Frei Josielio da Silva Oliveira, OFM
Vivemos um cristianismo sem Cristo…
Estacionamos em nossas verdades egocêntricas e, em nome de nosso “bem-estar espiritual”, executamos uma guerra sentados no cômodo sofá de nossas casas. Destilamos ódios, julgamos a Igreja e seus representantes, pregamos conversão para os outros, enquanto tirando Deus de seu trono e de sua glória, usurpamos seu lugar e, como deuses, ditamos as normas para que os outros sejam bons cristãos!
Satanás, em seu orgulho, também quis usurpar o lugar que pertencia exclusivamente a Deus! Pergunto, então, a cada um de nós e a mim mesmo, em que somos melhores que ele e digo que, ele sendo um Anjo de Luz, sentiu-se no direito de ditar os desígnios de seu Criador e ser maior que Ele; e nós, sendo apenas homens, falhos e limitados, já queremos ditar tantas verdades que criamos em nossa autoafirmação, verdades essas que acreditamos ser em nome de um Deus que nada mais é do que um eco de nossas próprias vontades e ações! O Deus de um cristão sem cristianismo está morto. Foi assassinado por esses para que deixasse de “ser fraco”, pois pregava o amor e isso era um risco para os “cristãos”.
Oprimimos o nosso semelhante, o matamos, seja espiritual ou existencialmente, tirando-lhe a dignidade de humanos e amados, não nos abrimos à acolhida daqueles que nos cercam e ainda nos apresentamos como cristãos! Esquecemos que o Deus que servimos (ou que deveríamos servir!) é um Deus-conosco, sofredor e humilde e que, querendo caminhar com seu povo, nasceu em uma gruta, tendo por testemunhas os animais que ali se abrigavam, a Virgem Mãe e seu esposo José, homem justo e temente a Deus e que teve como trono de glória uma rude cruz. O Filho de Deus foi crucificado por caminhar guiado pela misericórdia, o cuidado aos mais sofredores e tendo como alicerce para seus atos, a Lei do Amor, ditada pelo Pai celestial. Deus assim nos mostra que seguir seus passos é deixar-se dominar pelo Amor, porque Ele mesmo é Amor! O resto é apenas nosso desejo de poder, de reconhecimento por alguma obra ou ato meramente humano e para conseguir a glória aqui na terra, para conseguir reconhecimento diante dos homens, tenha que guerrear contra Deus, em nome d’Ele… Que contradição macabra estamos vivendo!
Imersos em nosso egocentrismo, nos tornamos rasos e incapazes de absorver a dor do outro em nós ou de servi-lo com a solicitude de Cristo, na opção pelos pobres de nosso tempo. O que está diante de nossos olhos, o externo não mais nos afeta, e isso porque o nosso olhar e nosso foco está voltado para nosso próprio umbigo. Se exercer um ato de amor dói, não pode ser bom; se exige esforço e luta também não pode ser bom! Uma fé vivida no conforto de nosso egoísmo é uma ofensa ao modo de tantos cristãos e santos que testemunharam Cristo em nossa Igreja! Com o pretexto de que os tempos mudaram e a Igreja tem de se adaptar a essa mudança, vamos colocando o que é do mundo dentro de uma experiência de fé que ultrapassa nossa limitada humanidade, pois nasce do lado aberto de Jesus em uma cruz!
Francisco de Assis, na Regra e Forma de vida dos Frades Menores (e porque não dizer, a forma de vida para todos os cristãos?), exorta e nos explica o caminho a seguir, e começa seu pedido “Em Nome do Senhor”:
“A Regra e vida dos Frades Menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade. Frei Francisco promete obediência e reverencia ao Senhor Papa Honório e seus sucessores canonicamente eleitos e à Igreja Romana. E os demais irmãos estejam obrigados a obedecer a Frei Francisco e seus sucessores”. (RB 1, 1-4)
Assim, imbuídos do Espírito do Senhor e seu santo modo de operar, avaliemos nossas posturas, nossas vontades rebeldes e, diante de nosso compromisso, busquemos imitar a Cristo nas pegadas de Francisco, vivendo a plenitude do que prometemos a Deus, diante de nossos votos e diante do povo; sejamos testemunhos, sal da terra e luz do mundo. Não erramos quando estamos em obediência à Santa Igreja e ao sucessor legítimo de Pedro, o nosso querido Papa Francisco. Que o Bom Deus nos dê forças para professarmos, como nunca antes visto, a nossa fé e a nossa dignidade de cristãos pautados em Cristo e não nas fraquezas e enganos do mundo. Sejamos cristãos em obras, palavras e testemunho e não repetidores de uma religião que vive o cristianismo sem Cristo!
Frei Josielio da Silva Oliveira, OFM, é frade estudante do 3º ano de Filosofia da Província Franciscana da Imaculada Conceição.