O SERVIÇO DE JUSTIÇA, PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO (JPIC), ATRAVÉS DO SEU COORDENADOR, FREI MARX RODRIGUES DOS REIS, TEM A SATISFAÇÃO DE CONTAR COM A REFLEXÃO DE MAYARA INGRID SOUSA LIMA, BIÓLOGA , PROFESSORA DO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO E FRANCISCANA SECULAR, PARA CELEBRAR O DIA DA ÁGUA NESTE 22 DE MARÇO. CONFIRA!
Observando as realidades (Ver):
Não é a toa que Guilherme Arantes canta “Terra, planeta água”, afinal, em todo o extrato superficial, a água representa 70% da superfície terrestre. Na verdade, nós somos água, pois biologicamente um bebê de 0 a 2 anos possui de 75 a 80% de água no corpo, sendo esse elemento essencial para vida humana, toda criação e na manutenção da casa comum. Mas, mesmo a água sendo um bem comum tão importante, estima-se que cerca de 3 em cada 10 pessoas em todo mundo, ou 2,1 bilhões de pessoas, não tem acesso a água potável e disponíveis em casa, e 6 em cada 10 pessoas, ou 4,4 bilhões de pessoas, não tem acesso a saneamento gerido de forma segura, conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o UNICEF.
Muitos fatores corroboram para esse contexto, como ausência de políticas públicas regionais, nacionais e internacionais que favoreçam o acesso a água potável; a aceleração de um modelo econômico predatório, por exemplo, a agricultura no modelo de agronegócio baseado em monoculturas extensivistas, é a atividade que mais utiliza água em todo o mundo, totalizando um montante de 70%, em média, de toda a água consumida no planeta, em um cenário onde quase metade de toda a água empregada é desperdiçada; a contaminação dos corpos d’água superficiais e subterrâneos, como por exemplo, os danos diretos causados pela atividade mineradora, atividade que consome volumes extraordinários de água e gera uma série de impactos como o aumento da turbidez e consequente variação na qualidade da água, alteração do pH da água, tornando-a ácida, derrame de óleos e metais pesados (altamente tóxicos, com sérios danos aos seres vivos), redução do oxigênio nos ecossistemas aquáticos e assoreamento de rios; e claro, não podemos esquecer as políticas de privatização da água, em pequena e grande escala, que afeta principalmente as populações mais pobres, sem disponibilidade financeira para pagar por esse recurso, que deveria ser um bem comum!!
Iluminando nossa caminhada (Julgar):
Na mística do Cristianismo água é fonte de vida, recordamos que toda a criação do mundo começou com as águas: “A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas” (Gênesis 1,2) e era através da distribuição das águas que o israelita via a ação benéfica e justiceira de Deus. Francisco de Assis, lavando as mãos num riacho, escolhia o lugar para não ser forçado a pisar na água, esta irmã “mui útil e humilde e preciosa e casta” (CantS 7; LegPer 51). Mais recentemente a Encíclica Laudato Si atualiza e apresenta concretamente, “o acesso à água potável e segura como um direito humano essencial, fundamental e universal….” e ainda nos recorda que “este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável” (LS, 30). Por isso, Papa Francisco exalta que “a defesa da terra, a defesa da água, é a defesa da vida”!
Vamos construir, caminhando (Agir):
Por tudo isso, é urgente e necessário repensar novas formas de cuidado e acesso a água. Precisamos rever, de imediato, nosso modelo e forma de vida nesse planeta água, especialmente apresentando, em todos os níveis, das nossas pequenas comunidades até a esfera macro, modelos econômicos alternativos, pautados na economia solidária, justa e que promova equidade de acesso, inclusive a esse direito básico!
E cada um de nós pode contribuir nesse processo, com iniciativas individuais, repensando o desperdício de água e promovendo estratégias de reutilização desse recurso. Entretanto, precisamos ter consciência que somente essas iniciativas pessoais, de longe, não são suficientes, considerando que precisamos pensar coletivamente! Nesse momento, a participação efetiva em organizações e movimentos nacionais e internacionais, que pautam alternativas ao modelo socioeconômico atual é fundamentalmente importante e necessário, bem como articulações locais e regionais, que incluem os conselhos municipais (com participação da sociedade civil) dos serviços de água e saneamento básico; as articulações para discussões dos planos de gestão municipais; e todas as iniciativas corajosas da Igreja Católica, de maneira particular das(os) franciscanas e franciscanos articulados no Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação, pois Água não é mercadoria, mas fonte de Vida!
Mayara Ingrid Sousa Lima, Bióloga e Professora do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão;
Franciscana professa na Ordem Franciscana Secular.