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Festa da Penha 2025: Com Maria, peregrinos de esperança

14/04/2025

Entrevistas, Notícias

A 455ª Festa da Penha está próxima. Com o tema “Com Maria, peregrinos de esperança”, o terceiro maior evento católico do Brasil espera reunir milhares de pessoas em Vila Velha (ES), entre os dias 20 e 28 de abril.
De acordo com informações oficiais, serão mais de 14 romarias, que percorrerão, juntas, cerca de 635 quilômetros — a pé, a cavalo, de moto, de bicicleta ou em embarcações.

Além das romarias, os devotos também acompanham fervorosamente o Oitavário, momento devocional repleto de manifestações de fé e louvor à padroeira do povo capixaba.  Dentre as atividades  previstas, a instalação do terço gigante, no dia 19, é um momento que marca o início dos festejos no Campinho do Convento.

Mas, a tão aguardada divulgação da programação completa  aumenta ainda mais a expectativa e, recentemente, a organização da Festa da Penha disponibilizou esse importante itinerário da fé do povo capixaba, que pode ser acessado aqui.

Essa festa se destaca pela capacidade de reunir os devotos de Nossa Senhora das Alegrias, a Virgem da Penha, agregando as diversas manifestações de fé sem questionamentos ou limitações. O tom acolhedor fica ainda mais evidente com a presença dos frades da Província da Imaculada Conceição do Brasil, que reforçam, entre os peregrinos a presença do carisma e da espiritualidade franciscana.

Podemos afirmar que é uma grande celebração inclusiva. Como toda mãe que ama seus filhos incondicionalmente, a Mãe da Penha respeita as diferenças de seus devotos, que conseguem expressar o amor pela santa de devoção de forma livre, liberta de convenções, mas repleta de força espiritual, presente, por exemplo, no congo, no carregamento do mastro, na vigília dos jovens, nas pessoas com deficiência ou na subida, muitas vezes solitária, pelo Morro da Penha. Sozinhos ou em grupos, os filhos e filhas de Deus têm duas características em comum: o amor e o olhar de uma criança que pede colo à mãe, na certeza de que será atendida.

Em entrevista ao Site Franciscanos, Frei Gabriel Dellandrea, guardião do Convento da Penha, falou sobre as expectativas e os preparativos finais para a festa 2025 de Nossa Senhora da Penha.

Site Franciscanos – Como estão os preparativos para a Festa da Penha deste ano?

Frei Gabriel Dellandrea– A Festa da Penha 2025 foi uma construção bastante complexa. Ela, com certeza, iniciou a sua preparação no ano de 2024, mas a comissão organizadora foi bastante modificada, uma vez que mudou o arcebispo de Vitória e o guardião do Convento. Assim, muitas decisões ficaram suspensas. O lado bom é que a Páscoa desse ano foi um pouco “mais tarde”, o que permitiu mais tempo hábil para a preparação. Além disso, a partir de todas as mudanças, muitos ajustes no caminho foram necessários. Porém, uma coisa me animava: uma festa de 455 anos – ou ela acontece ou ela acontece. Não depende de uma pessoa. Ela tem vida própria. Por isso, embora os preparativos estejam intensos, muitas coisas já seguem um rumo próprio!

Site Franciscanos – Quais as novidades da programação dos festejos?

Frei Gabriel – Neste ano buscaremos reforçar ainda mais a presença franciscana na programação. A oração da Coroa Franciscana das Sete Alegrias de Nossa Senhora se fará bem frequente nos dias do evento. Também o tradicional devocional, durante a maior parte dos dias do Oitavário, será realizado também no período noturno, o que antes era só no vespertino. Os frades conduzirão esse momento e contaremos também com a presença dos nossos irmãos professos temporários para a animação dos cantos. Tenho certeza que essa festa, além das tradicionais cores do Espírito Santo (azul, branco e rosa), será bem mais “marrom”.

