As duas árvores: a do Paraíso e a do Gólgota
Sempre de novo temos a ganhar quando contemplamos com as entranhas de nós mesmos a cena da crucifixão de Jesus. Mais exatamente quando vemos aquele que ficou suspenso do lenho. Aquele que encharcou a madeira da cruz com seu sangue. Aquele Jesus do peito dilacerado. Um Deus que morre de amor e derrama a última gota de seu sangue, do sangue divino-humano, para que o mundo viva e viva em plenitude. Nossa meditação desta primeira sexta-feira do mês será inspirada em admirável página de São Teodoro Estudita (Constantinopla 759 – Bitínia 826). Frei Almir Guimarães
A cruz, uma árvore diferente
No paraíso havia aquela árvore do bem do mal. No Calvário se eleva uma outra árvore:
“Ó precioso dom da cruz! Vede o esplendor de sua forma. Não mostra apenas uma imagem mesclada de bem e de mal como aquela árvore do Paraíso, mas totalmente bela e magnífica para a vista e o paladar”.
Uma árvore que dá vida
“É uma árvore que não gera a morte, mas a vida, que não difunde as trevas, mas a luz; que não expulsa do paraíso, mas nele introduz. A esta árvore subiu Cristo, como um rei que sobre num carro triunfal, e venceu o demônio, detentor do poder da morte, para libertar o gênero humano da escravidão do tirano. Sobre esta árvore o Senhor, como um valente guerreiro, ferido durante o combate em suas mãos, nos pés e em seu lado divino, curou as chagas de nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa.
Em vez de morte, a árvore da cruz nos é dá a vida
“Se antes, pela árvore fomos mortos, agora, pela árvore, recuperamos a vida; se antes pela árvore, fomos enganados, agora, pela árvore, repelimos a astúcia da serpente. Sem dúvida, novas extraordinárias mudanças! Em vez da morte, nos é dada a vida; em lugar da corrupção, a incorrupção, da vergonha a glória”.
Somos dos que se gloriam da cruz
“Não é sem razão que o Apóstolo exclama: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim e eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14). Pois aquela suprema sabedoria que floresceu na cruz, desmascarou a presunção e a arrogante loucura da sabedoria do mundo; toda a espécie de bens maravilhosos que brotaram da cruz extirparam inteiramente a raiz da maldade e do pecado”.
Assim a morte foi destruída
E fomos destinados às moradas celestes: “Pela cruz, a morte foi destruída e Adão recuperou a vida. Pela cruz, todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados e todos os que creem santificados. Pela cruz fomos revestidos de Cristo ao despojarmos do homem velho. Pela cruz, nós, ovelhas de Cristo, fomos reunidos num só rebanho e destinados às moradas celestes”.
Responsório
Ó árvore nobre plantada no meio do Jardim do Senhor.
Em ti pelo Cristo, a morte de todos foi morta.
Tu és a mais alta de todos os cedros que existem nas matas.
Texto:
Dos Sermões de São Teodoro Estudita
Liturgia das Horas II, p.609-611