Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Caminhada Franciscana da Juventude contagia

22/09/2015

Notícias

Frei Diego Atalino de Melo

Senti que não era eu que estava caminhando, mas era Jesus quem me carregava…”, “Esses são os melhores calos da minha vida…”, “conhecendo a história dos enfermos em Piraquara, percebi que a minha vida era muito bonita e que até então eu não dava tanto valor…”, “durante a caminhada vimos o amor do irmão para conosco, em simples gestos de repartir a água, em dividir a lanterna, em cantar, em rezar juntos…” “é tudo tão ótimo, tudo tão revigorante, que nos dá forças para continuar o dia-a-dia…”, “as dúvidas que eu tinha quanto a querer ser um frade menor foram todas reduzidas a pó, pois agora, mais do que nunca, quero abraçar este modo de vida maravilhoso”.   Essas foram algumas das conclusões dos jovens que percorreram os 20 km  da IV Caminhada Franciscana da Juventude, acontecida nos dias 19 e 20 de setembro de 2015, na região metropolitana de Curitiba.

A homilia da missa, celebrada no sábado à noite na capela do Convento São Boaventura, em Campo Largo – PR, falava do testemunho de uma jovem ao concluir que a medida de Deus é o exagero, que Deus realmente é exagerado, abundante.

Ao encerrar esta Caminhada Franciscana da Juventude e revendo como tudo aconteceu, nos damos conta de que de fato este último final de semana foi marcado pelo exagero de Deus: mais de 300 jovens participantes, mais de 36 horas sem dormir, calos nos pés, bolhas de sangue, dores nas pernas, câimbras, cansaço e sono, percorrendo um itinerário que passava por 3 cidades. Na organização, a dedicação incansável dos frades do Regional de Curitiba, com destaque aos frades estudantes de filosofia, o envolvimento das Paróquias Bom Jesus da Ferraria e Bom Jesus dos Perdões, Convento São Boaventura, Colégio Bom Jesus e FAE, Hospital de Piraquara, Associação Beneficiente Dikaion, Comunidade São José, dos frades menores conventuais, inúmeras pessoas e comunidades abrindo suas comunidades para nos acolher no meio da madrugada, lanches e refeições preparados com carinho e em grande abundância. Para o translado, 7 micro-ônibus, 3 ônibus, 3 vans e 2 carros de apoio. Motivados pela reflexão do Frei Samuel Ferreira de Lima acerca da afirmação de São Francisco “O Senhor me deu irmãos”, outra marca do exagero divino foi a maneira como se criou uma grande fraternidade, não só entre os jovens católicos, mas também com a alegria da presença e participação de jovens e voluntários evangélicos, espíritas e até mesmo agnósticos, cujo objetivo era experimentar que a fraternidade universal ultrapassa os limites dos credos ou religiões.

Certamente para você que está lendo esta notícia tudo pode estar parecendo demasiado exagerado ou até mesmo uma loucura. E de fato também o foi para nós que participamos. No entanto, quando a fé é a razão e o fundamento daquilo que fazemos, não há limites para a doação e a entrega da própria vida. Conforme afirma São Paulo, a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. (I Cor 1,18). E essa força certamente nos veio da prova de amor de Cristo por nós, pois os jovens, carregando uma grande cruz de mais de 4 metros de altura, cujos nomes estavam inscritos nela, fizeram a profunda experiência de encontrarem suas forças exatamente neste sinal do amor exagerado de Deus.

Por fim, em nome do Serviço de Animação Vocacional da Província, só tenho a agradecer a Deus pela sua abundante generosidade em nossas vidas e missão, pelo envolvimento de todos os que fizeram essa Caminhada se tornar realidade e acreditam que para o amor não existem limites ou meias-medidas, pois, de fato, a medida de Deus é o exagero.

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A medida de Deus é o exagero!

CAMINHADA FRANCISCANA

A caminhada franciscana
É um imenso movimento da juventude.
Mobiliza, empolga e envolve muita gente
E traz paz, alegria e muita saúde.
Alimenta a esperança pela fé
Na ação engajada para que o mundo mude.

Os jovens de muitos lugares
De perto e de longe aqui vem.
Trazem no rosto o sorriso
De quem ama e muito se quer bem.
Lembram as caminhadas de Jesus
E seus apóstolos de Nazaré para Jerusalém.

Da mesma forma como os seguidores de Jesus
Ouviam sua mensagem de amor,
Cada jovem aqui presente traz
Cravado em seu peito o franciscano fervor.
Com devoção e profunda alegria querem
Aprofundar o seguimento de Cristo Senhor.

As comunidades demonstram notável
Carinho e cuidado no acolhimento.
Se organizam para providenciar
Aconchegante hospedagem e nutritivo alimento.
Expressam sua alegria e amizade
Em cada gesto a todo momento.