Site Franciscanos – O oitavário é um dos momentos aguardados pelos devotos de Nossa Senhora da Penha. Como estão os preparativos para esse momento do ponto de vista litúrgico e de interação com os devotos?

Frei Gabriel – Revisitar a história para buscar dela o incentivo para os dias que vivemos. Isso que todo o Oitavário busca fazer, especialmente no momento devocional, antes da missa, que procura recontar a história do Convento da Penha, de Frei Pedro Palácios e da Festa da Penha em si. Frei Felipe Carretta, frade capixaba, ajudou nesse ano na produção deste material. Especialista em Festa da Penha, ele indicou os caminhos de uma rota já existente na piedade popular, mas que passou por leves toques de reformulação para, assim, garantir mais assertividade para esse ano. E a ideia é envolver ainda mais os peregrinos nesse momento, repetindo uma ideia do ano passado: para cada dia faremos a bênção de um objeto que as pessoas trarão para a celebração e vão lembrar como lembrança desse itinerário de fé. No primeiro dia vamos abençoar as chaves das casas, uma vez que as pessoas já trazem consigo, pedindo a intercessão da Virgem Maria sobre os lares. E para cada dia vamos sugerindo às pessoas o que podem trazer para ser abençoado no dia seguinte. Ah, e entre os objetos, vamos abençoar até os celulares, para buscarmos sempre uma comunicação mais fraterna e dialogal.

Site Franciscanos – A participação dos voluntários é muito forte na Festa da Penha. Quantos já estão envolvidos? 

Frei Gabriel –  “Povo organizado, milagre realizado”: essa frase eu encontrei na casa de uma tia minha, muito envolvida na Igreja e que nunca esqueci. Acredito que isso é um norte para como procuraremos trabalhar com os voluntários por aqui. São muitos, fazendo muita coisa. Porém, pouco conhecemos sobre os números. Eles têm meio que “vida própria”, e quando eu vejo as coisas já aconteceram. Aos poucos deixam claro o que fizeram não porque dizem, mas porque aparece feito. Mas, creio que teremos entre todos os voluntários cerca de 300. Para o próximo ano pretendo, conversando com a fraternidade, unir mais esses irmãos, valorizando o trabalho deles. Mas enquanto isso, como estou chegando, não sei de tudo, mas sei que a festa vai acontecer por causa do trabalho deles na liturgia, na música, no apoio à infraestrutura, na decoração, na limpeza, nos lanches, na organização geral, na comunicação, na coleta das doações, na segurança, na acolhida, no cadastro de benfeitores para o Convento…

Site Franciscanos – Qual a importância dos voluntários para a Festa da Penha?

Frei Gabriel – Maria foi a primeira voluntária. Ao dizer sim ao chamado do Senhor fez da vontade de Deus a sua. E ela inspira tantos outros irmãos que agora, em seu louvor, rendem honras e glórias através do trabalho exaustivo, mas recompensador. Os voluntários aqui são como a pedra embaixo do convento: sustentam a estrutura toda. Fazem aquela missão silenciosa e garantem a alegria da festa, como Maria nas Bodas de Caná, embora nem sempre aparecendo para mostrar a água transformada em vinho. Mas o mais importante é que o voluntário faz parte do processo, mas o milagre vem do Cristo, que embriaga a todos com a sua presença renovadora e revigorante. Deus abençoe os voluntários!

Site Franciscanos – Este é o primeiro ano que o senhor está presente na Festa da Penha como guardião do Convento da Penha. O que representa esse momento para o senhor?

Frei Gabriel – Estou aprendendo dentro de casa a lição de como ser um bom peregrino. As muitas reuniões, por conta da festa, exigem diversas ausências. E os irmãos, quando podem, me acompanham. Mas, embora seja a semana mais linda do Convento, o Convento não é só festa, pois os atendimentos e serviços diversos não param. Sendo assim, eu havia me escalado para ouvir as confissões numa semana e um confrade foi lá, riscou o meu nome e disse: “vai se ocupar da sua função de guardião, que essa aqui seguramos para você”. Outro confrade, vendo eu chegar de uma reunião cansado, me esperou com uma janta pronta para juntos partilharmos os sonhos e desafios. Então, embora seja um grande desafio, em nenhum momento eu me senti sozinho. Além disso, muitos confrades toparam o desafio de vir ao Convento da Penha, no banho de povo que é a Festa. E eu sei que a fraternidade será um grande estímulo. Procuraremos aprender juntos como se faz Festa da Penha.

