“O despertar da águia” em nova reedição pela Vozes
15/06/2021
O despertar da águia
O presente livro de Leonardo Boff, na 17ª edição, O despertar da águia! O diabólico e o simbólico na construção da realidade, prolonga o anterior, A águia e a galinha ! Uma metáfora da condição humana. Embora estejam relacionados, eles podem ser lidos de maneira independente, sem prejuízo da compreensão do todo. O despertar da águia procura introduzir os leitores e as leitoras na nova visão do mundo, chamada também de cosmologia contemporânea, que se deriva dos muitos saberes que foram desenvolvidos a partir dos inícios do século XX.
Aqui são importantes as figuras de Einstein, formulador da teoria da relatividade, Niels Bohr e Werner Heisenberg, criadores da física quântica, Ilya Prigogine, criador de uma nova visão da termodinâmica do caos e da ordem, os astrônomos Hubble e Swimme, as psicologias dos arquétipos de Jung, a psicologia transpessoal de Le Goff e de Leloup e a ecologia integral como vem expressa na Carta da Terra.
A transdisciplinaridade exercida neste livro visa mostrar que as dualidades, representadas pela metáfora da águia e da galinha, pelo simbólico e pelo diabólico, marcam todo o universo, a natureza, a comunidade de vida e cada ser humano. Elas são responsáveis pelo dinamismo da realidade e representam um desafio para que cada pessoa possa fazer a sua síntese e plasmar seu sentido de vida.
O teólogo catarinense Leonardo Boff e ideólogo da Teologia da Libertação nasceu em Concórdia, Santa Catarina, em 1938. Neto de imigrantes italianos da região do Veneto, Leonardo Boff fez seus estudos primários e secundários em Santa Catarina e São Paulo. Em seguida, cursaria Filosofia em Curitiba e Teologia em Petrópolis. Após ingressar na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959, Leonardo obtém seu doutorado em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique. É doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela universidade de Lund (Suíça), tendo ainda sido agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos oprimidos e marginalizados e dos Direitos Humanos. Durante 22 anos, Leonardo Boff foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior. Boff se destaca na histórica nacional por ser umas das primeiras vozes de protesto contra um modelo de globalização propagadora de miséria e marginalização. Foi sempre um ardoroso defensor da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com “Direitos à Vida e aos meios de mantê-la com dignidade”.
Teologia e os LGBT+
A presente reflexão do teólogo Luís Corrêa Lima dá sequência à tradição metodológica, eclesial e mística de integração dos excluídos no coração da comunidade cristã e no seio da sociedade. No coração do evangelho se encontram a práxis de Jesus e a práxis da Igreja. É da fonte mais profunda da fé que se elevam as vozes dos excluídos por todos os mecanismos sociais, políticos e morais de ontem e de hoje. Da ética de Jesus ninguém pode ser expurgado em nome de leis, de teorias ou de teologias.
A onipresença do Amor é um imperativo ético inegociável que renega todas as formas de exclusão e segregação. Nesse sentido, o cristianismo permanece em dívida ética com os homossexuais, ao menos em termos de sua doutrina oficial. Os grupos LGBTs denunciam com suas próprias existências uma sociedade e uma Igreja que ainda criam zonas de maldade irrecuperáveis, pecados sem perdão, mecanismos legítimos de exclusão. A reflexão que ora vem a público não pode temer o fato de que sua autêntica profecia evangélica provocará reações previsíveis dos ortodoxos profissionais. A reflexão expõe os preconceitos instituídos na sociedade e na Igreja e abre caminhos para outro paradigma moral que se encontra em construção desde a Exortação Amoris Laetitia.