Frades e lideranças leigas com presteza
Se juntam neste grandioso mutirão.
Outros colaboram espiritualmente
Através de devota e profunda oração.
Vamos construindo um mundo novo
Marcado pela paz, justiça e comunhão.

De nossas paróquia e comunidades
Vieram tanto jovens diferentes.
Foram mobilizados pelas redes sociais
Porque vivem em constante comunicação.
Todos tem pela frente grandes e nobres ideais
E em Cristo buscam sempre sustentação.

Lá vão eles mundo afora
Buscando o sustento e realização.
Aprofundam o conhecimento da
Palavra de Deus pela leitura e meditação.
Para os mais empobrecidos caridosamente
Estendem os braços e abrem o coração.

Quem participa da caminhada franciscana
Deve estar sempre aberto à graça da conversão.
Para viver com profundidade
Sua humana e cristã vocação.
Em sua família, na escola e na sociedade
Ser capaz de testemunhar vida em comunhão.

Saber escolher uma vocação para seguir
Traz clareza e discernimento.
Exige espírito de doação e sacrifício
Par ser fiel no seu constante cumprimento.
Com certeza traz plena realização humana
Pois é de Cristo Jesus o primeiro mandamento.

“Ide pelo mundo, fazei discípulos meus”:
Eis o nosso ideal.
Inspirados por Francisco de Assis
construamos a fraternidade universal.
Caminhando lado a lado com tantos
Movimentos que defendem uma sociedade mais igual.
De Deus a graça recebemos
De participar de grupos e comunidades.
Convivendo em ambientes adversos à fé cristã
Testemunhemos corajosamente ao Evangelho a fidelidade.
Cristo Jesus nos inspire e conduza
Um dia à pátria celeste na feliz eternidade.

Encerro estes meus versos rimados
Invocando as divinas bênçãos do além.
Deus proteja e acompanhe a todos,
Seus familiares e amigos e a mim também.
Em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo. Amém.

Frei Angelo Vanazzi

Curitiba, 20 de setembro de 2015.

“Dia do gaúcho”

Deus é realmente exagerado. O exagero é a medida que eu sempre procurei na minha vida e que nunca consegui alcançar… Eu procurava a eternidade no tempo, a totalidade no amor e o máximo em cada resultado.
Mas tudo isto eu procurava no mundo e somente encontrava substitutos. Até mesmo Deus na minha tinha aparências e medidas humanas.
Cheguei na Caminhada com o desejo de deixar em casa as preocupações e tirar umas pequenas férias do mundo, da universidade e mesmo daqueles amigos mais próximos. Procurava um tempo livre para mim… Queria dar espaço para a minha procura de felicidade…
Cheguei na Caminhada sem nenhuma expectativa e sem nenhum programa, o que era algo inédito para mim. Forcei-me a desorganizar-me ao menos uma vez e me confiar aos outros.
Arrumando minha mochila, na noite anterior à viagem, procurei estar atenta para carregar somente o mínimo necessário, mas parecia que mesmo assim ainda estava muito pesada. Ignorava que já há muito tempo eu trazia no coração tantos “enormes pedregulhos” e que na minha cabeça existiam montanhas de refugos que precisavam ser eliminados. Preocupei-me em esvaziar a minha bagagem material, mas me esqueci de dar uma trégua ao coração e à minha mente, que estavam precisando tanto de um pouco de oxigênio…

Eu estava tão imersa nos meus compromissos que evitava aos meus inúmeros questionamentos, e justamente por isso não queria deixar que o silêncio entrasse e preparasse um espaço dentro de mim para um encontro com Deus.

Para a Caminhada eu cheguei desejosa de colocar tudo isto que estava dentro de mim em ordem, mas não sabia por onde começar e sem a coragem de fazê-lo realmente.
Toda a coragem que hoje eu encontrei chegou até mim ao longo do caminho, encurtando a cada momento, passo a passo, a minha distância de Cristo. Em cada momento poderia ter parado, pedido ajuda, voltado atrás, desistido. Mas Deus estava sempre um centímetro mais próximo do que antes e eu queria realmente exagerar. Desta vez eu tinha prometido para mim mesma de ir além. De tocar as suas vestes como aquela hemorroisa do Evangelho e colocar as minhas mãos nas suas feridas assim como fez Tomé. A minha determinação e a minha teimosia foram os instrumentos que mais agradeci na minha oração e dos quais Deus se serviu para firmar o meu passo em direção a Ele.

Os momentos de silêncio foram os meus maiores sacrifícios. Eu não os queria, pois eles me obrigavam a escutar tudo aquilo que eu sempre tinha colocado em modo de espera. Além disso, o silêncio me sugeria criar um espaço para os projetos de Deus e eu não tinha intenção de deixar a minha vida nas mãos de nenhum outro, nem mesmo nas mãos de Deus. Mas os tempos de mudança estavam próximos e eu mesma me aproximava sem me dar conta.

