100 anos de vida e missão construindo história nas terras do sertão
14/06/2013
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Por Dom Luiz Flávio Cappio, bispo da Diocese da Barra
A Diocese de Barra está completando 100 anos de vida e missão. Foi criada no ano de 1913 pelo papa São Pio X, através da Bula “Maius animarum bonum” (“Para maior bem das almas”). Com a Diocese de Barra foram criadas também as Dioceses de Ilhéus e Caetité, todas desmembradas da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Neste tempo, nossa Diocese possuía dimensões imensas: ia de Pernambuco a Minas Gerais, compreendendo o que são hoje as Dioceses de Juazeiro, Bom Jesus da Lapa, Barreiras e parte de Irecê. Todas essas Dioceses saíram da Diocese-mãe de Barra.
Desde que foi criada, tivemos a presença de grandes homens e mulheres que semearam o que hoje estamos colhendo com tanta abundância. Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, missionários, missionárias, cristãos, leigos e leigas, que foram verdadeiros operários e operárias da Messe do Senhor. O espírito missionário foi o fio condutor de toda nossa ação pastoral desde o seu início. Todos os que por aqui passaram estavam imbuídos com este desejo de contribuir na expansão do Reino de Deus, e deram o melhor de si diante de tantos desafios que nossa dura realidade apresentava.
Logo de início tivemos que enfrentar a falta de escolas para formação de professoras. O primeiro bispo que aqui chegou, Dom Augusto Álvaro da Silva, depois cardeal primaz do Brasil, fundou o Colégio Santa Eufrásia na cidade de Barra para formação de professoras e catequistas. Foram essas heroínas que alfabetizaram e catequizaram todo o sertão do São Francisco e sul do Piauí.
Na época grassava na região a malária que não poupava vidas. Conta-se que Dom João Muniz sempre ouvia o sino da catedral avisando a morte de alguém. Incomodado perguntou a um de seus auxiliares qual era a causa de tantos óbitos. E recebeu como resposta que era a malária que consumia tantas vidas. Como o prelado era muito conhecido e amigo do então ministro da saúde, conseguiu a fundação da SUCAM para erradicação deste terrível mal. Pois bem, hoje, se existe um serviço que presta tantos bens para a saúde de nosso povo, seu berço se encontra entre nós. Por isso, Dom João Muniz passou a ser conhecido como o “bispo sanitarista”.
O que seria das lutas fundiárias em nosso sertão se não tivéssemos tido um Dom Orlando Dotti que, a frente da Diocese assumiu pra valer a defesa dos posseiros contra grileiros gananciosos. Como membro da Conferência de Puebla defendeu a tese: “A terra é de quem nela trabalha”, afirmando a prioridade do suor derramado e das mãos calejadas em relação a um papel chamado documento. Realizou com as terras da diocese uma das primeiras experiências de “reforma agrária” entre os posseiros da região. Dom Itamar levou adiante essa luta. E se hoje reina um pouco mais de tranquilidade em questões de terra, devemos ao duro trabalho desses dois nossos irmãos. Não estavam sozinhos: Padres, religiosos, religiosas e cristão leigos assumiram pra valer esse desafio. A CPT (Comissão Pastoral da Terra) teve papel relevante neste assunto. Alguns derramaram seu sangue pela causa da justiça como Jota e Manoel Dias.
Quanto a Pastoral nossa prioridade são as Comunidades Eclesiais de Base. Ficamos muito felizes quando a última Assembleia Geral a CNBB estendeu para todo o Brasil esta prática pastoral que nós vínhamos realizando há muito. Nossa Diocese é um conjunto de muitas comunidades, uma rede de comunidades. Para isso é necessário que tenhamos leigos preparados para os desafios pastorais. Nesse trabalho de formação de nossos leigos, as religiosas sempre deram uma grande contribuição.
É assim que estamos vivendo o Ano Centenário: valorizando nossas comunidades e manifestando nossa profunda ação de graças por tudo o que foi realizado até hoje. Colocamo-nos nas mãos de Deus a fim de que, generosamente, como os que nos antecederam, levemos adiante este precioso trabalho de construção do Reino de Deus.