Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Sejam construtores de pontes”, pede Frei Diego na missa de envio dos jovens

21/01/2017

Notícias

Rondinha (PR) – A sexta-feira (20) amanheceu cinzenta na Fraternidade São Boaventura, em Rondinha (PR). Nem a fina garoa que insistiu em cair durante toda a manhã foi capaz de desanimar os mais de 500 jovens que participam da 4ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, que acontecem neste fim de semana em Curitiba.

Na oração da manhã, os jovens cantaram, rezaram e dançaram em ação de graças pelo novo dia que nascia. No encerramento, os 3 jovens de igrejas evangélicas fizeram as preces, pedindo pela paz e pelo diálogo.

Mas o momento mais marcante do dia estava por começar. Maysa Francener, da Pastoral da Diversidade da Paróquia Bom Jesus dos Perdões de Curitiba (PR), foi chamada para falar aos jovens sobre reconciliação. Em tempos de tanto ódio e crimes contra a população LGBT, a fala tocou em cheio o coração dos jovens. Ela contou que sempre teve uma caminhada atuante dentro da Igreja, mas que se afastou após se assumir transexual e começar as terapias para a transição. Este afastamento durou até a chegada do sucessor do Papa Bento XVI. “Na véspera da eleição do Papa Francisco eu pedi, na Catedral de Cascavel (PR), um novo Francisco para a nossa Igreja. E no dia seguinte ele veio”, afirmou.

Maysa contou que se mudou para Curitiba após uma série de problemas em Cascavel, envolvendo agressões físicas e ameaças, e 4 meses após sua chegada, sentiu um apelo muito forte para voltar para a Igreja. “Eu entrei na igreja Bom Jesus e vi de um lado o quadro do Sacrifício de Abraão e Isaac e do outro lado um quadro enorme da Eucaristia. Eu estava fazendo esta reflexão naqueles dias e falei: aqui é o meu lugar. Mais algum tempo,  fui convidada para participar de um grupo chamado Diversidade Católica do Paraná. Este grupo queria se organizar como pastoral dentro da igreja, mas a gente não tinha espaço para reuniões”, relatou.

Em janeiro de 2016, Maysa procurou o Frei Alexandre Magno, pároco da Paróquia Bom Jesus dos Perdões. “Ele foi muito bom, ele foi um pai”, afirma. O pároco pediu então ao bispo a autorização para que o grupo se reunisse e, em março de 2016, nascia a Pastoral da Diversidade, assessorada por Frei Benjamim Berticelli. “Não é um trabalho de doutrina, não é um trabalho de questionamentos, mas é um trabalho de acolhida, de amar as pessoas”, esclareceu.

Voltar-se para o outro

Maysa falou um pouco sobre uma das temáticas desta edição das Missões, a reconciliação. “O verbo conciliar significa harmonizar, colocar em harmonia, estar em sintonia, conciliação é conciliar, é voltar para o outro. Então se eu preciso de uma reconciliação é porque alguma coisa rompeu nessa harmonia entre eu e o meu irmão, entre eu e o meu pai, minha mãe, entre eu e a Igreja, a comunidade, alguma coisa rompeu, o que é que rompeu? Nós carregamos dentro de nós, como se fosse um porta-retratos, de múltiplas faces, as pessoas que nos são caras, são importantes. Nós criamos dentro de nós uma imagem dessas pessoas. Essas pessoas passam a viver dentro de nós, mas por algum motivo este porta-retrato pode se quebrar. E esse processo começa dentro de mim. Às vezes, não estou em harmonia com o outro, mas o problema não é do outro, o problema está dentro de mim. Às vezes, o outro nem sabe que  estou em conflito com a pessoa dele”, contou, afirmando que dentro da própria família este elo também se rompeu quando ela assumiu a transexualidade.

Como gesto simbólico, pedindo perdão para Maysa e para toda a comunidade LGBT, os organizadores e jovens prepararam um momento de lava-pés para a coordenadora da Pastoral da Diversidade que, incrédula e emocionada, aceitou receber. Formou-se então uma fila de jovens e adultos que rememoraram o gesto de Jesus com seus apóstolos, lavando, enxugando e beijando carinhosamente os pés de Maysa, que em seguida afirmou que isto nunca havia sido feito com ela.