Site Franciscanos – Quais suas expectativas para a festa?

Frei Gabriel – Confesso que estou ansioso para saber o que Deus fará com a programação que preparamos a partir do que o Espírito foi nos guiando. Me coloco na Festa como mais um romeiro, mais um peregrino. E, inclusive, fui aprendendo a viver a Festa. Pois uma coisa é a pessoa que participa sem saber de nenhum detalhe. Tudo é novidade. Ela se emociona, se encanta, se alegra com mais facilidade. Para nós, que sabemos muitas coisas, às vezes fica um pouco técnico. Então, uma alegria repousa: não a da novidade de como será cada momento do evento, mas de entender como Deus fará cada momento acontecer. Além disso, agora descubro cada vez mais que a missão cristã é ser feliz fazendo os outros felizes. Ver as pessoas encantadas com a festa, animadas com o evento é, sem sombra de dúvidas, um combustível puro para animar os motores desse trabalho tão exigente.

Site Franciscanos – Como frade franciscano, o que sente estando à frente de um dos importantes espaços de devoção mariana do país?

Frei Gabriel – Aprendi que é Nossa Senhora quem manda aqui. Com Frei Pedro Palácios ela indicou onde queria morar. Comigo, quando cheguei, ela já mostrou sua preocupação com a casa: embora eu tivesse decidido para mim mesmo (como se eu mandasse em algo aqui) que não pintaríamos o convento para a Festa. No mesmo dia que pensei isso um doador veio e me disse que doaria toda a tinta para a pintura. Ali eu entendi: não sou eu quem decido, e então só obedeço – vamos pintar! Ela não só quer receber aqui os seus filhos, mas quer que eles vejam uma bonita casa, para que a beleza do seu espaço possa inspirar seus filhos e filhas em busca da Beleza do Filho, o Bom Pastor!

Assim, afirmo que fiquei uns dois dias sem dormir depois da transferência para cá, preocupado. Não que estivesse sem sono por causa dos aspectos financeiros, administrativos, fraternos… não. O que mais me ocupava a mente era: como corresponder à missão num lugar tão importante? Como ter a maturidade de guardar esse espaço tão sagrado apesar de ser um frade jovem? Aí eu ouvi: “ser jovem não é pecado”. Isso me consola, pois com os irmãos mais experientes eu tento gastar a minha juventude fazendo o meu melhor.

Apesar dos meus erros, tenho a consciência tranquila, parafraseando Ariando Suassuna: com o pouco que sei, me entrego por inteiro. Aqui não me interessa muito se tem a faca e o queijo, sem a fome, nem adiantaria ter eles. Também entendi uma coisa: não se deve aproximar-se do sagrado sem a devida reverência. Aqueles que, porventura, assim agiram, encontram não o castigo de Deus (ele tem mais o que fazer), mas a dor de perder a oportunidade de encontrar o Senhor em cada peregrino. As pessoas que aqui sobem têm por nós franciscanos um carinho enorme, uma reverência que me causa até espanto. Mas, se nós não correspondemos elas até desanimam, mas não desistem. Porque  sabem o que querem aqui, e isso não é propriedade nossa: é de Deus. Elas querem o revigoramento da fé, o extraordinário para seguirem rumo ao ordinário. O nosso trabalho é só guardar, conduzir e se deixar encantar também pelos devotos que são o nosso alimento de fé. E todos os dias o Senhor me visita. E isso me anima muito. Agradeço pela oportunidade de viver na casa sobre a rocha. Que ela me solidifique na fé!


Texto e fotos: Adriana Rabelo Rodrigues