Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Educação – é possível ter esperança em tempos pandêmicos?

28/06/2022

                                                                        Imagem ilustrativa: Canva (www.canva.com/pt_br/modelos)

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves

Vivemos um período pós-pandemia e ainda não é possível prever o caminho a ser seguido. Mês a mês, semana a semana, nos deparamos com dificuldades que, diante do avanço de casos, nos deixam apreensivos. Entretanto, mesmo com essa situação, temos a convicção de que a vacina é o melhor caminho para evitar as mortes que, no Brasil, superaram o alarmante número de 4.000 mortos em um único dia.

Diante desse cenário inconstante, uma pergunta fica: Podemos ter esperança de dias melhores? A primeira condição é ter a esperança de uma consciência humana em algo que é maior: o bem de todos e todas, que, chamaremos de bem comum.

Para tentar responder a essa pergunta, primeiro temos que contextualizar: Vivemos um período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas e educacionais. O ser humano se vê desnorteado diante de tantas situações indesejáveis. Diante dos desafios, somos chamados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano, algo nunca antes pensado. Para tanto, é necessário ter cuidado com a vida, respeitar o próximo e, principalmente, as gerações.

É preciso, urgentemente, se fazer ouvir e articular o maior crescimento da consciência humana sobre o que é ser humano e a sua relação com a educação. Por isso, pensar em um eficiente processo educacional só será possível diante de uma Educação Integral do ser humano. Desse jeito, ainda há esperança? Retomo a pergunta para primeiro pensar em uma esperança em Deus, mas um aspecto de esperançar frente aos desafios. Por isso, esperançar em Deus nos ajuda a conhecê-lo melhor. Esperançar em Deus fortalece a nossa fé e gera paciência. Esperançar em Deus nos prepara para recebermos bênçãos maiores do que as que pedimos. Os planos de Deus são maiores do que os nossos planos. Esperançar em Deus possibilita a realização de grandes coisas em nossas vidas.

Com essa proposta, diante desse contexto pandêmico, se faz necessária uma transformação na educação. Por isso, a Campanha da Fraternidade 2022 com o tema “Fraternidade e Educação” nos convida a escutar os ensinamentos de Cristo, que se coloca como servo. Ele é o Educador que nos dá a condição de aprender com nossas realidades e em nossos contextos, ou seja, observando a realidade de cada um.

Para isso, com o intuito de mudar nossa conduta, precisamos ir além das aulas e dos cursos, criar uma rede de relações humanas e abertas, capazes de ouvir. De nos ouvir! Ouvir nossas dificuldades e problemas como professores e, diante disso, não perder a esperança. A educação hoje precisa criar critérios, por exemplo, o que é importante para os alunos e como fazer com que eles voltem o seu olhar e interesse para a educação? Uma pessoa sábia não é aquela que tudo sabe, mas é o que sabe o que precisa saber. O conhecimento é algo que é vivo e não congelado, está em constante movimento.

Com essa realidade, é preciso cultivar o caminho ético, respeitando as pessoas na sua individualidade e comprometendo-se com a realidade vivida e o respeito a todos. Dessa forma, teremos condições de deixar um bom legado aos que estão por vir, às futuras gerações: pessoas melhores para o mundo consequentemente melhor.

Infelizmente, ainda temos pessoas que negam a realidade e os problemas pelos quais passamos em mais de dois anos de pandemia e ainda estamos passando. Ou seja, há mais pessoas amaldiçoando a escuridão do que acendendo velas para iluminar. Nessa metáfora é nítida a necessidade de se movimentar agora e esperançar, como já disse Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

Por isso, a nossa pergunta inicial tem uma resposta: Sim, é possível ter esperança! Esperança no ser humano, na sociedade que luta por condições melhores e, acima de tudo, esperança na educação. Nesse contexto, quero trazer a fala de Viktor Frankl, em seu livro “Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração”. Para Viktor, que sofreu nos campos de concentração durante três anos, ele afirma que “a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis” (2008, p. 4). Diante dessa afirmação, o que realmente devemos fazer é promover uma verdadeira e consciente mudança em nossas atitudes em relação à vida. Ele continua: “O que importa é tirar o melhor de cada situação dada”. (FRANKL, 2008, p. 75)

Dessa forma, é urgente retomar nosso propósito de vida e, acima de tudo, cuidar do outro,  colocar-se a escutá-lo e a fazer um processo de encontro. Nesse aspecto, a educação é a condição de uma grande conquista, pois é com a educação que temos as bases das nossas relações. Não podemos fugir disso, nem mesmo deixar de lado a realidade de uma sociedade que se preocupa somente com a realidade financeira e se esquece de escutar, de se colocar como aquele que serve, como Cristo fez.

Por fim, em consonância com a fala de Paulo Freire, a Exemplo de Jesus, quero trazer aqui uma singela recordação de Dom Helder Câmara, “Deixa-me acender cem vezes, mil vezes, um milhão de vezes de esperança que ventos perversos e fortes teimam em apagar. Que grande e bela profissão: acendedor de esperança”. Ecoando os pedidos de Francisco, “é tempo de olhar em frente com coragem e esperança. Que para isso, nos sustente a convicção de que habita na educação a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça; uma esperança de beleza, de bondade; uma esperança de harmonia social!”

Que sejamos assim: esperançosos. Que haja em nós disposição para acreditar em Deus, mesmo quando sua direção é inusitada!


Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH, professor de teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ) e membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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