Confira a entrevista:

Ungidos para a missão nas comunidades

No final da manhã, os jovens se reuniram para a Celebração Eucarística, que foi presidida por Frei Diego Melo, coordenador do SAV, e concelebrada por Frei Jean Ajluni, guardião da Fraternidade São Boaventura, Frei Rodrigo da Silva Santos, mestre dos frades de profissão temporária, diácono Osni Jasper, de Santo Amaro da Imperatriz (SC) e Frei Mario Stein, vigário paroquial em Colatina (ES).

Em sua homilia, Frei Diego pediu que os jovens sejam construtores de pontes nos locais visitados, fazendo uma ligação com o Evangelho do dia. “Vocês vão se encontrar com situações que quem sabe você nem sabia que isso existia, com dores, com dramas, com testemunhos, com realidades que vocês vão pensar assim: o que é que eu vou fazer agora, o que é que eu vou dizer, nem tenho palavras para dizer. Mas o Evangelho que nós ouvimos hoje vai se concretizar. Nós vamos com a autoridade e a força que vem de Deus, com a autoridade e a força que o próprio Espírito coloca no coração de cada um de nós. E lá, cada um ao seu jeito, alguns com palavras, outros com cantos, outros com um sorriso, outros com um abraço de acolhida. Lá vocês irão expulsar tantos demônios, tantas coisas que impedem a vida dessas pessoas”, afirmou.

Ao final da Missa, Frei Diego apresentou os frades da fraternidade local e agradeceu pela acolhida e pelo trabalho nos dias que antecederam o encontro e durante o mesmo. Ele agradeceu também aos voluntários que ajudaram na limpeza e cozinha e aos funcionários do Bom Jesus, que auxiliaram na acolhida.

Em seguida, os religiosos e religiosas ungiram os jovens com óleo de narco, desejando que eles fizessem uma boa experiência. Cada jovem ganhou um boné, um “solidéu jovem”, para que eles não se esquecessem que, acima deles, somente Deus.

MISSIONÁRIOS ESPALHAM AMOR, FESTA E RECONCILIAÇÃO PELA CAPITAL PARANAENSE

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Após o almoço na Fraternidade São Boaventura, os jovens seguiram para Curitiba, para a Paróquia Bom Jesus dos Perdões. Frei Alexandre Magno deu as boas vindas e os jovens fizeram uma caminhada pelos principais pontos turísticos da cidade: Praça Rui Barbosa, Praça Osório, Praça Tiradentes, Catedral, Centro Histórico, Centro Cívico, Bosque do Papa e Museu do Olho. Mais do que caminhar, eles foram levando alegria e amor pelas ruas. Vestidos de colete amarelo, atraíram a atenção dos comerciantes e transeuntes, que registravam nos celulares a curiosa passagem do grupo pelas ruas de Curitiba.

Na Praça General Osório, também conhecida como “Boca Maldita” a partir de 1956, por tornar-se um local livre para o debate e a manifestação de opiniões, os jovens fizeram a sua manifestação através da arte. Um jovem vocacionado, vestido com o hábito franciscano, fez uma encenação, enquanto Frei Florival Mariano de Toledo cantava “O amor não é amado”, de Frei Beraldo J. Hanlon.

Em seguida, eles começaram o flash mob, uma mobilização que é feita em locais públicos com uma coreografia ensaiada previamente. O hino composto por Frei Zilmar Augusto, da Custódia do Sagrado Coração de Jesus, especialmente para o evento, ecoou pela Boca Maldita, nos passos da coreografia criada pelo jovem Brener Pereira, da Paróquia Bom Jesus dos Perdões.

Após a Caminhada, os jovens foram para o Teatro Bom Jesus, onde assistiram a peça “Encruzilhada”, que foi adaptada e montada especialmente para as Missões Franciscanas. A peça, dirigida por Antonio Luciano Saraiva, foi baseada no filme “A Encruzilhada”, e conta como a vida pode ligar o caminho de pessoas tão diferentes, mas com um mesmo objetivo em comum: seguir o seu sonho. O elenco, formado por jovens da Paróquia Bom Jesus, ensaiou por 5 meses para se apresentar aos missionários. E o esforço foi recompensado! Ao final da encenação, os atores foram ovacionados pela platéia.

Os jovens seguiram então para seus grupos de missão, nas diversas comunidades espalhadas por Curitiba, onde ficam até a manhã do domingo.


Equipe de Comunicação: Érika Augusto, Frei Leandro Costa, Frei Augusto Luiz Gabriel 


Confira mais imagens do segundo dia de Missões Franciscanas em Curitiba (PR):