Ainda é cedo para calcular os efeitos renovadores desse paradigma na Igreja e na sociedade; porém, iniciativas como essa abrem espaços e desbloqueiam o proibido, colocam novos parâmetros para a reflexão e desafiam as verdades concluídas. Que as sementes ora lançadas por Luís Corrêa Lima fecundem novas reflexões e ajudem a “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”, como conclama o Papa Francisco. (Do prefácio de João Décio Passos)
Pensar a realidade da população LGBT+, na perspectiva da teologia, exige, antes de tudo, deixar-se sensibilizar por suas dores e conflitos penosos, bem como reconhecer seus talentos, contribuições e possibilidades, superando estigmas que, desde há muito tempo, construíram concepções sexualizadas e jocosas dessa população que, ainda a duras penas, alcança maior visibilidade. Longe de ser uma questão meramente abstrata, o tema da teologia e os LGBT+ se lança a uma realidade que diz respeito à vida concreta de muitas pessoas que nem sempre são acolhidas pela comunidade cristã. O objetivo deste livro é encorajar a derramar óleo e vinho nas feridas humanas e colaborar para o progresso da doutrina. Nossas palavras podem salvar vidas, ou podem destruí-las. (Extrato da obra)
Sem ele nada podemos fazer
O novo livro do Papa Francisco narra o que significa hoje a missão de anunciar o Evangelho no mundo. Em diálogo com Gianni Valente, jornalista da agência missionária Fides, o Papa Bergoglio partilha suas experiências e convicções sobre qual é a fonte e a dinâmica do ser missionário, vocação que diz respeito a cada cristão. Neste texto simples e profundo, cheio de anedotas pessoais, reflexões relacionadas com a experiência e a sabedoria evangélica, Francisco nos faz compreender como o verdadeiro protagonista da missão não é o missionário ou sua habilidade, suas estratégias pastorais ou suas técnicas de marketing. Tudo isso, explica o papa, fazendo eco a seu predecessor Bento XVI, é, na verdade, “proselitismo”. Em vez disso, a Igreja só cresce por “atração”, quando os crentes, deixando espaço para a ação do Espírito Santo, trazem o verdadeiro Protagonista, sem o qual “nada podemos fazer”.
Este livro representa, portanto, um precioso trabalho para entender o que o pontificado do Papa Francisco está sugerindo a toda a Igreja, que ele chamou a ser “expansiva” com renovado espírito missionário desde a primeira exortação apostólica – Evangelii Gaudium – e ir à origem, àquilo que dá origem ao testemunho cristão. Um testemunho que nunca pode ser fruto de raciocínios à mesa, de teorias ou estratégias abstratas para melhor convencer, mas vem da reflexão livre da beleza que se encontrou e da misericórdia recebida. O testemunho cristão missionário nasce de uma vida que se comunica como por osmose. Sem Ele nada podemos fazer é um livro destinado a durar no tempo como ponto de referência para crentes e não crentes, interessados em compreender o “motor” do cristianismo, que o “Big Bang” gerou há dois mil anos com a Ressurreição de Jesus e que hoje se espalha de pessoa a pessoa, dando vida e esperança a bilhões de pessoas no mundo. (Da obra)
“A alegria de anunciar o Evangelho sempre brilha sobre o pano de fundo da gratidão. É uma graça que sempre precisamos pedir.” São quase sete da noite. Estamos na residência do Vaticano, na Casa Santa Marta. O dia agitado ainda não terminou. O papa fala em voz baixa. Procura por palavras. Sem pressa. Seu coração está em paz. No entanto, quem sabe quantos pensamentos – é fácil imaginar – pululam sua mente…”
A Sociedade Incivil
Capitalismo financeiro, mídia e algoritmos são as bases práticas da mutação do velho civilismo liberal. As consequências sociais, políticas e culturais do fenômeno do “iliberalismo” são inquietantes por sua recorrente ameaça à estabilidade da democracia e das instituições em regiões diversas do planeta. Esse é o mundo-zero dos valores ou a “sociedade incivil”, agora descrita e analisada por Muniz Sodré. Este livro sugere igualmente a regeneração da realidade objetiva asfixiada pelas redes e a reinvenção da práxis pela busca reconciliatória da Política com o Espírito; portanto, um apelo em favor de formas essenciais e não violentas de vida.
Sociedade incivil é a disrupção da sociedade civil, descrita principalmente por Antonio Gramsci como forma de organização do mundo do trabalho e da vida social pelo Estado e pelo capitalismo produtivo. Esse conceito de largo alcance tem lastreado análises acadêmicas desde a primeira metade do século passado.
