Falece Frei Raul Budal da Silva
09/01/2023
Faleceu, na noite de ontem, Frei Raul Budal da Silva, na Fraternidade São Francisco de Assis, de Bragança Paulista (SP). Frei Raul convivia com problemas cardíacos que o levaram à internação hospitalar nos últimos dias. Ele recebeu alta do hospital e permissão de retornar à Fraternidade há três dias, mesmo que ainda debilitado. Faleceu junto aos confrades.
A Fraternidade São Francisco de Assis irá celebrar a missa de corpo presente às 10h, de hoje e levará o corpo do confrade para seu sepultamento, às 15h, no Jazigo da Província, no Cemitério do Santíssimo Sacramento, em São Paulo, SP.
Que nosso confrade falecido, descanse em paz.
HISTÓRICO
Data de Nascimento: 11/11/1926 (96 anos)
Naturalidade: Antônio Olinto, Rio Negro (PR)
Vestição: 19/12/1951
Primeira Profissão: 20/12/1952 (70 anos de vida religiosa)
Profissão Solene: 20/12/1955
Ordenação Presbiteral: 16/12/1957 (65 anos de ministério presbiteral)
1952 – Noviciado São José (Rodeio, SC)
1953-1954 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões (Curitiba, PR), para os estudos filosóficos.
1955-1958 – Fraternidade Sagrado Coração de Jesus (Petrópolis, RJ), para os estudos teológicos.
1959 – Fraternidade Santo Antônio (Rio de Janeiro, RJ), para fazer um curso de pastoral.
1960-1962 – Fraternidade São Luís de Tolosa (Rio Negro, PR), a serviço do seminário.
1963 – Fraternidade Santo Antônio (Florianópolis, SC), como secretário coadjutor do arcebispo.
1964 – Fraternidade Santo Estêvão (Ituporanga, SC), como discreto.
1965-1966 – Fraternidade São Luís de Tolosa (Rio Negro, PR), a serviço do seminário.
1967-1968 – Fraternidade do Patrocínio de São José (Lages, SC), como discreto.
1969 – Fraternidade Santo Estêvão (Ituporanga, SC), como vigário paroquial.
1970-1975 – Fraternidade São Lourenço (São Lourenço, MG), como vigário paroquial e guardião.
1976-1978 – Fraternidade Nossa Senhora do Rosário (Concórdia, SC), como vigário paroquial.
1979 – Fraternidade Santo Antônio (Blumenau, SC), como vigário paroquial em paróquia de São Francisco do Sul (SC)
1980-1982 – Fraternidade Santa Inês (Balneário Camboriú, SC), como vigário paroquial em paróquia de São Francisco do Sul (SC).
1983-1987 – Fraternidade São Francisco de Assis (Ituporanga, SC), como professor.
1988 – Fraternidade Santa Inês (Balneário Camboriú, SC), como vigário paroquial.
1989-1991 – Fraternidade de Porto União (SC), como vigário conventual e paroquial.
1992-1993 – Fraternidade Nossa Senhora do Amparo (São Sebastião, SP), como vigário paroquial e conventual.
1993-1997 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões (Curitiba, PR), como vigário paroquial e conventual.
1998-2000 – Fraternidade de Porto União (SC), como vigário conventual e paroquial.
2001 – Fraternidade Nossa Senhora da Conceição (Paty do Alferes, RJ), como vigário paroquial.
2002 – Fraternidade São Boaventura (Campo Largo, PR), como atendente conventual.
2003-2008 – Fraternidade Santo Estêvão (Ituporanga, SC), como vigário paroquial.
2009-2014 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões, como atendente conventual.
2015-2023 – Fraternidade São Francisco de Assis, para tratamento de saúde.
O FRADE
Frei Raul Budal da Silva foi insistente, teimoso e paciente. Na primeira vez que pediu aos seus pais para ingressar no seminário, o pedido foi duramente negado. Somente anos depois, ele viveu o melhor Natal da sua vida, quando de presente ganhou dos pais a autorização para adentrar na vida franciscana. “Disse meu pai comovido: ‘Raul vai para o seminário’, foi o melhor Natal da minha vida”, agradeceu o frade há 6 anos, já residindo em Bragança Paulista (SP), na Fraternidade São Francisco de Assis. “Vivo num ambiente com outros confrades que também têm suas limitações e com eles convivo com caridade fraterna. É necessário viver em fraternidade com muito amor e aceitação”, destacou o frade.
