Ordenação de Frei Alberto Eckel Junior
21/05/2012
Por Moacir Beggo
“Se alguém tem sede, venha a mim, e beba” (Jo 7,37). Com este lema, o catarinense Frei Alberto Eckel Junior será ordenado presbítero no dia 26 de maio próximo, por Dom José Negri, PIME, bispo diocesano de Blumenau (SC). A celebração eucarística acontecerá às 19 horas na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na rua das Nações, 11, em Indaial (SC).
Sua Primeira Missa será celebrada no dia 27 de maio, às 9h30, na Igreja São Francisco de Assis, na rua 25 de Janeiro s/n, no bairro Carijós, em Indaial (SC).
Frei Alberto nasceu em Mafra (SC), no dia 19 de janeiro de 1984, filho de Alberto e Jociane Mary Trindade Eckel. Ele tem dois irmãos: Thiago Eckel (25 anos) e Thaize Trindade Eckel (22 anos).
Frei Alberto escolheu Indaial para sua ordenação, porque foi onde seus pais moraram durante sua infância e adolescência. Desde 2010, eles residem na cidade de Camboriú (SC).
Além de conhecer um pouco mais Frei Alberto, nesta entrevista ele fala sobre o seu amor pela Sagrada Liturgia. Confira!
Site Franciscanos – Fale de sua vocação. Como se deu o seu discernimento vocacional?
Frei Alberto Eckel Junior – O meu despertar vocacional se deu de forma bastante simples. Creio que se deve às raízes religiosas, sempre cultivadas em minha família. Na verdade, minha família sempre foi engajada nos movimento eclesiais e nas pastorais, desde quando vivíamos em Mafra-SC, e atuávamos na Paróquia São José. Meus pais eram ministros da comunhão, catequistas, membros da Pastoral Familiar e, mais tarde, membros das Equipes de Nossa Senhora. Isso sem contar com a atuação de meus avós, de ambos os lados, que também eram bastante assíduos nas atividades pastorais. Isso tudo, pois, criou o substrato onde a semente de minha vocação foi lançada. Vendo minha família se dedicar ao serviço pastoral, por que não eu dedicar minha vida integralmente ao serviço do Povo de Deus?
Site Franciscanos – Por que escolheu ser religioso franciscano?
Frei Alberto – Quando decidi ir ao seminário, minha vontade era ser padre. Tanto é que primeiramente me dirigi ao pároco de Indaial-SC, na época o Padre Carlos Kiesewetter, que me encaminhou para o estágio vocacional no Seminário Diocesano de Joinville. A princípio, eu não tinha noção da diferença entre ser padre e vida religiosa. Obviamente, com o passar do tempo, essa noção começou a ficar mais clara. À medida que eu caminhava, descobria as nuances da vida religiosa e, cada vez mais, apaixonava-me por ela. Quanto ao ser franciscano, creio que se deve a um retiro para jovens que fiz em Rodeio. Na ocasião, foram apresentados alguns valores franciscanos, o que me fez buscar contato com os frades. Como meus pais participavam das Equipes de Nossa Senhora em Blumenau, entrei em contato com Frei Nelson Hillesheim, que me encaminhou para o Seminário Santo Antônio, em Agudos-SP. A partir de então, com o aprofundamento da vida e espiritualidade franciscana, as motivações para ser franciscano só aumentavam.
Site Franciscanos – Conhecemos sua aptidão e preferência pela liturgia? Por que essa escolha?
Frei Alberto – Creio que o amor pela Sagrada Liturgia surgiu pelas circunstâncias da vida e da caminhada vocacional. Como afirmei, fui criado com um contato muito grande com o culto, o que levei comigo para o seminário. Desde os primeiros anos de seminário, estava ligado à equipe litúrgica e envolvido com a preparação das celebrações. É bem verdade que fiz muitas coisas “memoráveis” ao longo desses anos. Cito dois momentos. Um foi um dia da Quaresma em Agudos que cobri as imagens e as cruzes da igreja com panos roxos. Lembro-me que no café da manhã daquele dia os frades buscavam desvendar o mistério de quem colocou as “múmias” na igreja. Outro momento foi no Postulantado, quando fixei nas paredes da igreja, com pregos, dois anjos de isopor. A única coisa que me lembro foi Frei Valdir Laurentino, na época mestre, entrando na igreja bastante bravo e eu saindo com medo por outra porta. Todavia, com o passar do tempo fui estudando e me aprofundando na Sagrada Liturgia e percebendo a sua natureza, importância e riqueza. Devo isso principalmente aos meus professores de Teologia.
Site Franciscanos – Como está a liturgia hoje no Brasil?