Muniz Sodré introduz agora a ideia de incivilismo, como esgotamento ou desconstrução da sociedade civil por efeito do capitalismo financeiro e da tecnologia eletrônica da comunicação, que vem presidindo ao abalo das “placas tectônicas” da sociabilidade, do liberalismo político e dos processos democráticos.
A mídia generalizada como imagem-mundo, algoritmos, robôs e plataformas digitais constitui a face mais evidente desse fenômeno de desconstrução do demos tradicional, em que o claro-escuro do novo mundo apenas vislumbrado traz consigo espectros regressivos, traços de um ethnos problemático, não raro sob as aparências proteiformes do nacionalismo cego, do autocratismo político e do racismo estrutural.
Proteu, a divindade grega da profundidade das águas, capaz de assumir formas diferentes, pode ser invocado como ícone mitológico dessa mutação social, em que o futuro recai aceleradamente sobre o presente, às vezes em conluio com o pior do passado. Daí decorre, por exemplo, o protofascismo, que simula o retorno de monstros insepultos, mortos-vivos latentes na emergência do ódio como forma de conexão e de arrefecimento da empatia social.
A sociedade incivil é, assim, um ensaio multifacetado de aprofundamento compreensivo do que Muniz Sodré vem chamando, desde livros anteriores, de bios virtual como conceito abrangente dos dispositivos de mídia (bios midiático) e referente a uma forma de vida paralela orientada por finanças, mercado e consumo, já designada como uma nova razão do mundo.
Trata-se de pesquisa e reflexão oportunas na medida em que se agudizam na realidade imediata as consequências inquietantes de uma transformação profunda que repercute nas instituições; logo, nos mecanismos de subjetivação. Evidencia-se o papel da comunicação funcional como contraparte do capitalismo financeiro, arauto do liberalismo político e neutralizador do livre-discurso.
Em suma, um livro focado na História em pleno curso, a ser lido com a atenção exigida pelo tempo presente.
O insaciável espírito da época
“A psicologia junguiana em todo o mundo tomou um rumo político fascinante e importante. Muitos cidadãos, alarmados por muitos aspectos do mundo que herdaram, buscam pensadores da psicologia para obterem insights e ideias sobre as crises políticas do nosso tempo. Este livro é uma excelente vitrine de tais escritos. Jung nos lembra da necessidade de casar ‘o espírito da época’ com ‘o espírito das profundezas’. Esses junguianos brasileiros fazem exatamente isso.” (Andrew Samuels)
Dos autores: Humbertho Oliveira, Roque Tadeu Gui, Rubens Bragarnich
Motivando crianças com dificuldades de aprendizagem específicas
Embora os esforços atuais para melhorar a qualidade da educação internacionalmente tenham focado na preparação dos professores, no desenvolvimento curricular, nos padrões de qualidade e nas melhores ferramentas de avaliação, pouca atenção foi dedicada ao problema da motivação dos próprios estudantes ao aprendizado. Embora ter melhores gestores escolares, professores preparados e bem-qualificados, bem como ferramentas avançadas de avaliação e monitoramento do progresso, melhorem a qualidade dos serviços educacionais, o aprendizado não ocorrerá se os estudantes não estiverem motivados a aprender. Estudantes com dificuldades específicas de aprendizado não são exceção.
Pensar em como você seria motivado a aprender uma área ou conceito específico pode ser motivador por si só – e a motivação é tipicamente contagiante. Se você estiver motivado sobre o assunto, a grande maioria das crianças também o será. Se você está farto das mudanças e das formas, como seu nível de automotivação sobreviverá e apoiará os esforços de seus alunos? Assim como a motivação é individual para a criança, o mesmo ocorre para o professor.
