Frei Almir Guimarães
Sempre de novo, a cada primeira sexta-feira do mês, contemplamos o Cristo do coração dilacerado, do peito aberto, aquele que vive nos repetindo que nos existe maior amor do que dar a vida pelos seus. Temos necessidade e urgência de voltar nosso olhar e nosso interior para o Senhor Jesus nos mais duros e densos momentos de sua trajetória, quando morre no alto da cruz. O Amor que se doa exige uma resposta de entrega. Trata-se de um amor de peito dilacerado e de braços largamente abertos.
A morte do Senhor é uma crucificação do amor e por amor. Na cruz, Jesus abre seus braços. Durante toda a vida ele tocou pessoas, abraçou crianças, curou doenças com seu toque suave. Pode ser que, no abraço de todos os dias, tenhamos uma escondida intenção de prender alguém a nós. Na cruz não acontece isto: há um amor diferente. Amor de braços abertos. Amor que não quer aprisionar, amor de entrega para que o outro floresça. Os braços abertos parecem indicar que Jesus nada guarda para si. Não pode mais abraçar porque suas mãos estão presas e ensanguentadas, mas tem condições de abrir os braços num gesto chamativo, acolhedor, tocante. “Estou aqui. Venham. Nada de medo”.
O discípulo do Coração de Jesus é alguém que tem os braços abertos como que a convidar as pessoas a se aproximarem, a chegarem perto. O discípulo nada conserva para si, dá, doa. Quem tem os braços largamente abertos é aquele que está em disponibilidade para prestar serviço, para dar seu tempo, perdão, para injetar ânimo nas vidas desalentadas.
Braços abertos e coração dilacerado. Acolhida e dom. Coração, sede das mais belas e íntimas intenções. Os cristãos, na primeira sexta-feira do mês, ficam contemplativos. Retiram-se para um canto. Meditam. Experimentam doída contrição por suas faltas e pecados.
Belas as reflexões de Anselm Grün: “Para mim, a imagem mais marcante do amor de Cristo que se entrega por nós, é seu coração. O evangelista João conta que um dos soldados enfiou sua lança no flanco do corpo de Jesus e que da ferida jorrou, ao mesmo tempo, água e sangue. Sangue e água são para João, sinais do Espírito Santo que brotou do coração de Jesus e jorrou para todas as pessoas. Durante sua vida, o amor de Jesus chegou às pessoas a quem ele encontrou pelo caminho. Agora este amor é derramado sobre todo o mundo, sem fronteiras, e todos os que meditam e oram em Jesus, com seus corações abertos, também podem beber deste amor” ( Anselm Grün, Exercícios espirituais para o dia a dia, Vozes, p. 102-103).