Convento Santo Antônio faz 411 anos. Seu Chico faz parte dessa história.
03/06/2019
Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – O Centro da Cidade Maravilhosa cresceu muito no último século e o resultado pode ser visto nos arranha-céus modernos que circundam o Largo da Carioca. No meio deles, o velho e imponente Convento Santo Antônio, exibindo o seu belíssimo conjunto arquitetônico. A história deste marco franciscano do Rio de Janeiro, cuja construção começou em 1608, se confunde com a da própria cidade.
Neste dia 4 de junho, o Convento Santo Antônio celebra 411 anos de sua fundação. Na cerimônia do dia 4 de junho de 1608, estiveram presentes o governador Afonso de Albuquerque, e o administrador eclesiástico Mateus da Costa Alboim, que oficiou e presidiu todos os atos assistidos pelas autoridades e pelo povo.
A comunidade dos frades, que residiu na ermida Santo Antônio, perto do atual Convento, transferiu-se para o novo prédio no dia 7 de fevereiro de 1615, apesar de a igreja estar ainda longe da conclusão. Em 1617, o guardião Frei Bernardino de Santiago empenhou-se muito por concluir a igreja e deu-a por terminada em 1620.
As dimensões do Convento eram as mesmas de hoje, segundo o historiador Frei Basílio Röwer. Isso se deduz claramente das seguintes ponderações: a igreja, limitando o claustro pelo lado norte, era a mesma. O frontispício do Convento, ao lado oeste, estava no lugar do atual, porquanto o aumento da igreja para a frente, em 1700, foi só de 2,75m. Nos fundos, a sepultura de Frei Fabiano de Cristo, falecido em 1747, indica até onde ia a quadra das sepulturas no claustro. Por conseguinte, também a face do lado sul se achava mais ou menos no mesmo lugar, como hoje se vê.
Por este Convento passaram gerações e gerações de frades, alguns com fama de santidade, como Frei Fabiano de Cristo e Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. A alma da Província Franciscana da Imaculada Conceição está neste prédio, que hoje sofre por causa das intempéries do tempo.
Nesses anos, os frades estiveram no olho do furacão da história política brasileira, quando enfrentaram as invasões francesas, deram conforto a Tiradentes a caminho da forca e cederam uma cela para as “conspirações” a favor da Independência do Brasil. Estamos falando de Frei Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio, que teve importante participação no movimento da Independência, tendo recebido Dom Pedro I por diversas vezes em sua cela.
Em 1929, corria insistentemente a notícia de que a Prefeitura iria demolir o morro sem poupar o Convento. Em 30 de novembro de 1937, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomou o Convento, tornando intocável. Somente em 1948 deu-se início ao desmonte, com o compromisso de deixar a parte necessária para a permanência e segurança do Convento. Com o material retirado foi feito o aterro da Praia do Flamengo. A parte que sobrou para o Convento foi urbanizada em 1972. Na esplanada do morro, cruzada pelas avenidas Chile e República do Paraguai, foram levantados prédios, como o da Petrobrás, do BNDES e a Catedral. A construção do metrô remodelou por inteiro a praça aos pés do Convento.
Além de Frei Francisco Sampaio, encontram-se sepultados no convento Frei Conceição Veloso, Frei Francisco de Monte Alverne e muitos membros da Família Imperial.
SEU FRANCISCO, UMA PARTE DESSA HISTÓRIA
O aniversário do Convento Santo Antônio nesta terça-feira, 4 de junho, terá um gostinho especial para Francisco de Assis Felizardo. Dos 411 anos deste marco franciscano na cidade do Rio de Janeiro, ele viveu 41 anos, 7 meses e 2 dias. Aos 58 anos, é o funcionário mais antigo do Convento, ou como ele mesmo diz, a sua segunda casa. Faltavam quatro dias para completar 18 anos quando o guardião Frei Hugo Baggio o convidou para trabalhar no convento. Ele aceitou prontamente. “Meu irmão trabalhava aqui e, durante as festas eu vinha ajudar a encher as garrafinhas de água benta. Foi, então, que ele me perguntou se queria trabalhar aqui. Disse que sim e ele respondeu: ‘Pode ficar’. Desde então, estou aqui”, contou Seu Chico, que faz os serviços gerais do Convento, como motorista e faxineiro.
Seu Chico lembra de todos os seus superiores, enumerando um por um os guardiães que conheceu nestes 41 anos: além de Frei Hugo, Frei Gabriel da Veiga, Frei Edgard Weiss (que ficou 12 anos), Frei José Pereira (nove anos), Frei Ivo Theiss, Frei Clarêncio Neotti, Frei Ivo Müller e Frei José Pereira, o atual guardião. “Gostei de trabalhar com todos. Entrei aqui muito jovem, mas com o tempo comecei a gostar e a valorizar tudo o que faço. Aprendi, aqui, que o trabalho de faxineiro é tão importante como o de um doutor”, revela Seu Francisco. Essa convivência o fez terminar o Ensino Médio e cursar Teologia e fazer dois anos de educação religiosa num colégio de freiras. “É muito bom trabalhar com os frades. Estou sempre aprendendo. Até o curso de alemão eu fiz com Frei Cláudio Guski”, garante.
“Com o tempo conheci mais a história e o significado desse patrimônio no Rio de Janeiro. Antes não tinha noção do que era um patrimônio. Com o tempo aprendi a amar esta casa. Considero aqui uma segunda casa e os frades como minha família. Tenho amor à casa, aos frades e ao trabalho”, acrescenta.
Casado há 30 anos e pai de 4 filhos, Seu Chico mora em São João de Meriti e afirma com todas as letras: “Eu sou franciscano”. Para ele, não poderia ser diferente. Tem o nome do fundador, trabalha num convento franciscano, nasceu no dia 4 (Francisco é celebrado no dia 4 de outubro). “Quando tinha 18 anos, coloquei um hábito e participei de um coral dos frades para o “Fantástico” da Rede Globo. Cantei em latim. As pessoas pensavam que eu era frade. Outros achavam que eu não iria casar e me tornaria frade”, recorda. Para ele, embora trabalhe na “casa” de Santo Antônio, seu predileto é São Francisco. “Ele é o fundador da Ordem Franciscana. Antônio é o seu discípulo. Tenho mais proximidade com São Francisco”, revela. Dos frades, tem proximidade com Frei Anselmo Fracasso, que é deficiente visual e vive no Convento muito antes de ele começar a trabalhar. “Sempre acompanhava Frei Anselmo, principalmente quando viajava muito. Agora, devido à idade, ele não viaja mais”, disse. Para ele, gerações de frades da Província passaram pelo Convento e de todos guarda boas recordações. “Agora, Frei Olavo Seifert vai fazer 100 anos no dia 4 de agosto. Se Deus quiser, espero estar na festa dele”, torce. Além dele, há um outro colaborador com o nome de Francisco de Assis no Convento.