Portanto, a automotivação diante das frustrações é uma habilidade que todos os professores precisam ter – e pensar e planejar maneiras de tornar algo interessante faz parte dessa habilidade. Planejar oportunidades para desafiar, ao mesmo tempo em que se mantém o autoconceito e o interesse, significa garantir o desempenho e que sejam desenvolvidas expectativas adequadas, tudo dentro dos limites de um programa curricular, pode ser um desafio para qualquer professor. No entanto, é também uma oportunidade de resiliência como professor. Ver como os conceitos básicos apoiaram o aprendizado de ideias mais complexas (geralmente um recurso do aprendizado auxiliado por andaimes, que pode ser vital para a criança com dificuldade de aprendizagem) deve ser tão motivador para o professor quanto pensar sobre a chegada das férias de verão. Ver essas ideias se desenvolverem na criança com mais dificuldades para aprender pode ser a característica mais agradável do magistério. Manter a resiliência quando um objetivo não for alcançado – e tentar novamente – deve ser tanto uma característica de um professor motivado quanto uma expectativa colocada sobre o estudante. Assim como a motivação e o prazer podem varrer uma classe ou instituição, também o desamparo aprendido parece ter algumas das mesmas características de uma doença infecciosa e leva à mesma espiral descendente que temos discutido para a criança com uma dificuldade de aprendizagem. É claro que a competência do professor em sua área de estudo é importante, mas igualmente importante é sua competência em entender como apoiar o aprendizado de seus alunos. Manter a motivação faz parte disso – e pode ser um dos aspectos mais agradáveis.
Autores: Gad Elbeheri, Gavin Reid e John Everatt
Caminhos para a paz interior
Monge budista desde seus 16 anos, o vietnamita Thich Nhat Hanh, chamado pelos seus seguidores, simplesmente, de Thay – “mestre” –, alcançou enorme reputação como escritor, professor e líder de um movimento conhecido como “Budismo engajado”, que integra práticas tradicionais de meditação com resistência não violenta ativa. Tendo como pano de fundo princípios budistas, fundou organizações para reconstruir vilas bombardeadas pela guerra, edificar escolas e centros médicos, assentar famílias atingidas e sem lar, criou cooperativas agrícolas para beneficiar a população, fundou uma revista para a paz e engajou lide- ranças mundiais na luta pela não violência. Quando deixou o Vietnã, Thich Nhat Hanh iniciou uma campanha pacífica baseada nos princípios budistas ao redor do mundo. Em 1966 fez a primeira visita humanitária aos Estados Unidos, país que antes conhecera como estudante na Universidade de Princeton e como professor na Universidade de Columbia.
Martin Luther King Jr., vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1964, indicou-o para o mesmo prêmio, dizendo “nunca ter conhecido pessoal- mente outra pessoa mais merecedora desse prêmio do que esse querido monge vietnamita”, de quem orgulhava-se de ser amigo.
Mesmo após a estabilização política do Vietnã, Thich Nhat Hanh não teve permissão para retornar ao seu país, cujo governo o considera uma ameaça. Entre os temas defendidos e tratados em seus ensinamentos e suas publicações estão o respeito pela vida, a generosidade, a responsabilidade sexual, a comunicação do amor e o cultivo de um estilo de vida saudável.
Atualmente, Thich Nhat Hanh vive na França, onde fundou um centro de retiro há vários anos. Ali continua a exercer suas atividades como escritor e pregador, inspirando milhares de pessoas de diversas nações, raças, religiões e estado civil, orientando-as para o desenvolvimento pessoal e a plena consciência mental, bem como ensinando-as a apreciar a vida e vivê-la com profunda serenidade. Suas publicações chegam a uma centena, principalmente em inglês, mas também francês e vietnamita. A Editora Vozes traduziu e publicou diversas obras do autor.
A cada dia fazemos e lidamos com coisas que têm a ver com a paz. Se tivermos consciência sobre nossa vida e nossa maneira de enxergar as coisas, saberemos como gerar a paz no momento preciso em que estamos vivendo.
É sabido que, se tomamos uma coisa como verdade e a isso nos apegamos, mesmo que a própria verdade apareça em pessoa e bata à nossa porta, nós não abriremos. Para que as coisas possam ser reveladas a nós, precisamos estar dispostos a abandonar nossos pontos de vista sobre elas.
Senão estamos felizes, não ficamos em paz e não podemos partilhar paz e felicidade com os demais, mesmo com aqueles que amamos, com aqueles que vivem sob o mesmo teto. Se estamos em paz e felizes, podemos sorrir e nos abrir como uma flor, e todos em nossa família, a sociedade inteira, serão beneficiados de nossa paz.