“Acolher antes de exigir”, a lição do primeiro dia da Semana de Filosofia Vozes
24/11/2020
Os professores Luís Mauro Sá Martino (Cásper Líbero) e Ângela Cristina Salgueiro Marques (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), abriram nesta segunda-feira, às 18 horas, a Semana de Filosofia Vozes, que vai até sexta-feira (27), no canal Youtube da Editora.
Dessa parceria, com lugar de destaque no catálogo de Filosofia Contemporânea da Vozes, nasceu “No Caos Da Convivência – ideias práticas sobre a arte de lidar com os outros”, um livro que traz provocações para pensarmos em como podemos melhorar a convivência com os outros em sociedade.
Luís Mauro, que é doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e professor do programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, contou que já se vão 10 anos de produção conjunta com Angela e que acabou virando uma amizade de as famílias deles se conhecerem. Angela é doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde leciona no Programa de Pós-graduação em Comunicação. “Trabalhamos juntos na Faculdade Cásper Líbero, em 2010, começamos a desenvolver pesquisas sobre comunicação e relações sociais”, contou.
Segundo o professor, esse livro nasceu de um convite de Aline dos Santos Carneiro, da Editora Vozes, que sugeriu escrever sobre os vários aspectos das relações entre as pessoas, mas numa linguagem que não fosse acadêmica, mas aberta. “Então, foi um desafio para Angela e para mim – nós que somos professores – fazer um livro tratando de um tema do cotidiano da convivência”, disse.
Natália França conduziu esse momento especial. Na sua primeira colocação, pediu aos autores que falassem do tema do primeiro capítulo: “Acolher antes de exigir”.
Para Luís, parece ser parte da cultura humana classificar o outro de acordo com nossas categorias. “Nós, muitas vezes no dia a dia, exigimos que o outro se torne aquilo que a gente quer; a gente exige que o outro seja aquilo que nós queremos e o contrário também acontece. Às vezes a gente vive num relacionamento onde não somos nós. A gente vive apenas aquilo que o outro quer que a gente seja. Isso a médio prazo é terrível. Porque a gente não vive uma vida autêntica, não vive uma vida nossa. A gente acaba vivendo para o outro ou fazendo com que o outro viva para nós”, explicou o professor.
Para Angela, “viver achando que outro vai preencher todas as lacunas, ter todas as respostas, ser aquilo que espero”, é carregar demais as expectativas. “E essas expectativas são moldadas de fora. São impostas para nós. Por isso é importante nos conhecermos: as condições em que vivemos, o que esperamos, quem somos e não a imposição feita de fora. Grande fonte de sofrimento hoje é a pessoa se adequar a um modelo pré-fabricado”, observou.
Outro tema de um capítulo do livro foi a empatia. “A gente fala empatia como ‘se colocar no lugar do outro’. Mas isso cria um problema fundamental. Como se colocar no lugar do outro se você não é, nem poder ser, o outro?”, questionou o professor.
Segundo ele, Edith Stein entende a empatia como uma atitude, uma ação – ela chega a transformar o substantivo no verbo “empatizar”. É o fundamento da relação com outras pessoas. “Para saber o que o outro está sentindo é necessário em primeiro lugar que eu tenha meu próprio conhecimento da experiência do outro”, disse.
Para ele, nada impede de sentir com o outro. “Estou ao lado, mas não ‘no lugar’ de alguém que não sou eu. Eu não fico feliz no lugar dele. Isso seria inautêntico. Eu fico feliz junto”, explicou.
Falando desses temas de convivência na internet, Luís lembrou que a intolerância não está na internet, ela está na sociedade; o ódio não está na internet, ele está na sociedade.
Sobre a “comunicação como encontro”, Angela disse que primeira condição para o encontro é a abertura. “Eu costumo dizer que há uma série de palavrinhas para isso que começam com a letra a: abertura, acolhimento, aproximação e avizinhamento. Elas se entrelaçam mas não se confundem uma com a outra. Eu posso estar aberto a recepcionar o diferente, mas eu posso me fechar no momento em que eu tenho que acolher e me aproximar. Então, é uma série de exercícios de chegar perto e distanciar. Então, o encontro, muitas vezes não é agradável ou prazeroso. Às vezes, conflitivo e violento. O importante é como nós vamos modelar essas aproximações e distanciamentos. Eu não posso confundir o outro e nem me confundir com ele. Mas eu também não posso deixar de construir um terreno que nós possamos nos encontrar e depois nos despedir, porque cada um vai vivenciar sua trajetória, seu universo de uma maneira. Mas é preciso construir esse lugar em comum”, disse a professora.
A comunicação, segundo os autores, só é possível quando há algo novo, de diferente, a ser dito. Quando não há diferença, não há novidade, apenas repetição: a comunicação, perde seu interesse, sua dinâmica, reduzida a um único tom – fica monótona.
“A comunicação é um processo bonito, que leva tempo. É um processo que exige duas coisas que a gente não tem quase hoje em dia: atenção e escuta. Atenção é o bem mais precioso que a gente tenha, porque, vamos combinar, que nas redes sociais a gente fala muito e escuta pouco. A gente posta muito e não presta atenção no outro”, explicou Luís.
A comunicação tem outro aspecto. Como o próprio nome diz, “communicare”, criar algo em comum. Esse algo em comum precisa de uma abertura mútua. O outro às vezes não está a fim, não vai rolar. Não dá para você forçar uma comunicação.
Outro aspecto, segundo Luís, é que a comunicação trabalha que você veja o outro, o jeito que ele é. A comunicação não é um meio, é um fim. Por quê? Por duas razões: Eu tenho que viver com os outros. Mas no mundo de hoje, a gente esquece que essa relação é um dos pontos que nos torna humanos. Se o outro não corresponde ao que quero, troco.
“Nós, enquanto professores e pesquisadores, a gente nunca se coloca na posição de sabe tudo. A questão é que a gente está sempre aprendendo. Com nossos alunos, com quem caminha conosco, ao longo da vida, no dia a dia”, disse Angela.
“O conhecimento nasce do não saber”, lembrou o professor.
PROGRAME-SE
23 de novembro
“No caos da convivência: a filosofia e a arte de viver com os outros”
Com os autores Ângela Salgueiro Marques e Luís Mauro Sá Martino
Às 18h
No canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
24 de novembro
“Nietzsche e as grandes questões da atualidade”
Com a autora Viviane Mosé
Às 18h
No canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
25 de novembro
“A sociedade do cansaço em Byung-Chul Han”
Com o filósofo Lucas Machado
Às 18h
No canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
26 de novembro
“A Vida que Vale a Pena Ser Vivida”
Com o autor Clóvis de Barros Filho
Às 18hNo canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
27 de novembro
“A vida para além de si mesma: ninguém é insubstituível?”
Com o autor Mario Sergio Cortella
Às 18hNo canal da Editora Vozes: youtube.com/editoravozes
Adquira as obras dos autores no site: www.livrariavozes.com.br