Frei Alberto – É muito difícil falar de Liturgia em nível nacional, dado à complexidade e à variedade de situações. Talvez possamos falar de cenários litúrgicos. Na minha pouca experiência, percebo três cenários principais. Um primeiro é aquele no qual as comunidades receberam e captaram o espírito da reforma do Vaticano II. São comunidades que, não obstante as dificuldades, deixaram-se imbuir da renovação litúrgica, compreendendo a Sagrada Liturgia como fonte e cume de toda ação, evangelização e espiritualidade da Igreja, fugindo à simples e “tradicional” questão pode/não pode. Outro cenário é aquele em que comunidades compreendem a Sagrada Liturgia como um momento de piedade. Explico-me: são aquelas comunidades que, por exemplo, preferem uma reza do terço ou adoração ao Santíssimo em detrimento da celebração eucarística ou da celebração da Palavra. Isso não significa, no entanto, que o terço ou a adoração sejam ruins. Por fim, um terceiro cenário que percebo é aquele, já apontado por Frei Alberto Beckhäuser, em que se busca a estética pela estética, ou seja, o esteticismo. São comunidades ou grupos que, vestidos de uma roupagem tradicional ou de renovação, preocupam-se simplesmente com a forma da celebração, reduzindo a Sagrada Liturgia a normas. Esse último cenário é, talvez, o mais prejudicial à vida da Igreja porque geralmente se reveste de ideologias, progressistas ou conservadoras (não sei se ainda é possível falar dessas categorias!), o que impede um legítimo aggiornamento proposto pelo Vaticano II. Há, no entanto, uma questão que perpassa esses três cenários, é aquela que toca questões pastorais e de inculturação. Acrescente-se a isso a questão da música litúrgica: qual a função da música na Sagrada Liturgia? O repertório que temos atende à função da música litúrgica? Creio que são tensões que ainda incomodam, o que não exclui as belezas e conquistas de nossas comunidades, como por exemplo, a participação ativa de todos os fiéis e a valorização da Palavra de Deus na Sagrada Liturgia.
Formação e atividades pastorais |
Escolaridade 1988-1990: Escola Infantil Municipal Comecinho de Vida – Mafra/SC 1991-set.1995: Escola Básica Santo Antônio – Mafra/SC set.1995-1998:Escola Municipal Prefeito Luiz Polidoro – Indaial/SC Formação e atividades pastorais 1999-2001: Seminário Santo Antônio – Ensino Médio – Agudos/SP 2002: Postulantado Frei Galvão – Guaratinguetá/SP 2003: Noviciado São José – Rodeio/SC (Vestição: 09 de janeiro) 2004-2007: Convento São Boaventura – Filosofia – Campo Largo/PR 2004: Estágio Pastoral na Com. Vila Torres – Campo Largo/PR 2005: Estágio Pastoral na Com. N.S. Medianeira – Campo Largo/PR 2006-2007: Estágio Pastoral na Com. S. Coração de Jesus – Campo Largo 2008-2009: Convento S. Coração de Jesus – Teologia – Petrópolis/RJ 2008-2009: Estágio Pastoral na Com. São Francisco – Petrópolis/RJ 05/11/2009: Profissão Solene – Capítulo das Esteiras – Agudos/SP 2010-2011: Fraternidade São Benedito – Teologia – Petrópolis/RJ 2010-2011: Estágio Pastoral na Par. N.S. Aparecida – Nilópolis/RJ 04/12/2010: Ordenação diaconal – Par. N.S. Aparecida – Nilópolis/RJ 2012: A serv. da Evangelização – Convento da Penha – Vela Velha/ES |
Site Franciscanos – Você concorda com a Adélia Prado: “A missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum”?
Frei Alberto – A linguagem da Sagrada Liturgia é simbólica. O símbolo, pois, comunica, expressa, celebra e atualiza o Mistério Pascal. A linguagem simbólica não suporta enfeites ou adereços no sentido de algo secundário. Na Sagrada Liturgia, toda ação, a música, os gestos, a palavra, as vestes e as cores, por exemplo, são eloquentes, dizendo o mistério com a veste simbólica. Tudo se converte em símbolo e diz o mistério de Cristo e também este na vida dos fiéis. Tudo é importante na missa, assim como na poesia: cada palavra, expressão e pontuação traduzem os sentimentos e ideias da poesia. Não é um simples esteticismo, mas é o modo próprio de a Liturgia ser celebrada, atualizada e, depois, vivida pelos fiéis. Nesse sentido, o modo como se celebra é importante porque comunica e diz uma verdade de fé, verdade essa que o Magistério da Igreja tem a missão de guardar e zelar. Seguir, pois, as orientações da Igreja não é um simples capricho, mas é algo essencial da fé, que não suporta nem possui elementos secundários e adereços. Nessa linha, o Beato João Paulo II já afirmava (não me lembro onde): que o vosso modo de celebrar seja o vosso modo de crer. Portanto, o modo de celebrar incide no modo de crer e viver a fé.
Site Franciscanos – “Os elementos fundamentais da fé, que no passado toda e qualquer criança sabia, são cada vez menos conhecidos”. Bento XVI disse na Missa do Crisma esta frase. Como você vê esta situação?
Frei Alberto – Bento XVI faz essa afirmação ao refletir sobre o múnus de ensinar do presbítero. O papa chama a atenção que o verdadeiro ensinamento e consequente doação dos mistérios de Deus acontece quando o próprio presbítero experimenta o mistério de Deus em sua vida. No entanto, o que se percebe é um crescente paradoxo: mesmo em meio ao desenvolvimento intelectual da sociedade, há um crescente analfabetismo religioso entre os fiéis. De fato, há uma ignorância religiosa entre os fiéis e falo isso por experiência própria: há algum tempo eu trabalhei numa instituição de ensino na área de ensino religioso e, depois, com a catequese de Crisma.
Notei que parte dos alunos, embora muito inteligentes, careciam de conhecimentos religiosos fundamentais e, às vezes, nem sabiam as orações fundamentais do cristão. Isso se deve não só a uma catequese defasada, mas também a uma não vivência da fé em família, independente da constituição dela. Assim, a afirmação de Bento XVI vem a calhar muito bem, o que exige do presbítero uma postura muito mais firme e fundamentada na experiência dos mistérios de Deus. Ou seja, além de investir numa catequese mistagógica, o presbítero precisa, mais do que nunca, ser um homem de Deus.