Carisma Franciscano – VI
Refletindo sobre a oração
Não temos dúvidas: o esplendor de nossa vida franciscana de hoje e de amanhã depende da oração, mas oração de verdade. Não apenas um balbúcio de palavras no qual não acreditamos, num mero monólogo. Quando se pergunta como formar frades para esse tempo novo, preciso será dizer uma formação séria, contínua, revisada na oração: oração pessoal, gosto de participar da Eucaristia, rezar com os outros, capacidade de encontrar o Senhor, dar indícios de que é alguém que tem uma vida de oração profunda. Insisto na meditação e na leitura espiritual. Continuamos a refletir sobre a oração e seu pano de fundo. A oração franciscana sempre se “assombra” com a beleza do Senhor no criado.
♣ Jacques Loew situa a oração uno contexto da conversa entre Jesus e Samaritana: “A iniciativa primeira vem de Deus. É ele que, por primeiro, pede para beber, ele tem sede de nós. Com esse ‘dá-me de beber’, Jesus assinala a ordem essencial da oração: é o Senhor que começa, ele é sempre o primeiro a falar. Nossa vida espiritual, nossa vida com Deus não é sucesso ao qual se chega sozinho, com suas próprias cartas sobre a mesa. É uma partida que se joga a dois e iniciativa é sempre de Deus. Em seguida somente, ao tomarmos consciência desse amor de Deus, esse Deus que vem mendigar nosso amor para melhor nos dar o seu – se soubesses o dom que Deus te dá -, só então rezamos. A oração vem espontaneamente quando pressentimos o dom de Deus: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e te daria água viva”. Observemos o verbo pedir, prece. Nesse momento é que advém a oração porque tomaste consciência de que Deus quer te dar alguma coisa de muito grande.
♣ Giacomo Bini: “Nossa vida quotidiana está se desintegrando e fragmentando a partir dos inumeráveis compromissos e desejos despertados em nós por um mundo demasiadamente consumista. Devemos substituir a cultura da aparência, do imediato, da exterioridade, da eficiência própria e nosso mundo “globalizado por uma culta da interioridade, do silêncio, da escuta obediente, da fecundidade divina. Devemos converter-nos da lógica da evidência, do “sempre feito assim” para a lógica da confiança, apesar dos fracassos, ou até, instruídos por ele”.
♣ Gérard Bessière: “O povo dos pequenos retoma incessantemente o caminho das asperezas, da obstinação, do amor. Entre eles, os cristãos deveriam ser sentinelas que acreditam na luz e que a buscam mesmo na escuridão e no meio das tempestade. Os olhos fixos no horizonte de Deus, podem sem querer como que projetar, talvez até mesmo sem saber, contornos do universo que se espera, e reconhecer em seu meio discretas pinceladas do Artista dos mundos. Vive-se a morte de um mundo. Não seria, antes, o começo de um outro? Esta nossa tarefa e nossa alegria diante de Deus?”.
A oração pode secretar lucidez e coragem. Olhando para Deus, vemos desaparecer os horizontes de ontem e acolhemos os de hoje e de amanhã. “O Espírito geme em nós”, escrevia São Paulo. É ele que nos impulsiona a “renovar a face da terra”. Os que se sentem disponíveis ao seu elã estão sempre a esperar por Deus. Nada fará com que deixem de amar. No silêncio obscuro da oração, quaisquer que sejam as cores do dia, são aqueles que abrem os poços do futuro de Deus.
Frei Almir Guimarães