“Colocar um santo preto no lugar mais alto do altar principal de uma igreja particular, em fins do século XIX, não foi tarefa fácil para a Irmandade de São Benedito do Largo São Francisco”. A constatação de Frei Alvaci Mendes da Luz está no seu livro “Um preto no altar”, que acaba de ser lançado. O frade, que atualmente trabalha na Universidade São Francisco (USF), vai apresentar o livro neste sábado, dia 1º de abril, às 14h, e, em seguida, vai concelebrar uma missa em honra a São Benedito no Convento São Francisco, no centro de São Paulo.

Frei Alvaci lembra que na Igreja do Convento de São Francisco, no centro da cidade de São Paulo, o santo siciliano, invocado como protetor das comunidades negras, só chegou ao nicho principal do altar-mor depois de um longo processo de disputas, resistência e protagonismo daquele grupo (Irmandade de São Benedito) constituído majoritariamente por pretos e pretas pobres, escravizados ou ex-escravizados.

Atentos ao contexto social que os envolvia, particularmente aos movimentos em defesa da libertação dos cativos, os irmãos beneditos, como ficaram conhecidos, vislumbraram o momento oportuno para substituir a imagem de São Francisco pela de São Benedito, mudar a titularidade do templo e ainda reivindicar para si a posse daquele espaço. Por mais de oitenta anos cuidaram da igreja, fizeram reformas, construções, festas e enterros no local, transformando-o em um dos marcos da resistência negra na capital paulista.

Esse evento, segundo Frei Alvaci, foi escolhido para acontecer próximo do dia de São Benedito, celebrado no dia 4 de abril. Embora em todo o mundo sua festa seja celebrada em 4 de abril, data de sua morte, no Brasil ela é também celebrada, desde 1983, em 5 de outubro, por uma especial deferência canônica concedida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Aos vinte e um anos de idade, Benedito ingressou em um grupo de eremitas franciscanos, fundado por Jerônimo Lanza. Aqueles homens viviam sob a Regra franciscana, em grutas e cavernas da região de São Filadelfo, na Sicília. Primavam pelo espírito de oração, pela humildade, pela obediência e pela alegria numa vida de extrema penitência.

O papa Paulo IV extinguiu em 1562 os diversos grupos de eremitas e penitentes franciscanos que cresciam por toda a Europa, ordenando que os que quisessem se manter segundo a Regra de São Francisco procurassem um convento franciscano e ingressasse nele. Foi o que aconteceu com Benedito que passou a viver no Convento Santa Maria de Jesus, na região de Palermo, onde exerceu as funções de cozinheiro, porteiro, mestre de noviços e guardião. Embora analfabeto e irmão leigo, o frade negro, filho de ex-escravizados, terminou seus dias naquele mesmo convento rodeado por seus confrades e com fama de santidade. Faleceu no dia 4 de abril de 1589.

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