Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O peito rasgado do Senhor é fonte de vida plena

02/10/2015

Se não houvesse a cruz, Cristo não seria crucificado, a vida  não teria sido pregada no lenho com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o documento do pecado, não teríamos sido declarados livres,  não teríamos provado da árvore da vida, não se teria aberto o paraíso.  Se não houvesse a cruz, a morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno.

 Santo André de Creta  (séc.VIII)

Ele mesmo disse: “Não existe maior amor do que dar a vida pelos seus”.   O coração humilde e simples do discípulo do Ressuscitado se compraz em agradecer esse amor que foi até o fim.  Nunca seremos suficientemente gratos a esse que veio do seio da Trindade, que veio se instalar no seio de uma mulher transparente, agarrar-nos por dentro para sermos homens e mulheres de um mundo  novo, que veio nos falar da ternura e da misericórdia do Pai.  O ato extremo desse amor  foi colocado na cruz. Sem forças, depois de horas de tormentosa agonia, ele dá o seu espírito ou o  Espírito.

Cruz, instrumento abominável de castigo, dois pedaços de madeira entrecruzados, leito  dos condenados.  E lá estava ele, esse Jesus que é o ar que respiramos.  Lá estava ele se contorcendo de dores e vestido dos trajes da nudez e da solidão.  Expressão de um amor que vai até o fim, situação vivida com dor, mas sem revolta,  consequência coerente de uma vida de dom.  Um pedaço de gente,  pernas, braços, peito, corpo que é dado e sangue que é vertido. No sofrimento mais hediondo esse Jesus  rasga um documento que havia sido exarado contra nós.  “Como é glorioso, santo e sublime  ter nos céus um pai!  Como é santo, consolador, belo e admirável ter um esposo! Como é santo e dileto, aprazível, humilde, pacífico, doce, amável acima de tudo, desejável ter um tal irmão e filho que expôs a sua vida por suas ovelhas”(Francisco de Assis,  Carta aos Fiéis, 2ª. recensão).

“Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água que lavam o mundo”, diz  André de Creta.  Sangue e água saindo da pedra do peito, do peito fissurado, do peito aberto pela lança do soldado,  sangue que daria força aos mártires, sangue que é símbolo de uma vida dada e doada, água que deseja matar um sede de plenitude que existe nos corações sinceros e contritos, água do batismo que faz matar em nós o homem velho,  água que irriga a secura de uma vida seca e árida que levamos, sangue e água que nos permitem olhar para além da porta estreita da morte e divisar um novo paraíso com a Fonte no meio.

Vale a pena ler e meditar estas palavras  de São Proclo, bispo de Constantinopla: “Ó Paixão, purificação do universo!  Ó morte, princípio da imortalidade e origem de vida! Ó descida à mansão dos mortos  que lança uma ponte a fim de que eles passem ao reino da vida! Ó meio-dia da morte de Cristo, recordação daquele dia do paraíso em que Eva comeu o fruto! Ó cravos  que fixam o mundo para Deus e traspassam a morte!  Ó espinhos, fruto da videira má! Ó fel que dás a doçura da fé!  Ó esponja que lavas o mundo de seu pecado!  Ó instrumento, que inscreves os fiéis no livro da vida!”

O peito rasgado de Cristo é fonte de vida plena!

Frei Almir Guimarães

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