Transpassam seu lado e ele cura o lado de Adão.
1. Belíssimo este texto do Sermão da Teofania, atribuído a Santo Hipólito: Este é o meu Filho amado. Tem fome e alimenta multidões inumeráveis; afadiga-se e alivia os fatigados; não tem onde reclinar a cabeça e tudo sustenta com suas mãos; sofre e dá remédio a todos os sofrimentos; é esbofeteado e dá liberdade ao mundo; transpassam o seu lado e ele cura o lado de Adão (Liturgia das Horas I, p. 531).
2. Cristo Jesus, ontem hoje e sempre. Os cristãos vivem em função dele. Não se vinculam apenas a uma personagem do passado, perdido nas brumas dos séculos, mas convivem com o Senhor ressuscitado, na fé em sua presença, no regime dos sinais, na certeza de que ele veio estar conosco para sempre, o Emanuel. Nossa fé se revigora quando ouvimos essa palavra do Pai: Este é o meu Filho amado, escutai-o. Em momentos de oração, durante o silêncio do retiro, nas viagens feitas ao fundo de nosso coração ficamos abismados com as ternuras do amor de Deus. Ele está perto de nós. Ouvimos o Pai dizer que coloca nele todas as suas complacências.
3. O centro e o vértice da devoção ao Coração do Redentor está no culto ao amor salvífico por nós. Em tal amor encontra-se a raiz de todas as graças, de todos os benefícios, de todas as bondades que continuamente recebemos. Por causa desse amor do Redentor recebemos o dom da vida divina, da filiação divina através do batismo, aperfeiçoada na confirmação, nutrida na Eucaristia. Todas as graças são provenientes da paixão, morte e ressurreição de Cristo, do lado transpassado.
4. A criança que se remexe nas palhas do presépio, aquele que se assenta à mesa para comer é um Deus faminto. Experimenta a dor do estômago sem alimento. No alto da cruz tem sede. Sede de água e sede de amor. E ele alimenta multidões. Os que têm fome a ele se dirigem. Este é o meu Filho amado.
5. Que Deus frágil! Cansa-se pelas estradas da vida, tem necessidade de repouso no deserto depois de ser quase devorado pela multidão. Mas pede que todos os que se sentem esgotados a ele se dirijam e possam se aliviados. Este é o meu Filho amado.
6. Um Mestre andarilho que não tem casa, nem cama, nem colchão, nem conforto e que na sua força sustenta o mundo. Mas ele mesmo não tem uma pedra para reclinar a cabeça. Sofre, é torturado, sofre de solidão, de amargura, do amargor do fel e do vinagre, um Deus que não é masoquista, não anda buscando sofrimentos, mas acolhe aquilo que chega como contradição da vida, esse que dá remédio a todos os sofrimentos: consola a viúva que perde seu filho único, tem pena da multidão sem pão, derrama a água de seu Espírito em nossas vidas e nos faz pessoas novas, renascidas.
7. Este é meu Filho amado. É esbofeteado como se fosse um assassino, um delinqüente, um fora da lei. É esbofeteado e acorrentado e dá liberdade ao mundo.
8. Transpassam o seu lado e ele cura o lado de Adão. Há o lado de Cristo, o lado do coração. Depois que Jesus já estava morto um soldado abriu-lhe o lado com a lança. E nasceu uma ferida, uma fenda, uma abertura no lado do Senhor. Água e sangue correram… O autor do texto que abriu esta meditação diz que Jesus tem o lado aberto e cura o lado de Adão. Que significa isto? Segundo a Escritura o Deus Altíssimo quis dar a Adão uma companheira. Deu-lhe um sono e tirou-lhe uma costela da qual criou a mulher. Depois seria preciso fechar a ferida. Deus curou a humanidade. Quis que os maridos se amassem sua esposa como Cristo amou a Igreja. A fenda do coração de Adão tem a ver com a ferida do peito de Jesus. Quis que a água de seu coração pudesse ser aspergida no lado dos homens. Curou o lado de Adão.
9. João, o evangelista e apostolo, na intimidade da Ceia, coloca sua cabeça no peito de Jesus. Esse encontro é encontro de amor e de ternura. Sempre de novo o tema do amor. Muitas representações do Coração de Jesus mostram o coração cercado de uma coroa de espinhos e com chamas ardentes. Estamos assim face ao tema do amor que vai até o fim. O Coração de Jesus é símbolo vivo da caridade divina. O Coração de Jesus é todo amor por Deus e pelos homens. O amor de Cristo pelos homens é como o amor do Pai. “Como o Pai me amou assim também eu vos amei”.
10. “Ó Coração adorável de Jesus, coração enamorado de todos os homens. Coração criado exatamente para amar os homens. Como teu amor pode ser tão pouco correspondido pelos homens? Ai de mim que estou entre aqueles ingratos que não te sabem amar. Perdoa-me. Este é meu grande pecado, ou seja, de não te ter amado sendo tu tão amável e me havendo amado que fizeste todo o possível para que eu pudesse te amar” (Oração de Santo Afonso Maria Ligório).
11. “E de tal modo, Pai santo, amastes o mundo que, chegada a plenitude dos tempos, nos enviaste vosso próprio Filho para ser o nosso Salvador. Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado, anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes a alegria. E para realizar o vosso plano de amor, entregou-se à morte e, ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou a vida” (Oraçao Eucarística n.IV).