Carisma Franciscano – II
Dois testemunhos
Francisco renunciou ao poder que gera a violência e ao dinheiro que está na raiz do poder. Deu de mão a toda a ambição de domínio, incluindo a mais sutil de todas, a dos clérigos. Rompeu com o sistema político religioso de seu tempo, a supremacia temporal da Igreja, as lutas feudais, as guerras santas. Fê-lo sem clamor, sem subverter a opinião pública, com suavidade, humildemente, mas realmente. Num mundo violento, eriçado de torreões, cavado de fossos o seu universo não conhecia muralhas nem torres de vigia. Pobre de bens e de poder, estava em paz com todos, vivia ao nível de todos os seres, para todos tinha um olhar cheio de luz e de respeito. O olhar, sobretudo, nele era maravilhosamente humano; humanos os sentidos todos. As criaturas já não eram objeto de posse e de domínio. Irmão do sol e das criaturas, caminhava num mundo aberto e esplendoroso. Era o pai de uma multidão de amigos. Nele se congraçavam a pureza e a ternura e nenhuma barreira conseguia impedir que se expandissem pelo mundo. O seu horizonte não era a cristandade temporal, com seu prestígio, as suas fronteiras a defender ou a dilatar, mas apenas Jesus Cristo, que urgia amar e servir o homem que se impunha salvar.
Éloi Leclerc, em “Desterro e Ternura”, Editorial Franciscana, Braga (Portugal), p.10-11
Irmãos e irmãs de São Francisco, temos um papel importante a desempenhar no futuro que devemos construir com todos os homens e mulheres de boa vontade acentuando a prioridade das pessoas no seio da Fraternidade universal; manifestando a novidade do Evangelho, fonte de felicidade; encarnando no cotidiano dos relacionamentos, o amor salvador de Cristo; esforçando-nos em sermos testemunhas da liberdade interior do Espírito; recusando a ditadura do dinheiro e a pauperização de dois terços do planeta. Construir o futuro no maravilhamento diante da beleza da criação e promovendo um desenvolvimento humano duradouro; apaixonados pela paz e diálogo entre as religiões; sentindo-nos solidários de uma Igreja muitas vezes pecadora e por vezes luminosa. Um mundo novo está nascendo e a família franciscana deve fazer aí ouviri sua música própria.
Michel Hubaut, em “Chemins d’intériorité avec saint François”, Ed. Franciscaines, Paris, p 18-19
Frei Almir Guimarães