“Bem o sabe a espada do soldado!”
Estamos vivendo uma crise hídrica. No linguajar cotidiano era pouco conhecido esse adjetivo de origem grega “hídrico”, hoje empregado a todo momento. De fato, fala-se muito de água. E com razão. Grande parte de nosso país está diante do fantasma da falta de água e, devido à falta de água para movimentar as hidrelétricas, está diante também do racionamento de energia elétrica. De modo especial penam as indústrias e, com isso, o PIB brasileiro marca passo ou vai para trás. Como será nosso amanhã? Andamos descuidando demais de muitas coisas. Não tivemos o devido cuidado com nossa irmã água, tão casta e pura, no dizer de Francisco de Assis.
Nesta primeira sexta-feira de março possa ajudar nossa reflexão e nossa oração um texto luminoso de Tertuliano que viveu no final do século II e começos do século III. Todo o discurso desse cristão da África é uma meditação sobre o Espírito e a água. Interessa-nos, nesse quadro da primeira sexta-feira, as afirmações a respeito de Cristo e da água:
“Quanta graça tem a água junto de Deus e de seu Cristo na instituição do batismo! Jamais vemos o Cristo sem a água! Ele mesmo se deixa batizar na água. Chamado às bodas de Caná é com a água que inaugura a manifestação de seu poder. Quando prega, convida os que têm sede a beber de sua água eterna. Quando fala da caridade, aprova entre as obras de amor, o copo d’água oferecido ao próximo. Junto a um poço restaura as suas forças. Caminha sobre a água, atravessando-a livremente. Serve-a aos discípulos. Até em sua paixão prossegue o testemunho do batismo: pois a água está presente – sabem-no as mãos de Pilatos – quando é condenado á cruz. E ao ser traspassado – bem o sabe a espada do soldado – jorra água de seu lado” (Lecionário Monástico I, p.513).
Os grandes simbolismos da água penetram nossa espiritualidade: a água que mata a sede, a água fonte de vida e alimentadora da vida, a água que purifica. Os verdadeiros buscadores de Deus são pessoas que sempre experimentam necessidade de Deus, sede de Deus. Nascemos do seio da mãe onde nadávamos em água. Renascemos pelas águas do batismo. Temos urgência de nos colocar sob a cruz de Jesus, como indivíduos e como comunidade, para deixar que o amor extremo manifeste na última gota de água e de sangue nos purifique. Que esse banho da água do peito aberto renove nossa vida. A espada do soldado ficou sabendo que jorrava água do peito do Senhor.
Frei Almir Ribeiro Guimarães