“O que Deus está pedindo hoje para nós?”
13/02/2018
São Paulo (SP) – No segundo dia em São Paulo, o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, falou diretamente, pela primeira vez, aos Ministros e Custódios das Conferências dos Frades Menores do Brasil e do Cone Sul. Na sua reflexão, apresentou desafios e oportunidades que ele percebeu “diante – e dentro – de nós enquanto caminhamos juntos como peregrinos e estrangeiros no caminho para o Reino”.
Frei Michael deu um panorama da Ordem dos Frades Menores no mundo, que atualmente está em 122 países com 13.302 frades (incluindo os noviços), em 2.008 casas ou casas filiais, sendo que a América Latina reúne 3.257 frades (com os noviços).
“É uma grande alegria para os membros do Definitório Geral e para mim estar com vocês durante esses dias para refletir juntos sobre a situação da Ordem no contexto de suas conferências e procurar responder à pergunta sempre relevante: ‘O que Deus está pedindo hoje para nós, Frades Menores, no contexto do mundo, da Igreja, da Ordem e, mais especificamente, na região da América Latina e do Caribe?’”, questionou Frei Michael, que desde a segunda-feira viu e ouviu atentamente as apresentações das entidades brasileiras e sul-americanas presentes no Convento São Francisco, em São Paulo. Destacou os sinais de renovação visto nos relatórios apresentados e fez recomendações aos Ministros Provinciais e Custódios que participam deste Encontro com o Definitório Geral.
Entre esses pontos estão: estabelecer projetos mais comuns de formação e evangelização; empenho das entidades que não fizeram ainda o Projeto provincial de Vida e Missão; acompanhamento dos formadores; clarificar o sentido de Formação Permanente nas entidades; promover mais o diálogo nas fraternidades; priorizar a formação dos guardiães; dimensão vivencial no capítulo local; falta familiaridade entre os irmãos; risco do clericalismo para a identidade franciscana; dimensão social da evangelização; formação para os leigos como pede o Documento de Aparecida; estudo de documentos ‘muito franciscanos’ como Aparecida e Evangelii Gaudium; cada entidade tem que estar presente no processo formativo; acompanhamento dos jovens frades especialmente por parte dos Ministros; melhorar a vida espiritual através da oração pessoal e fraternal; firmeza em assuntos administrativos e transparência econômica. Frei Michael agradeceu a disponibilidade de alguns Ministros para enviar irmãos ao serviço da Ordem, que trabalham nas casas gerais em Roma ou participam de várias missões que estão sob a responsabilidade da Cúria Geral.
Já como recomendações, Frei Michael tocou na possibilidade de criar um projeto de acompanhamento dos irmãos em dificuldades; ter boa comunicação entre os Ministros e os irmãos; avaliação de estruturas para verificar em que medida elas respondem hoje à vocação e missão da Ordem; redimensionamento das presenças com a finalidade de ter irmãos para formação; não sobrecarregar jovens frades com responsabilidades; espiritualidade integral que abrange todas as atividades da vida fraterna; e um estudo sobre a atual configuração das Conferências da América Latina.
O segundo dia terminou com o diálogo do Ministro Geral com os frades das duas Conferências. Frei Michael também adiantou que a Ordem está organizando o Capítulo das Esteiras para os Frades Under Ten, que acontecerá de 7 a 14 de julho de 2019, em Taizé, na França. Também no próximo a Ordem celebrará o Oitavo Centenário do Encontro de Francisco com o Sultão.
O Curso anual de Justiça, Paz e Integridade da Criação se celebrará este ano em Guadalajara, Jalisco – México, de 9 a 17 de abril, com o tema: “Migração: Causas, Muros e Perspectivas Franciscanas”.
SENTIDO DE PERTENÇA
Em outro texto que entregou aos participantes para reflexão, Frei Michael inicia fazendo uma análise sociológica e filosófica da sociedade até chegar ao contexto da Ordem dos Frades Menores, onde lembra que é preciso “recuperar e renovar nossa identidade carismática e evangélica”. Ele citou o Documento Final do último Capítulo Geral – “Ir às periferias com a alegria do Evangelho” -, onde “é necessário reconhecer que não podemos permanecer desejando viver as formas passadas, certamente úteis em um momento particular da história, pois muito seguramente já não movem os corações humanos e nos impedem de avançar adiante como Abraão e Sara”.
