Na Semana de Filosofia Vozes, Clóvis de Barros celebra a reedição de “A Vida que vale a pena ser vivida”
27/11/2020
O convidado da Semana de Filosofia Vozes, na noite de quinta-feira (26/11), foi o jornalista e professor da USP, Clóvis de Barros Filho, que celebra, depois de dez anos, a reedição de uma das suas principais obras, “A Vida que vale a pena ser vivida”, publicada na Editora Vozes.
Esse encontro teve a direção de Natália França, que ganhou do autor elogios pela simpatia e competência no trabalho da editora. “Eu aproveito para destacar aqui a participação decisiva do meu co-autor, Arthur Meucci, um acadêmico destacado da Universidade Federal de Viçosa, ocupando cargos diretivos na Escola de Educação e dizer que, sem ele, a sua lucidez, a sua presença, o livro não teria sequer acontecido”, disse Clóvis.
Segundo o autor, a obra “A vida que vale a pena ser vivida”, é muito fiel ao seu título. “O que se pretendeu aí foi perguntar a alguns pensadores, conhecidos de todos, o que eles responderiam a esta pergunta: afinal de contas, qual é a vida que vale a pena viver? Então, ele é um livro didático, ele não é um livro que se pretenda de introdução à Filosofia, porque ele discute exclusivamente a questão da vida boa à luz da sabedoria desses autores, tais como Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Spinoza, Nietzsche, Kant etc”, explicou Clóvis.
O professor fez questão de ressaltar que a preocupação da obra foi conservar um certo rigor em relação aquilo que os autores disseram, o que os pensadores puderam escrever, e ao mesmo tempo tornar essa leitura acessível a leitores de repertórios os mais variados, portanto os não iniciados na literatura filosófica. “Eu tenho para comigo que este é o objetivo”, disse.
Ele lembrou também que, logo no começo da obra, há uma advertência no sentido de “marcar uma certa fronteira com uma certa ajuda”. “Em outras palavras, a certeza que o livro não traz nenhuma dica dessas aplicáveis para qualquer momento, felicidade, sucesso profissional ou coisa que valha. Até porque, como eu costumo dizer, se eu tivesse dicas a dar para fazer as pessoas felizes, eu as teria aplicado na minha própria vida. Claro que não é o caso. O que o livro propõe é um tipo de resposta que os mesmos pensadores oferecem. E é claro, todos eles têm, em relação com a vida, grande humildade e a certeza que ela é complexa o suficiente para não poder ser resolvida com três ou quatro dicas, ou cinquenta que seja. Então, essa é uma advertência que eu fiz com muita graça, e disse que se você não foi até o caixa, devolva o livro na estante, não gaste o seu dinheiro, porque se a expectativa é uma facilitação do sucesso, ou da felicidade, de fato o livro não será de grande valia. Por outro lado, o livro traz, a meu ver, um certo prazer na própria leitura. Num certo sentido, ele não é um livro de aplicação posterior, mas é um livro de deleite ao longo da própria leitura, e nesse sentido ele tem um certo ‘aparentamento’ com a própria literatura que tem esse mesmo escopo, essa mesma preocupação, que é de entreter o leitor enquanto leitura houver. Não se trata de aprender uma técnica, ou uma fórmula, que aplicada a posteriori permitirá uma vida melhor. A vida melhor prometida é durante a leitura, e não após a leitura. E eu diria que por causa mesmo da leitura. E ainda diria mais: por causa dos pensadores que este livro apresenta ao longo dos capítulos”, emendou.
Segundo o autor, esse livro foi o mais procurado de sua coleção e isso vale até hoje. “Ele está para mim o que ‘O Princípe’ está para Maquiável, ou o que o ‘Capital’ está para Marx. É claro que você, que está me ouvindo, está entendendo. Não estou me comparando com nenhum desses pensadores, apenas que essa é a obra mais relevante e eu fico muito feliz que ela seja assinada por esse grande amigo, uma das pessoas mais lúcidas e inteligentes que eu conheci”.
Clóvis de Barros Filho é atualmente um dos mais requisitados palestrantes de todo o país. Suas aulas e palestras sobre ética já foram ouvidas por milhões de pessoas, em todos os estados do país, e também no Uruguai, na França, no México, na Argentina, na Espanha, em Portugal, entre outros países. Doutor e Livre-Docente pela Escola de Comunicações e Artes da USP, professor Clóvis atua no mundo corporativo desde 2005. Bacharel em Direito e Jornalismo, é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo.
A VIDA EM QUARENTENA
“Eu gostaria de terminar a minha fala propondo uma abertura. Eu tenho acreditado que a quarentena é onde a vida se encontra e é onde os valores devem também se encontrar. Acredito que se formos esperar por uma situação de vida, não seremos felizes nunca e que, portanto, a vida deve valer onde ela está e é claro que a humanidade sabe muito bem o quanto a vida pode ser complicada, difícil e dramática e devastadora”, disse Clóvis.
