A popularidade surpreendente e contínua de São Francisco de Assis
10/07/2023
Por que São Francisco de Assis é uma figura de tanta relevância em nosso tempo? A National Gallery de Londres está dedicando a primeira grande exposição de arte no Reino Unido neste mês de julho para explorar a vida e o legado de uma das personalidades mais inspiradoras e reverenciadas da história, não apenas pelo catolicismo.
De alguns dos primeiros painéis medievais, relíquias e manuscritos a filmes modernos e uma história em quadrinhos da Marvel, a exposição mostra como São Francisco capturou a imaginação de artistas ao longo dos séculos e como seu apelo transcendeu gerações, continentes e diferentes tradições religiosas. O Cardeal Vincent Nichols, presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e País de Gales, falou no evento de lançamento desta exposição: “Francisco de Assis goza de uma popularidade surpreendente e contínua”, disse o cardeal Nichols.
“Seu amor e cuidado pela criação é muitas vezes o que abre para muitos o caminho de uma apreciação mais profunda deste notável santo”, acrescentou. O Cardeal destacou que o amor de São Francisco pelo mundo natural nunca foi romântico: “Francisco escolheu deixar seus confortos e identificar-se com os que estão à mercê das intempéries, os mais próximos das realidades da natureza: os leprosos, os pobres, os marginalizados. Ele sofria com eles, muitas vezes encharcado até a pele e congelado até a medula. No entanto, ele cantou para a glória de Deus, vista e experimentada nas características do mundo criado. O caminho de extrema pobreza e vulnerabilidade que ele escolheu fica claro ao olhar para sua túnica, uma relíquia preciosa gentilmente trazida para cá de Florença”, disse o cardeal, no site da Conferência dos Bispos.
“Como Ann Roe escreveu em sua excelente crítica desta exposição: ‘Francisco não é um santo fácil. Mas através dele podemos também descobrir, se quisermos, a preciosidade das maravilhas do dia a dia: da água, das rochas e das estrelas, das ervas e das criaturas, e da divindade que se move nelas, como se move também em nós’”, emendou o Cardeal. Segundo ele, gradualmente, tornou-se claro para Francisco que as palavras “reconstruir minha igreja” não significavam as pedras e a madeira de São Damião, mas o tecido espiritual de toda a Igreja. “Ele levou essa reconstrução aos fundamentos mais profundos – à identidade radical do discípulo com o Amado Mestre, que, em sua total obediência, se entregou à morte, até mesmo à morte de cruz. Aqui na exposição vislumbramos a agonia que invadiu o coração de Francisco”, recordou.
O Cardeal Vincent Nichols também falou de Clara de Assis. Para ele, falar de Clara é preciso lembrar de que a Europa do século XIII estava repleta de movimentos de mulheres – mulheres lutando para estabelecer suas próprias iniciativas e espaços. “A mãe de Clara, Ortolana, fez uma peregrinação só para mulheres à Terra Santa. Clara lutou toda a sua vida pelo direito de suas irmãs de arriscar tudo e viver em total pobreza sem proteção masculina. Este ‘Privilegium paupertatis’ foi finalmente concedido a ela nos últimos dias de sua vida. Ela nunca desistiu e é devidamente considerada, a meu ver, a grande e primeira protetora da profundidade radical do carisma franciscano”, disse o cardeal Nichols.
A mostra apresenta mais de 40 obras de arte de coleções públicas e privadas europeias e americanas, que abarcam mais de sete séculos. A exposição busca esclarecer como São Francisco cativou a imaginação dos artistas, como sua imagem evoluiu ao longo dos séculos e como seu apelo universal transcendeu o tempo, os continentes e as tradições religiosas. “Francisco está aqui para nos tocar novamente”, decretou o Cardeal Nichols.
São Francisco de Assis continua a ser uma figura atraente e inspiradora para cristãos e não cristãos, para pacifistas e ambientalistas, para os que clamam por justiça social, para os utópicos e revolucionários, para os amantes dos animais e para os que trabalham por causas de solidariedade humana.
“A história das imagens de São Francisco é também a história de como Francisco foi percebido ao longo do tempo”, disse Gabriele Finaldi, diretor da National Gallery e co-curador da mostra.
“Ao longo dos séculos, vários Franciscos surgiram à medida que diferentes aspectos de sua pessoa foram destacados, adotados, promovidos e, inevitavelmente, apropriados e manipulados. Esta exposição explora alguns aspectos desta fascinante história.”
“Desde sua Úmbria natal, a imagem de São Francisco se espalhou rapidamente para se tornar um fenômeno mundial. Desde as primeiras biografias escritas por Tomás de Celano e São Boaventura (século XIII) até os primeiros retábulos e murais pintados (particularmente aqueles atribuídos a Giotto e seus colaboradores na Basílica maior de São Francisco de Assis), a vida de Francisco tornou-se um exemplo digno de imitação e, até hoje, uma fonte contínua de fascínio artístico”, disse Joost Joustra, Curador Associado de Pesquisa em Arte e Religião na National Gallery.
Não é a primeira vez que São Francisco monopoliza a atenção do mundo. Em 1999, dez anos antes de terminar o milênio passado, a revista “Times” fez uma grande pesquisa entre seus leitores para saber qual seria a personalidade mais marcante e mais importante do milênio que se encerrava. São Francisco ficou em primeiro lugar. É bom lembrar que a revista “Times” não é religiosa e Francisco concorreu com personalidades leigas.
Outra vez, no dia 13 de abril de 2013, o mundo foi tomado de surpresa quando foi anunciado o novo Papa: o argentino Mario Bergoglio. O Papa era latino-americano! E a alegria ficou completa quando ele contou que a inspiração para a escolha do seu nome veio do Santo de Assis e do seu carisma.
Pode parecer paradoxal essas honrarias, pois não combinam com a vida de São Francisco, que tinha como base no seu edifício espiritual a humildade e a pobreza, mas são justas. São Francisco influenciou a cultura mundial e serviu de inspiração para o Pontificado de Francisco de Roma.
“Há muitos anos, levei um grupo de adolescentes a Assis. Eram maravilhosos: anárquicos, espontâneos e de grande espírito. Mas eles ficaram totalmente impressionados com Assis: a beleza natural do vale matinal entremeado pela névoa, a dureza intransigente do leito de rocha nua onde Francisco dormia, o desafio que ele lançou a eles para serem autênticos e ousados em seu catolicismo. Quando chegamos ao seu túmulo, na cripta da Basílica, eles choraram sem parar. O chamado de Francisco é tão claro hoje como foi para aqueles jovens, como foi ao longo dos séculos. Agradeço sinceramente a todos que ajudaram a trazer esta Exposição para Londres, para a National Gallery”, disse o Cardeal Nichols.
Redação: Província da Imaculada Conceição
Press releases Saint Francis of Assisi (https://www.nationalgallery.org.uk/about-us/press-and-media/press-releases/saint-francis-of-assisi)
Conferência dos Bispos da Inglaterra e País de Gales (https://www.cbcew.org.uk/launch-of-the-st-francis-of-assisi-exhibition-at-the-national-gallery/)
Imagem no alto: Detalhe de Francisco de Zurbarán, ‘São Francisco em Meditação’, 1635-9 © The National Gallery, Londres.