Frei Michael cita o recente livro póstumo de Zygmunt Baumann, sociólogo e filósofo polonês (Retrotopía, 2017), argumentando que o mundo está mais dividido agora do que nos últimos tempos. “O reaparecimento das narrativas de um passado idealizado, de um tempo mais perfeito, uma nostalgia de algo sempre desejado, nunca realizado, e agora transposto em formas que se expressam a si mesmas em símbolos e linguagens nacionalistas, fechados, intolerantes e separatistas. Sobre este ponto me vêm à mente os movimentos separatistas nas nações da Europa, o plano ‘Trumpista’ para construir muros em vez de pontes, a narrativa da segregação religiosa mantendo os ‘bárbaros’ muçulmanos fora das supostas nações cristãs, e até mesmo católicas, e poderia continuar com a lista”, avalia o Ministro Geral, lembrando que alguns sociólogos descrevem esses movimentos como consequência dos diferentes tipos de “exclusão” e marginalização que as pessoas experimentam, vestígios do Iluminismo e do Subjetivismo pós-moderno.
MINISTRO GERAL AO VIVO NO FACEBOOK DA PROVÍNCIA
Nesta quarta-feira (14/02) às 21 horas, o Ministro Geral Frei Michael Perry estará ao vivo, pela primeira vez no Brasil, na página do Facebook da Província Franciscana. O representante de São Francisco de Assis vai falar sobre os grandes desafios da humanidade na atualidade, da Ordem Franciscana e da Igreja. Acompanhe-nos!
“Em meio a todos esses desafios graves e ameaçadores, ouvimos o clamor humano pela recuperação de um sentimento de pertença: pertencer a uma comunidade, a uma fraternidade, a um lugar onde a identidade e dignidade humana são apreciadas, celebradas e aprofundadas. Os jovens, as pessoas de meia-idade e os idosos procuram espaços e sinais que lhes deem a oportunidade de se sentirem parte de algo”, observa Frei Michael.
Para ele, o isolamento, a ansiedade e o medo, as consequências do nosso mundo globalizado, tecnologicamente conectado, mas desconectado em si mesmo, estão empurrando as pessoas a realizar uma busca, uma viagem, que ofereça a possibilidade de recuperar ou descobrir pela primeira vez essa parte da nossa identidade humana que é social, comum e fraterna.
Por último, o Ministro Geral propôs o desenvolvimento de uma nova narrativa para nossos tempos. Esta narrativa deve estar arraigada no Evangelho, fonte de nossa fé e nossa vocação evangélica comum. Assim como as narrativas mais memoráveis, inclusive aquelas “perigosas” nas Sagradas Escrituras (por exemplo, Lc 1,46-55; 4,16-20), a nossa deve providenciar o seguinte:
- Uma visão teológica trinitária nos permitirá descobrir a verdadeira fonte de nossa “fraternidade”, a comunhão na diferença ao serviço de todos os povos e de toda a criação, um círculo onde o diálogo é a “forma comum de se comunicar”, e não algo reservado a momentos particulares ou limitados.
- A natureza sacramental das coisas, a morada de Deus em todas e cada uma das pessoas e elementos da criação, faz presente o amor, a misericórdia e a força de Deus cada vez que nos reunimos “em Seu nome”, como acontece na Eucaristia.
- Deve ver-se a si mesma como uma Comunidade Espiritual em Peregrinação, um Povo Peregrino (Lumen Gentium) que viaja com a humanidade, especialmente com os pobres, marginalizados e desumanizados, e com o universo criado.
- Sabemos pelas Fontes e pelo exemplo de sua vida que, para São Francisco, o caminho para a liberdade autêntica e evangélica passa pelos filtros da simplicidade de vida e da identificação com os pobres. Essa liberdade se concretiza em uma fraternidade que vive e respira a epifania de Deus em simplicidade e solidariedade com todas as pessoas, começando pelos frades e se estendendo a todas as pessoas e a todas as coisas.
CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
O segundo dia do Encontro do Ministro Geral e seu Conselho com os frades da América Latina começou com a Celebração Eucarística, às 7h30, na Igreja do Convento São Francisco. Frei Isauro Covili, Provincial da Província Santíssima Trindade do Chile, presidiu a Celebração, tendo como concelebrantes Frei Emilio Andrada (Província da Assunção da Santíssima Virgem do Rio da Prata – Argentina e Paraguai) e Frei Daniel Alejandro Fleitas Zeni (Província de São Francisco Solano, Argentina). As entidades do Cone Sul apresentaram durante a manhã seus relatórios ao Ministro Geral.
Nesta Quarta-feira de Cinzas e do lançamento da Campanha da Fraternidade, o Definidor Geral Frei Valmir Ramos, que é brasileiro, preside a Celebração Eucarística. Neste ano, a Campanha tem como tema: “Fraternidade e superação da violência”.
Equipe de Comunicação da Província