Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Somos convidados, como Maria, a encarnar a Palavra de Deus em nosso coração e gerar Cristo em nossa vida”

04/12/2020

Entrevistas


“Somos convidados, como Maria, a encarnar a Palavra de Deus em nosso coração e gerar Cristo em nossa vida, nas nossas orações e ações cotidianas. Na Carta aos Fiéis (1CF), Francisco de Assis escreveu que ‘Somos mães, quando O levamos no coração e em nosso corpo, por amor divino e de consciência pura e sincera; O damos à luz pela santa operação que deve brilhar, em exemplo para os outros’ (Fontes Franciscanas)”, lembra Maria Suzana Figueiredo Assis Macedo, teóloga e doutora em Ciência da Religião e especializada em Mariologia (Teologia Sistemática).

Nesta entrevista para o Programa Manhã Franciscana, Frei Gustavo Medella conversa com Suzana sobre a solenidade que vamos celebrar no próximo dia 8 de dezembro.

Site Franciscanos- Ouvimos falar bastante sobre Nossa Senhora da Conceição, a quem o povo tem muita devoção. O que significa esse título?

Suzana – Esse título faz referência à imaculada Conceição de Maria. Imaculada significa sem mancha, sem mácula, sem o pecado original. Conceição significa concepção. Resumindo: desde o primeiro instante de sua existência no ventre da mãe (Ana), Maria foi preservada, pela graça de Deus, da mancha do pecado original. A grande contribuição para o desenvolvimento da doutrina sobre a imaculada conceição de Maria foi dada pelo franciscano Duns Scotus. A festa da Imaculada Conceição de Maria, celebrada em 8 de dezembro, já acontecia antes mesmo da proclamação do dogma. Foi inserida no calendário litúrgico em1477, mas, anteriormente, já ocorriam manifestações populares de devoção à Imaculada Conceição. O dogma da Imaculada Conceição de Maria foi proclamado pelo Papa Pio IX em 1854 (com a Bula Ineffabilis Deus). Foi um processo lento de discussões e aprofundamentos teológicos, cerca de 700 anos, até a proclamação do dogma. Na próxima terça-feira, 8 de dezembro, a Igreja celebra a festa litúrgica da Imaculada Conceição.

Site Franciscanos – Por que podemos dizer que Maria é a Nova Eva?

Suzana – Quando nos referimos à Eva, pensamos imediatamente no pecado original. A humanidade, representada por Adão e Eva, cedeu à autossuficiência, a uma vida sem a necessidade de Deus. É estar fora da comunhão com Deus. Na prática é a morte de Deus no coração do ser humano. Eva é aquela que desobedeceu a Deus, que rompe a harmonia com o Criador. Maria, ao contrário, é aquela que se abandona confiante e inteiramente à missão dada por Deus. Ela se coloca como servidora à vontade do Pai. Maria é o modelo da humanidade criada para sua existência original. Humanidade criada para a vida em santidade, em harmonia com Deus, com o próximo e com a
natureza. Por isso podemos dizer que Maria é a Nova Eva.

Site Franciscanos – A própria padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, também é a Imaculada Conceição. Você poderia explicar esta relação?

Suzana – Verdade! Muitas vezes, ao nos referirmos ao título de Nossa Senhora Aparecida não nos damos conta de que o título inteiro é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A imagem de Nossa Senhora, que os pescadores encontraram em 1717, no rio Paraíba do Sul foi a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Aos poucos, o povo se referia à imagem como Aparecida, que foi incorporado ao título primordial. O encontro da imagem nas águas se dá em um momento de pobreza, de desesperança, de escravidão. Primeiro, encontraram o corpo e depois a cabeça de uma imagem de Maria, feita em terracota escura. Clodovis Boff em seu livro Maria na cultura brasileira, assinala que o ícone de Aparecida representa quatro identificações fundamentais: 1- Brasil Nação 2- Brasil Povo 3- Brasil oprimido 4- Brasil Negro. Nossa Senhora é fonte de uma experiência de Deus que liberta o ser humano das estruturas de pecado e convoca à solidariedade, à esperança. Não uma esperança estática, mas uma esperança ativa que se concretiza na vida cotidiana em que podemos descobrir a face de Deus no rosto dos irmãos e irmãs que encontramos em nossa caminhada.

Papa Francisco, ao falar da imagem de Nossa Senhora encontrada pelos pescadores diz que “Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está dividido” é uma mensagem de reconciliação. Reconciliação tão necessária no mundo de hoje.

Site Franciscanos – Que lições esta verdade de nossa fé pode nos trazer para nossa vida cristã?

Suzana – A Imaculada Virgem Maria é Toda Santa. De uma santidade vivida no cotidiano, sem ações espetaculares ou milagres. Ela é intercessora, Mãe atenta como nas Bodas de Caná. Como nos diz o Concílio Vaticano II no decreto sobre o apostolado dos leigos, Maria é “modelo perfeito da vida espiritual e apostólica, cuja existência foi marcada pelas preocupações e trabalhos familiares, mas sempre unida a Cristo”. Todos nós somos chamados à santidade e isto se realiza na contemplação e na ação. A Imaculada Conceição nos inspira a uma vida na graça que exige de cada um, combater o mal para que a libertação operada por Deus em nós seja integral.

Site Franciscanos –  Que relação podemos fazer do Mistério da Imaculada Conceição e a Celebração do Natal?

Suzana – Maria está, necessariamente, relacionada a Cristo, que é o ponto central da nossa fé. Só se compreende melhor a redenção antecipada de Maria, isto é, o fato de ter sido concebida sem pecado, partindo da Encarnação do Verbo. Maria foi preservada do pecado original, não por seus méritos, mas, pelos méritos de Cristo. Gerar o Filho de Deus é “a razão pela qual ela foi imaculadamente concebida” (K. Coyle). Portanto, o mistério da Imaculada Conceição de Maria e o mistério do Natal são eventos intrinsicamente unidos, fazem parte do plano de amor de Deus para toda humanidade. Somos convidados, como Maria, a encarnar a Palavra de Deus em nosso coração e gerar Cristo em nossa vida, nas nossas orações e ações cotidianas. Na Carta aos Fiéis (1CF), Francisco de Assis escreveu que “Somos mães, quando O levamos no coração e em nosso corpo, por amor divino e de consciência pura e sincera; O damos à luz pela santa operação que deve brilhar, em exemplo para os outros” (Fontes Franciscanas).
Penso que, somente assim, unidos em Jesus Cristo, como irmãos e irmãs, poderemos caminhar em direção à santidade, na direção e sentido de Deus.


CONHEÇA MAIS

Maria Suzana Figueiredo Assis Macedo – Graduada em Teologia pelo Instituto Teológico Franciscano – ITF (2009). Curso de extensão em “Espiritualidade e Mística Espanhola” com ênfase em Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz – ITF (2009). Especialização em Ciência da Religião (2010) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG . Mestra em Ciência da Religião (2013 – UFJF). Doutora em Ciência da Religião (2017 – UFJF). Período de bolsa-sanduíche de doutorado (PDSE – CAPES) no Istituto di Studi Ecumenici San Bernardino, Veneza, Itália (março-maio de 2016). Especialização em Mariologia (Teologia Sistemática) na Faculdade Dehoniana, SP (2018).