Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Conversão missionária para a justiça e a paz

23/10/2018

Notícias

Frei Gustavo Medella

Cidade da Guatemala – “Onde começa a conversão, no coração ou na mente?” Esta foi uma das diversas provocações que Dom Alvaro Ramazzini, Bispo da Diocese de Huehuetano, na Guatemala, trouxe aos participantes do III Congresso na manhã desta terça-feira, dia 23. Dom Ramazzini, que participou das Conferências Episcopais de Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), abordou a temática da “Igreja em Saída” a partir da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco.

O conferencista tomou como base o I Capítulo da Exortação, que tem como título “A transformação missionária da Igreja”. “O que entendemos por transformação?”, perguntou o bispo para, em seguida, explicar que esta mudança passa por uma conversão gerada pelo encontro pessoal com Jesus. Baseado no nº. 28 do documento de Aparecida, Dom Ramazzini traçou itinerário da conversão que gera verdadeiros discípulos-missionários: “Conhecer, seguir e transmitir”. “Conhecer é um dom; seguir, uma graça; e transmitir, uma tarefa de quem se encontra com Jesus e torna-se capaz de dar à própria vida uma orientação decisiva”, explicou.

Para o conferencista, a conversão pessoal e eclesial dá origem a uma Igreja em estado permanente de missão, onde as estruturas, os métodos, as prioridades se voltam muito mais para a Evangelização e bem menos para a automanutenção. Em profunda consonância com os apelos do Papa Francisco, Dom Ramazzini lançou luzes sobre a responsabilidade irrenunciável que a Igreja deve assumir em relação aos pobres e excluídos. “Devemos tocar a carne de Cristo que sofre nos pobres”, exortou, utilizando-se das mesmas palavras do Santo Padre. Como exemplo prático e concreto do drama da exclusão, Dom Ramazzini chamou a atenção de todos para o fato de 59% das crianças indígenas entre 01 e 05 anos sofrem de desnutrição na Guatemala.

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Participantes da delegação brasileira

A RELAÇÃO INSEPARÁVEL ENTRE JUSTIÇA E PAZ

Outra conferência da manhã foi a de Frei Juan Carlos Tremino, da Nicarágua. Ele trouxe a iluminação bíblica para o tema da Cultura da Paz, um dos eixos principais deste congresso. Primeiramente, recordou a origem do termo “Cultura de Paz”, que data do fim da década de 1980 e início de 1990, quando o mundo viveu o fim de importantes e longos conflitos. “O termo ‘cultura’ vem do verbo ‘cultivar’, que significa zelar, cuidar com atenção dos valores que levam à paz verdadeira”, disse.

“A paz se constrói na verdade e na justiça, enquanto a violência se baseia na exploração, na manipulação, na falta de respeito pela vida, no egoísmo”, recordou Frei Tremino. “A violência faz mais barulho do que a paz, mas nem por isso devemos desanimar ou desistir”, exortou.
Ao apontar alguns elementos da iluminação bíblica, o frade destacou que, no Antigo Testamento, a Paz aparece designada pelo termo “Shalom”, que sempre aponta para a justiça, a harmonia e para o respeito aos direitos humanos.

Na visão do Novo Testamento, aparece o termo grego “Irene”, e Cristo é apresentado como a esperada Paz Messiânica. Segundo Frei Tremino, tanto nas epístolas quanto nos Evangelhos, a Paz aparece como tarefa fundamental a ser assumida pelos discípulos. Relembrando o evento pós-pascal do envio que o Ressuscitado faz de seus seguidores, narrado em Jo 20,19-21, o conferencista destacou: “A partir do encontro com o Ressuscitado, a Paz começa a se tornar viva no seio da comunidade cristã”.

SURPRESA DURANTE A ORAÇÃO DA MANHÃ

Na primeira atividade do dia, os congressistas tiveram a alegria de receber a visita de algumas crianças e adultos atendidas pela Obra Social Santo Irmão Pedro. O trabalho, que já tem 37 anos, é dirigido pelos frades da Província Nossa Senhora de Guadalupe e realiza todos os anos milhares de atendimentos de saúde à população mais pobre da Guatemala, além de cuidar integralmente de mais de 250 pessoas em estado de total dependência e manter um centro de recuperação para dependentes químicos.

SANTO IRMÃO PEDRO

jose_pedroO Irmão Pedro de São José Betancurt foi canonizado por São João Paulo II no dia 30 de Julho, na cidade da Guatemala, na sua 3ª visita apostólica à Guatemala.

São João Paulo II reconheceu, no Irmão Pedro Betancurt, que “o exemplo da sua vida e a eloquência da sua mensagem são um valioso contributo na construção da sociedade que agora do terceiro milênio”. O Papa destacou ainda o “grande espírito missionário” de um homem “que se entregou ao serviço dos pobres e dos necessitados”.

Pedro de São José Betancurt, nascido em Tenerife, Ilhas Canárias, a 18 de setembro de 1626, atravessou o Atlântico com 24 anos, para na Guatemala viver como missionário leigo. Ao ali chegar terá dito: “Aqui quero viver e morrer”.

Membro da Ordem Terceira de São Francisco, teve uma grave doença. Tempos passados a sua saúde se recuperou inesperadamente e foi então que iniciou o seu apostolado junto dos índios nativos, dos que estivessem submetidos a trabalhos forçados, dos imigrantes, dos órfãos e dos abandonados.

Criou o primeiro hospital, de que há memória, para doentes convalescentes, deu especial atenção à educação de crianças e escreveu o regulamento a seguir nesse trabalho em que, entretanto, era ajudado por algumas mulheres. Deram assim os primeiros passos para formar as Ordens masculina e feminina dos Bethlemitas.

O Irmão Pedro de São José Betancurt faleceu com 41 anos de idade, a 25 de abril de 1667.