Descobri na Caminhada que Deus não é medíocre e que não sabe o que são meias medidas, as decisões tomadas pela metade e que ele não raciocina subtraindo ou dividindo. Deus somente multiplica e acrescenta. É preciso entregar a vida para nada menos do que a Eternidade… É preciso fazer escolhas que sejam para sempre… Esses convites são exagerados, provocatórios e ao mesmo tempo me assustam. Para confiar-se em algo de terno é necessário coragem. E eu não tinha.

Durante a Caminhada não sabia explicar a paz que eu respirava. Ali o tempo parecia ter parado. Olhava aquelas centenas de caminhantes que Deus tinha escolhido como companheiros de viagem para mim e não via nada de familiar neles, e mesmo assim me sentia em casa com eles.
Deus sabia que há muito tempo eu procurava uma casa no coração das pessoas e que o meu desejo de encontrar esta casa teria me levado muito mais perto Dele mesmo do que eu pudesse imaginar.

Percebi que Deus queria me surpreender e abaixar as minhas defesas… E ele conseguiu, sobretudo no segundo dia de Caminhada, quando começaram as câimbras. Foi quando eu descobri que eu não estava treinada, preparada ou pronta para aqueles quilômetros que eu achava que seriam fáceis para uma jovem esportista como eu.

E foi por meio daquelas câimbras que Deus estava me mostrando que não existe nenhuma preparação adequada para o seu encontro, pois a beleza de Deus está exatamente na imprevisibilidade e no não-cálculo. E mesmo assim eu tentava resolver as coisas por minha própria conta, evitando incomodar os outros, pedir ajudar ou mesmo parar, sem entender que Deus estava tentando me comunicar que pedir ajuda, sentir-se fraco e ser carregado pelos outros pode ser uma bela experiência de misericórdia e humildade.

Quando finalmente comecei a aceitar a ajuda dos outros, que também foram cuidando dos meus calos e feridas, pude apreciar a paciência de Deus e comecei a deixar a minha teimosia de lado. Foi quando, finalmente, experimentei a beleza de deixar-se amar por Deus por meio dos outros.

Por fim, a partir da experiência da Caminhada, pude entender que o tempo que dedicamos a Deus e a nós mesmos tem perfume de eternidade. Caminhando com tanta gente, entendi que tenho amigos próximos que são extremamente distantes, e que agora tenho amigos tão distantes e que são extremamente próximos. Eu acreditava que era feliz. Agora sou feliz por crer. Pensava que poderia viver sozinha, mas agora me dei conta de que viver é conviver. Realmente naqueles dias tudo aquilo que eu acreditava que era impossível na minha vida se tornou possível e quotidiano. E tudo isso eu devo a Deus.
Também agradeço aos irmãos e irmãs da Caminhada, aos frades e às irmãs que me levaram até Deus. Obrigado por vocês me ensinarem que doar-se e gastar-se pelos outros é amar a Deus.

No momento da confissão me despi de todas as máscaras que eu havia sempre vestido. Se alguém me perguntasse que rosto tem a liberdade para mim hoje, eu responderia que a liberdade tem o rosto de um homem que morreu e ressuscitou por mim, o rosto de alguém que me tirou para fora das trevas e me colocou novamente no mundo.
A confissão, que para mim sempre foi um sacramento periférico, um acessório, se revelou ser a chave para as portas da vida eterna. Gastei 22 anos nos meus pecados acreditando que eu poderia me salvar por mim mesma. A descoberta daquela confissão me ensinou que eu não sou sem Deus e que sozinha não posso colher um campo de grãos sem também recolher as ervas daninhas. Descobri que para vencer o pecado eu tinha necessidade de Deus. No fundo, descobri que era Deus que eu procurava quando eu procurava a felicidade, ainda que por caminhos tortuosos.

Por fim, quando voltei da Caminhada, percebi que nasceu no meu coração um desejo novo, nasceu o desejo de programar a minha vida a partir de Jesus Cristo. Pode parecer assustador ou mesmo algo meio distante. Mas não quero correr o risco de não aceita-lo e por isso quero fazer o Bem.
Desta Caminhada trago para casa a verdade, a beleza e a certeza de que a medida de Deus é o exagero. E que no fundo era este exagero de Deus que eu sempre procurei para a minha vida.
Tudo aquilo que na minha vida era acaso se tornou providencia, todo o passado se tornou misericórdia e todo o presente se tornou possibilidade.
Enfim, bem que me disseram que a Caminhada seria uma oportunidade privilegiada de fazer uma experiência de Deus… E assim o foi! Me deixei surpreender por Deus…. Porque quem se surpreende, ser enche de luz. E quem olha para Ele, se tornará radiante…
Paz e bem!

Beatriz.