Começaram a chamá-lo de “Poverello”
Hermann Hesse, romancista mundialmente conhecido, apaixonou-se por Francisco de Assis. No texto que ora transcrevemos, ele fala sobre os primórdios da aventura do “Poverello”. Um certo jeito particular de contar os começos. Não reclamem exatidão de detalhes e pormenores históricos não seguros. Hesse amava Francisco. Esta é sua versão.
Depois de um certo tempo que Francisco tinha iniciado seu novo gênero de vida, um companheiro se juntou a ele. Nenhuma informação nos foi deixada a respeito de tal pessoa. Depois chegou Bernardo de Quintavalle. Pediu para passar uma noite com Francisco e com ele dialogar. Bernardo era um cidadão distinto, rico e de grande reputação. Os dois passaram a noite conversando profunda e amistosamente. O dito Bernardo se foi: vendeu todos os seus bens, tudo o que tinha e distribuiu o dinheiro aos pobres. A partir de então seguiu seu amigo, e Francisco montou cabanas de palha para os seus dois discípulos e para si mesmo ao lado da Porciúncula. Em seguida um jovem de nome Egídio (Gil) juntou-se a eles. Juntos ou sozinhos, percorreram a Úmbria. Aqui e acolá trabalhavam com camponeses. No lugar de dinheiro, aceitavam uma refeição frugal. Depois da refeição, falavam com as pessoas, fazendo exortações e cantavam…
Francisco designava a si mesmo e a seus companheiros de joculatores Domini, quer dizer, menestréis de Deus. Anunciavam a glória de Deus como trovadores e peregrinos que costumam cantar. Este foi certamente o momento mais feliz de sua vida. Viajante e hóspede ao mesmo tempo, perambulava como peregrino, como um menestrel ou um pássaro cantor, desejando a todos servir. Com um coração cheio de felicidade agradecia e a todos confortava. Trabalhava com os trabalhadores, dirigia palavras afetuosas aos enlutados e oferecia alegres canções para os que estavam felizes Devido à sua pobreza voluntária deram-lhe naquele tempo e ainda hoje o encantador cognome de: il Poverello.
Hermann Hesse, François d’Assise, Salvator, Paris, p. 43-44