Trânsito de São Francisco, uma tradição que sempre emociona
03/10/2022
São Paulo (SP) – Era 3 de outubro de 1226. O sol se despedia no horizonte e uma pequena chama saindo de uma lamparina ilumina a pequena igreja, berço da Ordem Franciscana. Cercado pelos irmãos “desolados”, como conta seu biógrafo Tomás de Celano, Francisco inicia a celebração de sua morte como um ágape. Pede para trazer um pão, abençoa-o e distribui a cada um. Pede, então, que leiam o Evangelho de São João, no trecho que diz: “Antes do dia da festa da Páscoa…”. Com isso, recordava a última Ceia do Senhor. A febre aumenta e Francisco sente a proximidade da irmã morte. Pede que o coloque no chão e cantem com ele o Salmo 141. Antes de terminar a última estrofe, Francisco vai de encontro ao Pai.
Este ritual se repete há mais de 800 anos. É uma tradição na Ordem Franciscana recordar o Trânsito de São Francisco, a sua passagem desta vida para a vida eterna. Também já é tradicional no Convento São Francisco, no Centro de São Paulo, esta celebração, reunindo os frades das três Fraternidades da Província da Imaculada Conceição (Vila Clementino, Convento São Francisco e Pari). A celebração, nesta segunda-feira (3/10), às 19 horas, foi presidida por Frei Roberto Aparecido Pereira e concelebrada pelo guardião da Fraternidade do Convento, Frei Mário Tagliari, e pelo Definidor Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel. O Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, também participou da Celebração.
(toque nas imagens menores para ampliá-las)
Coube aos jovens vocacionados do Convento e Santuário São Francisco e o jovem Diego Lima representar um dos momentos mais tradicionais e emocionantes da Festa de São Francisco de Assis. Após a homilia de Frei Roberto, o grupo de jovens veio do fundo da igreja carregando o santo já agonizante, representando o cortejo que caminhava para a Porciúncula. Sentindo-se agonizar, Francisco havia pedido para que o levassem ao lugar sagrado onde teve início a Ordem Franciscana e onde estavam seus confrades. Francisco foi colocado numa padiola e o cortejo deixou Assis pela estrada que levava ao vale de Santa Maria dos Anjos.
“‘Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal’. Tema estranho quando olhamos a partir dos limites de nossa compreensão e aceitação. Mas é natural em se tratando de Francisco de Assis, que preparou o momento de sua passagem neste mundo para a eternidade. Reuniu os irmãos, recebeu os doces e a presença de sua amiga Jacoba, compôs um hino às criaturas para ser cantado naquela hora, arrumou um despojado leito na terra nua. Ele nos ensina que por amar intensamente a vida, não devemos temer a morte”, disse Frei Roberto.
(toque nas imagens para ampliá-las)
Os jovens vocacionados colocam Francisco no chão do presbitério, em frente à belíssima imagem de São Francisco no altar-mor, e recordam os últimos momentos de Francisco na terra. O coro de vozes masculinas, composto por frades e leigos, entoou os cânticos em latim, entre eles “O sanctissima anima”.
“Francisco morreu no outono de 226 em meio às metamorfoses da estação, o amadurecimento das folhas, o cair para o chão, renascer em todos os galhos e florescer, esconder nos confinados canteiros de inverno e renascer na Eterna Primavera. E a vida não é isto, um morrer e renascer?”, perguntou o celebrante.
“Por amar intensamente, Francisco não se prendeu a nada, foi livre para o regresso ao Paraíso. Ao fazer de sua morte uma celebração, tirou o trágico do instante. Viveu a vida moldando cada dia o eterno. Para ele, cada segundo da vida continha toda a vida em sua plenitude, por isso não sabia do último dia. Disse que todos devem começar, fazer a sua parte”, continuou Frei Roberto.
No caminho para Santa Maria, o cortejo para e Francisco olha e abençoa a cidade de Assis pela última vez. Antes de morrer, Francisco ditou seu Testamento espiritual e pediu para trazer o pão. Abençoou-o, partiu-o e deu um pedacinho para cada um comer como fizeram os jovens na encenação. Pediu que lessem o Evangelho de São João.
“Francisco desejou o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar. Fez disso a expressão de sua vontade. Compilou uma anotação de todas as maravilhas que viu na vida. Cantou um Cântico de luz na sombra da morte. Sabia que ia chegar ao céu e ser imediatamente reconhecido por todos os sofridos leprosos que chegaram antes e pelo Filho do Homem, que ia identificar e contemplar nele a mesma Paixão, as marcas do Amor fundidas num grande acolhedor abraço!”, completou Frei Roberto. Os jovens voltam com o corpo de Francisco e param diante de São Damião para o último adeus às suas prediletas filhas. No final, Frei Mário agradeceu os jovens que fizeram a singela e piedosa encenação.
Tudo encenado com muita simplicidade, mas com muita emoção. Ao final da celebração todos se saudaram com muita alegria, desejando uma feliz festa de São Francisco de Assis. Todos foram convidados para um lanche, que foi partilhado no antigo refeitório dos frades.
Depois de cinco apresentações como Francisco, Diego Lima fez a sua última interpretação, já que está se mudando para Luxemburgo, na Europa. Com ele, participaram da encenação os vocacionados: Francisco Ivan da Silva Júnior, Lucas Clarindo da Silva Salvador, Elias Chagas Pinto Junior, Heitor da Silva, Daniel Oliveira e Levy Gomes.
Neste dia 4, dia de São Francisco de Assis, as celebrações começam com as Laudes às 7 horas. As Missas serão celebradas nos seguintes horários: 8h, 10h, 12, 15, 16h30 e 18h00. Na festa externa, a macarronada, para recordar a terra de São Francisco, é a grande pedida, além do Bolo de São Francisco, dos pães e produtos do Convento.
Os frades darão a bênção dos animais e das pessoas durante todo o dia, inclusive no sistema drive-thru.
Comunicação da Província da Imaculada