O formador franciscano: tarefas e atribuições (II)
A presente reflexão destina-se de modo particular aos formadores e formadoras dos irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular, especialmente nos primeiros tempos de discernimento e de escolha, mas também é útil para os responsáveis pela formação permanente. Mesmo escrevendo estas considerações para a OFS vamos seguir de perto um texto publicado em italiano (La figura del formatore nel processo formativo, Omar Rodulfo Sanchez, OFMCap, p. 241-284, capítulo do livro Formazione franciscana oggi. Corso di Teologia Spirituale 11, Edizioni Dehoniane Bologna 2012, a cura de Albert Schmucki), destinado à formação dos religiosos franciscanos da primeira Ordem. Talvez aqui e ali o autor do texto acentue a maneira de formar os frades menores. Certamente, o leitor e o formador da OFS saberá fazer a devida adaptação, quando necessário. Vamos nos ater mais à questão das responsabilidades do formador (a). (p. 254-265).
Texto de abertura
“A função do formador varia segundo o grau de vida espiritual atingido pelo religioso. Suas principais responsabilidades são: discernir a ação de Deus, acompanhar o irmão nos caminhos do Senhor, nutrir sua vida de doutrina sólida e de oração vivida. De modo especial, nas primeiras fases, avaliar o caminho percorrido” (Documento da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e sociedades de via apostólica, 31 de maio de 1983).
Discernir
Discernir a ação de Deus, ou seja, a autenticidade da vocação, do chamamento, a capacidade de resposta em vista da profissão. A responsabilidade do formador, com sua equipe, é discernir a autenticidade das vocação já nos primeiros tempos de acolhida do candidato.
Quando se começa a formação é o momento do mútuo conhecimento: os formandos começam a poder dizer os motivos que fizeram com que procurasse a Ordem e os responsáveis pela Ordem podem conhecer aquele que chega e que cordialmente acolheram.
Começa também um processo de discernimento por parte dos formadores que ali foram colocados em nome da Igreja. Trata-se de um discernimento objetivo:
>> reconhecimento de um movimento interior do Espírito no interior do chamamento pessoal;
>>avaliação da reta intenção que se fará por meio do exame das motivações para que sejam evitadas ilusões e erros;
>>verificar se o candidato tem as aptidões mais básicas para viver em fraternidade e, no caso da Ordem I, para exercer sua missão de religioso franciscano: o candidato precisa fazer esse opção livremente e não coagido por pulsões e medos e que tenha equilíbrio psicológico;
>>capacidade do candidato em traduzir em atos os valores que pretende abraçar; idoneidade de seguir a Regra de vida da OFM ou da OFS entrando num caminho de conversão, enfrentando dificuldades, desafios na longa caminhada da vida de entrega a Deus no estilo franciscano de viver o seguimento de Cristo;
>>nesse campo de discernimento, já bem desde o começo, o formador ajudará os candidatos a alimentarem um contato pessoal e denso com o Senhor na oração: o candidato precisará descobrir por onde o Senhor o quer levar.
Acompanhar
O que ingressa nas fileiras da Ordem será acompanhado no seu caminhar pelas estradas do Senhor. O ser humano não pode se tornar pessoa no sentido mais amplo do termo sem relacionamento e diálogo com os outros. O eu nasce de uma relação com um tu. O Catecismo da Igreja Católica refere-se à dimensão comunitária da fé e à impossibilidade de ser crer sozinho, como ninguém pode viver sozinho: “A fé é ato pessoal: é a livre resposta do homem à iniciativa do Deus que se revela. Ela, no entanto, não é ato isolado. Ninguém pode crer sozinho, como ninguém pode viver sozinho” (n. 166).
Respeito
A figura do confessor ou de um eventual diretor espiritual são importantíssimas no caminho formativo, mormente para os frades. O formador não interferirá no campo do confessor ou do diretor espiritual. A direção espiritual consiste em ajudar a pessoa diretamente em sua relação com Deus. Diretor espiritual e confessor conhecem mais intimamente os formandos. A direção espiritual consiste em ajudar a pessoa mais diretamente no seu relacionamento com Deus. Precisamente aí, conhecendo mais de perto o coração das pessoas, os diretores espirituais ou o assistente franciscano no caso dos leigos franciscanos, pode fazer um belo e indispensável trabalho pastoral. Os franciscanos seculares poderão escolher o assistente local com seu conselheiro e diretor espiritual ou outro perante o qual tenham mais facilidade em abrir o coração.
Nutrir
Outra função do formador é alimentar. Nutrição tem tu a ver com a vida. Há necessidade de um alimento doutrinal e prático. Não somente alimento intelectual, mas espiritual e afetivo. O empenho formativo não se concentrar no fazer, mas no saber fazer as coisas e experimentá-las. Saber fazer as coisas.
Verificar, avaliar e julgar
Documentos sobre a formação, mais no âmbito da formação dos religiosos, insistem que os formadores verifiquem se os formandos estão produzindo os frutos do Espírito e se eles estão correspondem ao que desejam a Ordem e a Igreja. Essa avaliação da caminhada feita será feita no próprio grupo dos formandos e também nas instâncias da Ordem, ou seja, na reunião do Conselho com seu Ministro.
Que o formando seja protagonista de sua formação
Até certo ponto o formador deve tornar-se inútil. Deve educar o educando a que se eduque, a caminhar à luz da fé de maneira autônoma. O formando precisa compreender que buscará a discernir a vontade de Deus através da docilidade e da obediência. O formando é seu formador a vida inteira.
Frei Almir Guimarães