“Santa Clara, defensora da vida”, tema da 33ª Jornada
28/09/2014

Moacir Beggo
São Paulo (SP) – Pela 33ª vez, os franciscanos e franciscanas do Regional São Paulo da Família Franciscana do Brasil (FFB-SP) – com destaque para as fraternidades da Ordem Franciscana Secular, sempre em maior número e das cidades mais distantes – se reuniram neste domingo (28/9), no Colégio das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, em Moema, para mais um encontro como acontece todos os anos no início da Primavera.
O encontro começou com a acolhida e cafezinho às 8 horas e, às 8h45, teve início a celebração eucarística, presidida por Frei Antônio Corniatti, OFMConv, o convidado para a reflexão do dia, e concelebrada por Frei Anacleto Gapski, coordenador da FFB-SP.
Na homilia, Frei Antônio, já deu início ao tema da Jornada: “Clara de Assis, defensora da vida”, em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Mas antes, Frei Antônio refletiu sobre o que entendemos por viver? “Por que as coisas vivem, as plantas vivem, o bichinho que está aqui no vaso vive, os animais também vivem, nós vivemos, os anjos vivem, Deus vive”, reforçou a pergunta. Primeiro, o frade conventual citou as coisas, que têm seu jeito próprio de estar aí. “Estão onde estão nos servindo”, disse, assim como as plantas, que crescem e evoluem com o modo próprio que cada uma recebeu. “A pequena semente que caiu na calha vai ser tornar uma plantinha com a mesma cordialidade de uma semente que caiu em solo fértil. Ela não tem inveja. Já os animais seguem os seus instintos. Coisas, plantas e animais dão glória a Deus em sendo o que são. Devolvem a Deus o que eles têm e não pecam. Vivem rigorosamente segundo o projeto originário que Deus deu para elas”, lembrou.
“Agora, o nosso modo de viver é diferente. Nós devemos ser o que já somos. Ninguém acontece de graça. Não dá para terceirizar o nosso modo de viver. Responsabilizar-se em ser o que somos é modo próprio de viver”, acrescentou o palestrante.
“Você pode ocupar a sua mente de quanto conhecimentos quiser, mas o fato de ocupar a sua mente de conhecimentos e conceitos, tornando-se doutor, isso não te torna nem melhor nem pior. Apenas uma pessoa bem informada e bem habilitada, mas em crescimento de vida, não. Eu posso saber de cor e salteado um manual de natação, mas se eu não me responsabilizei em me tornar nadador, caio na piscina e morro afogado com todas as informações de natação que eu possa ter na minha cabeça”, exemplificou.
“O mesmo vale em Teologia. Você pode ser doutor em todas as cadeiras: dogma, moral, direito canônico, exegese etc. Pode ser muito hábil em transmitir conceitos destas várias matérias e não ter um mínimo de experiência de Deus. Vem um pernilonguinho na tua orelha e tira você da paciência. Você sabe de cor e salteado que Jesus disse: ‘É na vossa paciência que possuíreis a alma’. Então, com todos os doutorados, um pernilonguinho tira você do sério! Porque você não cresceu neste vigor existencial que se chama paciência”.
Segundo ele, quem, porém, acordou para a busca do sentido da vida, descobrirá que na raiz do nosso ser, no mais profundo do nosso coração pulsa uma inexorável paixão pelo sentido último absoluto de todo e qualquer existir humano; algo que por meio de todas as vicissitudes da existência humana nos fascina, provoca e seduz para uma busca cada vez mais exigente, profunda e originária.
“Viver, no sentido de vida humana, significa, pois, acordar para essa possibilidade de fundo de nós mesmos, para esse projeto existencial que perfaz a grandeza, a dignidade e o privilégio do ser-humano: crescer e consumar-se nele”.
Segundo o Frei, o crescimento humano não é dado pelos conceitos, pelas ideias, mas pela responsabilização em se transformar. O mesmo vale para Deus. “Para eu conhecer Deus eu tenho de me tornar Deus. E como eu me torno Deus? Responsabilizando-me em ser filho de Deus no Filho de Deus. Nisso Clara é mestra. Até a sua morte, ela passou todos esses quarenta e dois anos de vida no claustro só trabalhando esse toque vocacional que teve”, explicou.
“Assim, Clara, defendendo, conhecendo e amando a vocação que recebeu, abrindo-se para deixar-se transformar, tornou-se a irmã menor de toda a criatura com o irmão menor de toda a criatura, Francisco de Assis”, disse Frei Antônio.
Segundo o frade, se lermos atentamente os escritos de Santa Clara, perceberemos de imediato que a sua inexorável e única paixão era seguir a Jesus Cristo, crucificado. “Jesus Cristo crucificado, como no caso de São Francisco, a fascina, a atrai, absorve-lhe todas as forças, no grande desejo de unir-se a ele, de ser carne de sua carne, osso de seus ossos”.
Para Frei Antônio, todas essas coisas não teriam nenhum sentido, por si e em si, se não estivessem enraizadas em Jesus Cristo crucificado e seu seguimento. “Nesse sentido, o seguimento de Jesus Cristo crucificado era radical, isto é, a raiz de todas as coisas para Santa Clara”, enfatizou.
No final de sua palestra, encerrando a manhã, Frei Antônio fez a leitura espiritual do Testamento de Santa Clara.
Às 14 horas, Fernando da Fraternidade Santo Antônio de Embaré (Santos), falou sobre “São Luís, Rei da França”, que neste ano é lembrado pelos 800 anos de seu nascimento. Frei Antônio, no final da Missa, deu a bênção final com uma relíquia de São Luís.