Clóvis explicou que a expressão “vale a pena” é uma coisa que parece óbvia mas tinha quer ser dita. “A expressão valer a pena merece uma investigação. O que é essa pena? Essa pena são todas as dificuldades da vida, todas as tristezas, todas as angústias, todas as ansiedades. Então, de uma certa maneira quando se diz a vida vale as penas, embora não seja essa a expressão, é essa que deveria ser. Quando a vida vale todas as suas penas, quer dizer que apesar de todos os obstáculos, dores, angústias, ainda assim há valores. Havendo vidas, haverá duras penas. Mas havendo vida, haverá auspiciosos valores e caberá a cada um, na busca desses valores, desequilibrar a balança no bom sentido, que é no sentido da vitória sobre a deterioração, da vitória sobre a decadência, da vitória sobre a tristeza, da vitória sobre a melancolia, da vitória sobre a devastação, da vitória sobre a morte”, indicou.
“Então, suponho eu, na hora de apresentar capítulo a capítulo é preciso que leitor entenda que cada capítulo é uma unidade de peso na balança da vida, para contrabalançar todas as suas penas, todas as suas dificuldades. Se o leitor está vivendo no mesmo mundo que eu, ele provavelmente está confinado, ele está em quarentena, ele está desde março trancafiado em casa. Então nada disso é o melhor dos mundos, mas esta é a realidade. Então, a leitura ‘A vida que vale a pena ser vivida’ é a leitura dos valores da vida, ou dos pontos positivos da vida, que na balança contra-atacam o peso das suas penas, das suas dores. Se a quarentena é potenciadora das penas, é importantíssimo que haja do outro lado uma potencialização dos seus valores positivos”, orientou.
Para Clóvis, quando Sócrates fala que uma vida que não é examinada, avaliada, pensada, refletida, ela não vale as suas penas. “E isso é maravilhoso para o leitor porque ele perceberá que muito da sua vida não é pensada, avaliada, pensada, refletida. Muito da vida é vivida no piloto automático, sem a devida degustação da consciência”, observou.
Ainda falando da quarentena, Clóvis fez um destaque especial porque a quarentena permite entender nas suas mazelas, todas elas, o valor de servir. “Então, nesse sentido, uma vida dedicada na vida boa do outro, uma vida dedicada em diminuir a dor do outro, uma vida dedicada à excelência do outro, à felicidade do outro, a alegria do outro, é uma vida de grande valor. No momento em que muitos sofrem pela mesma razão, o mundo esfrega na sua cara, o valor de servir. Quanta gente precisando do seu amparo, do seu discurso, do seu ombro, do seu braço forte, da sua ajuda, da sua cumplicidade e assim eu imagino que um momento desse é para descoberta. E se alguém ainda insistir e dizer que quando a gente vive para servir quem se dá bem é o outro a quem a gente serve, eu recomendo debruçar-se sobre um grande pensador, chamado Jesus de Nazaré, e ele tentará mostrar para você que de fato, o outro se dá bem como você disse mas você também passa por um processo de elevação espiritual, que é dignificante de sua vida e confere toda a sua humanidade, justamente quando você se destaca da animalidade no cio, você se destaca do egoísmo, da busca do próprio prazer, do conforto, ganho, glória, e você dispõe estar a serviço de alguém que, por alguma razão, carece dessa sua iniciativa”, ensinou.
“Então, quem sabe a quarentena como um espaço de reclusão, como um espaço adequado à reflexão, não permita a cada um de nós maior lucidez a respeito das questões da vida, para ver se de fato estamos subindo a escada certa, a escada que nos corresponde, a escada que tem a ver com nossa natureza, com nossa essência, com nosso eu mais profundo, e assim possamos viver a nossa própria vida com autenticidade”, acrescentou.
VIDA DIGITAL
“Infelizmente, na sociedade que vivemos, as cobranças de celebridade, notoriedade, glória, conhecimento, aplauso, seguidores, joinhas e tudo o que o valha, acabam nos estimulando a nos deixar escravizar pelo olhar do outro, a pautar a própria vida por uma expectativa de reconhecimento. A organizar a própria ação em função daquilo que supomos merecerá adesão, aplauso e construção de tribos digitais”, destacou.
“Na medida que nos deixamos escravizar pelo olhar do outro, estamos em maus lençóis. Porque o olhar do outro é do outro e o outro, por definição, escapa ao nosso controle e se converte num acaso temerário e, muitas vezes, avassalador. Por isso, eu sugiro a cada um de nós uma certa autenticidade, respeito à própria natureza, respeito a si mesmo e, se por ventura você tiver talento de explicador, entregue-se à vida de professor, ainda que eles apanhem na sala de aula, ainda que não tenham respeito da sociedade, ainda que eles não tenham nenhum reconhecimento social, ainda que eles, muitos, tenham que viver na indigência econômica. Ainda assim, a vida autêntica, para quem tem natureza de explicador, é explicando que você planta a sua semente no jardim da escola, porque a escola é o lugar onde os explicadores devem estar, para que possam alcançar uma vida pujante, uma vida florescida e frutificada. São esses os meus votos”, completou.
“Eu agradeço aqui a editora por essa deferência de publicar esse livro. Uma década, nos dias de hoje, tritura o que vê pela frente; então um livro que resiste a uma década deve ter alguma coisa dentro dele que calou fundo no coração daqueles que se dispuseram a lê-lo. Muito obrigado a todos”, concluiu.
27 de novembro
“A vida para além de si mesma: ninguém é insubstituível?”
Com o autor Mario Sergio Cortella
Às 18hNo canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
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