Sínodo: a necessidade de um Organismo episcopal permanente pan-amazônico
16/10/2019
Cidade do Vaticano – Criar urgentemente um Organismo episcopal permanente e representativo, coordenado pela Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica) para promover a sinodalidade na Amazônia: essa foi uma das sugestões apresentadas na manhã desta terça-feira (15/10) na 11ª Congregação Geral do Sínodo Especial para a região.
Esse organismo, integrado ao Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano), deverá ajudar a implementar a fisionomia da Igreja na Amazônia, na ótica de uma pastoral comum mais eficaz, concretizando também aquelas indicações que o Papa Francisco quererá eventualmente dar após o Sínodo, e trabalhando em defesa dos direitos dos povos indígenas, a formação integral dos agentes pastorais e a criação de seminários amazônicos.
Tal ação pastoral conjunta, elaborada de modo sinodal por todas as circunscrições eclesiásticas pan-amazônicas, numa relação orgânica com o Celam, será útil para enfrentar problemas comuns, como a exploração do território, a delinquência, o narcotráfico, o tráfico e a prostituição.
Observatório para direitos humanos e proteção da Amazônia
Em seguida, a Sala do Sínodo voltou a olhar para os povos indígenas detendo-se sobre os problemas oriundos da colonização, migração interna e avanço de modelos econômicos predatórios e colonialistas, que frequentemente matam.
Isso comporta expropriações e expulsões das comunidades originárias de seus territórios, obrigadas a migrar contra a própria vontade.
As populações indígenas em mobilidade devem ser compreendidas em sua peculiaridade mediante uma Pastoral específica, a fim de que sejam sempre asseguradas seus direitos humanos e ambientais, em particular o direito a ser consultadas e informadas antes de toda e qualquer ação em seus respectivos territórios. Foi sugerido, a esse propósito, um Observatório permanente de direitos humanos e de proteção da Amazônia. O grito da terra e dos povos amazônicos deve ser ouvido – reiterou-se – dando voz sobretudo aos jovens, porque é questão de justiça entre as gerações.
Inculturação e educação
Foi também central na 11ª Congregação Geral, na manhã de terça-feira, a questão da inculturação, modo de ser da Igreja aberta a descobrir novos caminhos na rica diversidade das culturas amazônicas, de modo a torná-la uma Igreja mais discípula e irmã, mais que Mestra e Mãe, numa atitude de escuta, serviço, solidariedade, respeito, justiça e reconciliação.
Unido ao tema da inculturação, voltou à tona o da educação dos povos indígenas amazônicos, uma educação infelizmente caracterizada por má qualidade e grande precariedade. Portanto, o que a Igreja pode fazer, vez que é uma das instituições mais qualificadas e fortes no setor da formação?
Foi sugerido um trabalho de maior coordenação com outros organismos para oferecer serviços melhores aos povos indígenas: por exemplo, as Universidades católicas podem fazer uma opção preferencial pela educação das populações autóctones, ou mesmo gerar estratégias solidárias para sustentar economicamente as Instituições de educação indígenas, como o Nopok, no Peru, a fim de que o direito à identidade cultural seja tutelado e a sabedoria ancestral dos povos originários amazônicos seja salvaguardada, em nome do diálogo e do intercâmbio de culturas, sensibilidades, linguagens e visões.
O compromisso missionário e o testemunho dos mártires
Os padres sinodais refletiram, em seguida, sobre as violências: a Amazônia é como uma mulher violentada de quem se ouve o grito, ressaltou-se na Sala do Sínodo, porque somente assim se desperta a evangelização. O anúncio eficaz do Evangelho se dá, efetivamente, somente em contato com a dor do mundo que espera ser redimido pelo amor de Cristo, graças a uma teologia da vida.
Foi premente, em seguida, a evocação ao precioso exemplo dos missionários mártires da região, como o bispo capuchinho dom Alejandro Labaka, a religiosa terciária capuchinha Inés Arango, Irmã Dorothy Stang, que doaram a vida em nome da causa dos povos amazônicos indefesos e pela salvaguarda do território.
A obra missionária na Amazônia deve ser mais apoiada – foi dito na Sala do Sínodo – e para tal se reflete sobre a criação de um fundo financeiro, quer nacional, quer internacional, para reforçar a missão na região, especialmente para as despesas de transporte e de formação dos próprios missionários.
O desafio ecumênico
Sem esquecer que o compromisso missionário deve ser levado adiante também numa ótica ecumênica porque uma Igreja missionária é também uma Igreja ecumênica. Esse desafio diz respeito também à Amazônia: distante de todo e qualquer tipo de proselitismo ou de colonialismo intra-cristão, a evangelização cristã é o convite livre, dirigido à liberdade do outro, a entrar em comunicação e empreender um diálogo vivificante. Uma evangelização atraente será a prova de um ecumenismo crível.
Outro ponto de reflexão foi oferecido pela música, linguagem comum compreensível por todos que leva a refletir sobre a comunicação da fé: ela não deve renegar a doutrina, mas deve fazer compreendê-la através da sensibilidade humana, explicaram os padres sinodais.
Desse modo, a Boa Nova será atraente para todos, indo ao encontro daquele renascimento do sagrado que se vive também nas zonas mais selvagens da Amazônia.
A resposta da Eucaristia
Diante das difíceis situações vividas na Amazônia, chegam respostas importantes da Eucaristia, através da qual passa a graça de Deus, e de uma ministerialidade difusa, que comece também das mulheres, protagonistas indiscutíveis quando se trata de transmitir o sentido radical da vida. Talvez seja necessário perguntar-se se não é o caso de repensar o ministério.
Efetivamente, muitas comunidades têm dificuldade de celebrar a Eucaristia por causa da falta de sacerdotes: por conseguinte, sugere-se que se mudem os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados a administrar tal sacramento, a fim de que não seja destinado somente a poucos.
O ministério feminino, à exemplo da antiguidade
São necessários novos caminhos para tradições antigas, afirmam ainda os padres sinodais. Foram recordadas, entre as intervenções na Sala do Sínodo, as práticas da antiguidade que tinha ministérios relacionados às mulheres, e se refletiu sobre a possibilidade de se restabelecer análogos ministérios, em particular para o leitorado e o acolitato.
Houve quem se deteve sobre a faculdade de dispensar o celibato, de modo a poder ordenar “ministros” homens casados que, sob a supervisão de um presbítero responsável, possam exercer a atividade ministerial em comunidade eclesiais espalhadas no território.
Ao mesmo tempo, foi sugerida a instituição de um fundo para financiar a formação dos leigos no âmbito bíblico, teológico e pastoral, a fim de que possam contribuir sempre melhor para a ação evangelizadora da Igreja.
Por fim, nesse âmbito, foi evocada também a importância das Comunidades eclesiais de base (Cebs) e da vida consagrada, que é profecia e envio às fronteiras do mundo.