Seguem as palavras do próprio Frei Raul Budal sobre o modo como lia sua vida:
“O meu chamado para o sacerdócio e para a Ordem deu-se por etapas. Eu era adolescente com 14 ou 15 anos quando em Rio Negro (PR), local onde funcionava o seminário, eu admirava aquele castelo misterioso que me chamava a atenção, e eu não tinha sequer a ideia do que seria. As minhas irmãs mais velhas eram muito religiosas, faziam parte da liderança da paróquia e me levavam para a missa. Elas sempre me entusiasmaram e indiretamente me estimularam a viver naquele castelo maravilhoso que era o Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa. Aos poucos, eu senti vontade de ser padre e comuniquei em casa aos meus pais e irmãos que eu gostaria de ir para o seminário. A primeira ideia foi esta: ser padre. Esse desejo aumentou muito um ano depois, e eu arrisquei pedir ao meu pai. Ele não era muito religioso, era muito bom pai, mas não era de frequentar a igreja não. Pedi a ele para ir para o seminário logo no começo do ano, em janeiro ou fevereiro, e meu pai disse: “Não, para o seminário e para ser padre, não! Você vai estudar Direito em Curitiba”. Curti aquilo com bastante desengano e desprazer, mas obedeci, afinal o pai era a autoridade na família. Neste tempo, por uns dois anos, cheguei até a trabalhar numa empresa como office boy. Mas o desejo de meus pais era que eu fosse estudar em Curitiba. O grande passo foi quando eu já tinha 16 ou 17 anos. Perto do Natal, o pai ou mãe entregavam um pedaço de papel pra cada membro da família e cada um escrevia ali o que desejava receber como presente de Natal. Eu escrevi direitinho: ir para o seminário! Não falei nada para ninguém e coloquei o papel na caixinha. Na véspera de Natal à noite, como era de costume em nossa casa, a família se reuniu para fazer a festa do Natal. Meu pai então foi lendo o pedido de cada um. Eu fiquei por último e estava ansioso. Por fim meu pai abriu e disse: “Raul vai para o seminário!” Eu me senti no céu, era isso que eu queria. Meu Deus, que Natal bonito que eu passei, celebrando dentro do coração esse grande momento do sim do meu pai. Ele custou, mas me deu como presente ingressar no seminário. Logo entrei em contato com a direção do seminário e, no dia 31 de janeiro de 1945, me levaram para o seminário e lá começou uma nova vida para mim”.
“Eu me sinto imensamente feliz e sinto de perto o dedo de Deus que me chamou para esta vocação. Como pecador, ninguém de nós merece, mas eu fui para o seminário com o desejo de ser sacerdote. Dentro do seminário, encontrei um educador maravilhoso, Frei Tadeu Hoenighausen, já falecido, que nos direcionou para a vocação franciscana. Ali Deus foi me abrindo a mente para ser franciscano. Antes de ser padre é preciso ser religioso franciscano, mas isso veio aos poucos. Deus não tem pressa e aos poucos foi abrindo o meu coração. Devo um grande favor a este grande educador Frei Tadeu. Então, com o decorrer dos estudos fui desejando e amando ser franciscano”.
“A vida religiosa em geral está em crise, mas o carisma franciscano – justamente por esta grandeza de coração, amor à natureza, fraternidade, simplicidade e humildade – ainda não morreu. Como já disse, em geral a vida religiosa está em crise, mas o carisma franciscano continua vivo e não vai morrer! O mundo, mesmo que muitas pessoas estejam afastadas de Deus, admira o carisma franciscano. Ser franciscano hoje é um dom e um privilégio que Deus nos dá”.
“Não há dúvida, vale a pena ser franciscano! Porque é uma vida simples de pobreza, desapego, de acolhida a todos os irmãos, sem preconceitos, pelo menos é aquilo que nós pregamos e graças a Deus muitos de nós conseguimos realizar. Isto é visto pelo povo, pois quem entra em contato conosco, com um bom franciscano, se sente acolhido, admirado e com facilidade vê um caminho largo de conversão a Deus”.
“Tenho 60 anos de padre (na época). Trabalhei em duas áreas, na área de educador, no seminário em Rio Negro, foi a primeira obediência que recebi. Não tenho formação universitária, naquele tempo nosso estudo era tão exigente e reforçado que dispensava o diploma universitário. Não sei se é vaidade minha, mas a gente estava muito bem preparado. Lecionei latim e português. Ainda que não tenha sido perfeito, nunca ninguém reclamou. Depois mais tarde, em Ituporanga, como professor, também lecionando as mesmas matérias. Nesse período, senti falta de uma formação ulterior, mas fiz o essencial. Tenho muitos frades que foram meus alunos e hoje estão à frente de trabalhos na Província”.