cruz. E na sequência, Frei Gilberto fundamentou sua fala nos textos que é próprio do franciscanismo, como a Carta aos Clérigos, Carta aos Custódios, Carta aos Fiéis, Ofício da Paixão do Senhor, Paráfrase do Pai-Nosso (veja esses itens detalhados na explanação).

“Humildade da encarnação e a caridade da Paixão”.

“É a frase de Tomás de Celano que coloca dentro do relato de Greccio. Não precisamos explicar muito. Isso nos identifica como cristãos. Servimos aos outros, perdoamos uns aos outros, temos o sentimento de Cristo entre nós ou não somos identificados como cristãos. Não pode faltar a caridade. O Deus presente no meio de nos se abaixa para lavar os pés da humanidade. Que Cristo é esse? Como Francisco entende esse Cristo? Cristo lava-pés, que lava os pés da humanidade oferecendo para nós a salvação”, interpretou.

Frei Gilberto enfatizou o Cristo Pobre no seguimento de Francisco. “Francisco vai viver essa dimensão da pobreza pessoal, da pobreza fraterna, mas ele vai ao encontro do necessitado. Como é que viveu Jesus? Na relação com os necessitados. Do mesmo modo Francisco vai seguir esse Cristo”, insistiu.

E concluiu: “Então, a nova Belém é o meu coração, o seu coração. A nova Belém é onde o Cristo nasce e renasce em cada Natal”.

Nesta quarta-feira, às 20 horas, a Semana Franciscana aborda o tema “Francisco revivido na vida de Irmã Dulce dos Pobres”, que será ministrado pela Irmã Rosana dos Santos, tendo como mediadora da noite  Irmã Juliana Ferreira, IFS.

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